Estratégia ousada ou risco bilionário?
A ofensiva da Meta para montar sua divisão de Superintelligence Labs — com mais de US$ 1,4 bilhão em pacotes de remuneração — provocou reações divididas entre analistas e especialistas do setor. Para alguns, a estratégia é um passo necessário para a empresa reduzir a vantagem de concorrentes como OpenAI, Anthropic e Google DeepMind. Outros, no entanto, veem risco elevado e retorno ainda incerto.
Barton Crockett, da Rosenblatt Securities, questiona se os altos valores são justificáveis no curto prazo, ressaltando que apenas um número restrito de posições deve, de fato, alcançar cifras bilionárias. Gil Luria, do D.A. Davidson, argumenta que apenas infraestrutura não basta — é preciso montar a equipe certa para transformar a capacidade computacional em vantagem competitiva real.
Já Minda Smiley, analista da eMarketer, afirma que os executivos da Meta devem enfrentar questionamentos de investidores na próxima apresentação de resultados, especialmente após a reorientação estratégica da empresa e a redução de recursos aplicados no metaverso.
Na visão de lideranças do próprio setor de IA, o cenário é igualmente complexo. Demis Hassabis, CEO da DeepMind, considera as ações da Meta “racionais” para uma empresa que tenta alcançar o pelotão de frente, mas destaca que alinhamento de missão e cultura organizacional continuam sendo fatores decisivos para atrair e reter talentos.
Michael Dell, fundador da Dell, alerta para os efeitos colaterais internos. Para ele, pacotes bilionários para recém-chegados podem gerar ressentimento entre funcionários antigos e desviar o foco das metas de produto. Já Dario Amodei, CEO da Anthropic, elogiou a recusa coletiva de sua equipe às ofertas da Meta, descrevendo o episódio como um “momento unificador” que demonstra como valores, cultura e propósito não são itens negociáveis — mesmo diante de cifras históricas.
Segundo analistas do Bank of America, os comentários recentes de Zuckerberg indicam aumento nas despesas operacionais e de capital nos próximos trimestres. Há uma expectativa de que a Meta revise para cima suas projeções de custo, especialmente se continuar investindo agressivamente em talentos e infraestrutura. Já a Cantor Fitzgerald avalia que o impacto no balanço geral de 2025 pode ser pequeno, considerando o porte e a liquidez da companhia.
No entanto, independentemente da pressão por resultados, analistas convergem em um ponto: a Meta precisará demonstrar entregas concretas e avanços tangíveis para justificar o investimento bilionário em sua nova divisão de IA. O sucesso da empreitada, para eles, dependerá não apenas dos nomes recrutados, mas da capacidade de transformar poder de compra em inovação sustentável.