ChatGPT: empresa ainda não tem capital aberto, mas movimenta os mercados (NurPhoto / Colaborador/Getty Images)
Repórter
Publicado em 7 de outubro de 2025 às 05h59.
Última atualização em 7 de outubro de 2025 às 09h27.
No início de outubro, enquanto o mercado ainda digeria os últimos balanços trimestrais e as incertezas macroeconômicas seguiam como uma preocupação latente, uma startup já conhecida pelo público sacudiu as estruturas do Vale do Silício e de Wall Street.
Na semana passada, a OpenAI, criadora do ChatGPT, atingiu a marca de US$ 500 bilhões em valor de mercado, superando a SpaceX, de Elon Musk, como a startup mais valiosa do planeta.
Mas o valuation recorde não foi um caso isolado. Nas últimas semanas a OpenAI passa por uma onda de boa sorte — e bons investimentos.
A Nvidia anunciou um compromisso de até US$ 100 bilhões com a empresa, o que deve sustentar a expansão de infraestrutura necessária para treinar novos modelos de IA e abastecer data centers.
O movimento foi visto por analistas como uma validação do crescimento de longo prazo de ambas as companhias, embora tenha gerado alertas sobre riscos de circular financing — quando o dinheiro investido volta ao investidor como receita, via fornecimento de chips.
Já a AMD assinou um acordo com a OpenAI que pode render dezenas de bilhões de dólares em novos contratos.
A notícia fez as ações da fabricante de semicondutores dispararem até 38% — a maior alta intradiária desde 2016 — e reverberou em toda a indústria, derrubando papéis de concorrentes como Nvidia e Broadcom.
A OpenAI, embora não seja uma empresa de capital aberto, tem sido responsável por movimentações nos mercados.
Segundo Kevin Cook, estrategista sênior da Zacks Investment Research, “a OpenAI será lembrada como uma das empresas mais influentes da transformação da IA”. “É certamente uma situação incomum para uma empresa privada causar tanto impacto”, disse ele ao Yahoo Finance.
Para Tim Ghriskey, estrategista da gestora Ingalls & Snyder, os investidores acompanham de perto cada passo da companhia.
“Mesmo que não possamos investir diretamente na OpenAI, cada movimento da empresa serve como sinal para avaliarmos o cenário competitivo”, afirmou ele à Bloomberg. A gestora administra cerca de US$ 10,5 bilhões em ativos.
Karl Keirstead, analista do UBS, afirmou à Bloomberg que o mercado já vê a OpenAI como um agente de disrupção.
“Os investidores de software e internet estão altamente focados em para onde a OpenAI irá em seguida e o quão disruptiva ela pode ser”, afirma.
Recentemente, o anúncio de uma função de compra instantânea no ChatGPT levou ações da Shopify e Etsy a subirem de forma agressiva.
Em contrapartida, o detalhamento das ferramentas internas de automação levou à queda de empresas como Atlassian, Klaviyo e DocuSign. Um índice do Goldman Sachs que reúne ações de empresas de software-as-a-service registrou queda de 3,3%, a pior em dois meses.
Analistas do Bank of America, liderados por Brad Sills, avaliam que a reação negativa é mais emocional do que fundamentada.
“Mesmo que as ameaças da OpenAI pareçam exageradas, os investidores não estão esperando para ver”, diz Sills. Para ele, “as reações negativas dos papéis parecem desconectadas dos fundamentos, mas refletem o novo grau de sensibilidade do mercado à movimentação da empresa”.
O compromisso de US$ 100 bilhões com a OpenAI posiciona a Nvidia no centro da infraestrutura de IA da próxima geração.
Matt Britzman, da Hargreaves Lansdown, diz que a aliança protege o protagonismo da empresa em chips. “Garantir a OpenAI como parceira estratégica assegura que as GPUs da Nvidia permaneçam como base da infraestrutura de IA da próxima geração”, afirma. “O mercado é grande o suficiente para vários players, mas a Nvidia ainda dita o ritmo”, completa.
Já Anshel Sag, da consultoria Moor Insights & Strategy, considera que o acordo reforça a visão de longo prazo da companhia.
“É a validação dos números de crescimento da Nvidia e permite à OpenAI escalar para clientes ainda maiores”, diz.
Mas nem toda Wall Street viu o acordo com bons olhos. Stacy Rasgon, da Bernstein Research, alertou à Bloomberg que a transação pode refletir uma "economia circular", onde os investimentos entre as empresas se tornam excessivamente dependentes uma da outra, sem retorno financeiro efetivo.
Segundo a analista, o tamanho do investimento na OpenAI "parece superar todos os outros". Em nota ao mercado, ela afirmou que os US$ 100 bilhões "provavelmente intensificarão as preocupações mais do que vimos anteriormente e (talvez justificadamente) levantarão questões sobre a justificativa por trás dessa ação".
Para Rasgon, o investimento da Nvidia pode ser visto como um financiamento "auto-referencial", uma vez que as duas empresas já estão intimamente ligadas no ecossistema de IA.
Daniel O'Regan, da Mizuho Securities, também abordou o investimento de maneira crítica, sugerindo que, apesar de o sentimento no mercado ser geralmente positivo, existe a preocupação de que o acordo possa ser visto como um financiamento de fornecedor, em vez de um investimento estratégico robusto. No entanto, a transação foi amplamente positiva para as ações da Nvidia, que registraram um aumento de 2,61% no pré-mercado após o anúncio.
Além da Nvidia, a AMD também firmou um contrato estratégico com a OpenAI.
O acordo pode render dezenas de bilhões de dólares em novos contratos, segundo fontes ouvidas pela Bloomberg.
A parceria envolve o fornecimento de chips personalizados para inteligência artificial, marcando um avanço significativo da AMD em um setor onde tradicionalmente vinha atrás da Nvidia.
O anúncio fez as ações da AMD dispararem até 38%, registrando sua maior alta intradiária desde abril de 2016, e impulsionou uma reavaliação do papel da empresa no ecossistema de IA.
Segundo a Bloomberg, o contrato também garante à AMD uma opção de participação acionária de até 10% na OpenAI, ampliando a relação entre as duas companhias além do fornecimento de hardware.
A movimentação foi interpretada como uma tentativa da OpenAI de diversificar sua dependência de fornecedores de chips de IA, até então centrada na Nvidia.
Essa mudança estratégica pode representar uma nova frente de competição na indústria, com a AMD ganhando espaço em um mercado cada vez mais disputado.
O impacto da aliança também se espalhou pelo setor: ações da Nvidia e da Broadcom caíram após a notícia, refletindo a preocupação dos investidores com a entrada mais agressiva da AMD nesse mercado específico.
Para analistas, o movimento fortalece a posição da AMD como uma fornecedora relevante na corrida por infraestrutura de IA. Embora ainda distante da Nvidia em market share, a empresa vem aumentando seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento de chips voltados a modelos de linguagem de grande escala — o que a aproxima dos requisitos exigidos por empresas como a OpenAI.
Com uma base de 700 milhões de usuários semanais e mais de 3 milhões de clientes empresariais pagantes, a OpenAI é hoje um dos centros gravitacionais do setor de tecnologia, mesmo sem ações listadas em bolsa. Segundo analistas, a empresa já movimenta o mercado como uma big tech tradicional, mesmo sem nunca ter feito um IPO.
O consenso é que, listada ou não, a OpenAI já atua como uma força dominante na nova economia da inteligência artificial — e uma mina de ouro.