Inteligência Artificial

O plano da China para ser "um livro aberto" na inteligência artificial

Abordagem envolve colaboração entre gigantes nacionais para evoluir tecnologias mais rapidamente que os EUA

Donald Trump e Xi Jinping, presidentes de EUA e China, respectivamente (Brendan Smialowski/Getty Images)

Donald Trump e Xi Jinping, presidentes de EUA e China, respectivamente (Brendan Smialowski/Getty Images)

Publicado em 4 de agosto de 2025 às 13h14.

No final de julho, EUA e China divulgaram seus planos de ação para liderar o desenvolvimento global de inteligência artificial. Apesar da competição entre as duas potências – e suas empresas –, chama a atenção o fato de ambos destacarem a importância da abordagem aberta para o futuro da tecnologia.

No plano divulgado pelo presidente Donald Trump, muitos se surpreenderam ao ver que “incentivar IA de código aberto e com pesos abertos” foi destacado como uma das prioridades da administração. Com isso, a Casa Branca transforma a abordagem sobre a IA de uma questão meramente técnica em uma de preocupação nacional urgente.

Essa mudança ocorre em um contexto de crescente oferta de modelos abertos por parte de empresas chinesas, como Baidu, HuaweiAlibaba e Xiaomi, que buscam, com isso, expandir sua base de clientes e aumentar seu soft power ao redor do globo. Nesse sentido, o plano chinês, divulgado logo após o norte-americano, ratifica uma abordagem que já vem sendo adotada por suas empresas.

A disputa entre abordagens

Em janeiro, o lançamento do DeepSeek-R1, um modelo de linguagem de código aberto da China, causou um grande impacto global. Sem grandes eventos de lançamento ou demostrações chamativas, ele foi disponibilizado com “pesos abertos” e ciência aberta, permitindo que qualquer desenvolvedor com os recursos necessários pudesse usar ou adaptar o modelo.

Em poucas horas, pesquisadores começaram a experimentar com ele e, em poucos dias, o modelo se tornou o mais curtido de todos os tempos na Hugging Face – uma plataforma que hospeda IAs de código aberto – com milhares de variantes criadas e adotadas por empresas de tecnologia e startups, incluindo aquelas localizadas nos EUA.

Segundo Clément Delangue, confudador e CEO da Hugging Face, o impacto foi tão grande que, pela primeira vez, a tecnologia de IA norte-americana estava sendo construída sobre bases chinesas. Ao mesmo tempo, enquanto os modelos chineses de código aberto estão crescendo, empresas dos EUA, como OpenAI, Anthropic e Google, têm se afastado dessa abordagem.

Hoje, modelos avançados como GPT-4, Claude e Gemini só estão disponíveis por meio de APIs e interfaces fechadas. Ou seja, usuários podem interagir com esses modelos, mas não têm acesso ao código-fonte ou à possibilidade de modificá-los. Para Delangue, essa mudança representa um retrocesso significativo.

Entre 2016 e 2020, os EUA foram líderes globais em IA de código aberto, com contribuições de empresas como Google e OpenAI. O fechamento dos modelos do país apresenta riscos para a inovação. Tecnologias abertas aceleram a experimentação, reduzem barreiras e geram inovação contínua.

Em contraste, modelos fechados dependem de pesquisas abertas para se desenvolverem. Isso cria um obstáculo para o progresso global da tecnologia, uma vez que o desenvolvimento de IA em código aberto promove transparência, inovação e adaptações personalizadas para diferentes necessidades, sem a dependência de grandes fornecedores.

Com mais apoio público e político para IA de código aberto, como demonstrado pelo plano de ação dos EUA, há, de acordo com Delangue, uma oportunidade de reiniciar o movimento descentralizado que pode garantir a liderança norte-americana nesse setor. Para isso, a comunidade de IA do país precisa abraçar a ciência aberta e recuperar sua liderança na inovação. A pioneira OpenAI, por exemplo, parece ter entendido isso e estar indo nessa direção.

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