John Harrington, da Nokia: alerta para o esgotamento da capacidade dos cabos submarinos com o avanço da IA
Repórter
Publicado em 29 de outubro de 2025 às 07h35.
*LISBOA | O avanço da inteligência artificial exige cada vez mais infraestrutura de rede e já pressiona o sistema de cabos submarinos, que interligam continentes e sustentam o tráfego de dados em larga escala. Segundo John Harrington, vice-presidente executivo de infraestrutura de rede da Nokia para Europa, Oriente Médio, África e Ásia-Pacífico, 72% dos cabos já operam próximos do esgotamento.
A fala foi feita nesta terça-feira, 29, durante o Atlantic Convergence, evento de tecnologia realizado em Lisboa, Portugal, pela empresa de infraestrutura DE-CIX. Harrington destacou que entre 80% e 90% do tráfego internacional de dados já ocorre entre data centers, os centros de processamento e armazenamento de dados que sustentam a computação em nuvem e os modelos de IA generativa.
Essa pressão sobre a infraestrutura está relacionada à chamada inferência em IA — o uso prático de modelos treinados —, que vem sendo deslocada para mais perto do usuário final. Isso exige redes mais rápidas e seguras, com menor latência e maior capacidade de processamento distribuído, incluindo o uso de edge computing, ou computação na ponta.
A Nokia diz estar investindo em redes “seguras contra a era quântica”, por meio de criptografia pós-quântica e distribuição quântica de chaves, além de automação orientada por eventos e gêmeos digitais que simulam ambientes de rede antes que mudanças sejam aplicadas.
Outro ponto da fala de Harrington que chama atenção é o uso de tecnologias de detecção em fibra óptica terrestre, inspiradas nas técnicas dos cabos submarinos, para identificar cortes ou interferências físicas na rede.
Além disso, o executivo destacou que 39% das falhas em centros de dados ainda são causadas por erro humano, segundo estudos do Uptime Institute, consultoria especializada em infraestrutura crítica. Isso reforça a necessidade de automatização, especialmente com comandos em linguagem natural, que reduzem a dependência de operadores especializados.
A Nokia também revelou parcerias estratégicas com empresas como Microsoft, Supermicro e Nscale — esta última uma provedora emergente de serviços de GPU como serviço (GPU as a service). A fabricante finlandesa, que já investe na Nscale, também recebeu aporte da norte-americana Nvidia, num movimento que evidencia a crescente integração entre fabricantes de hardware, hyperscalers e operadoras de rede.
Para o futuro, o executivo defende uma maior abertura nas redes, com padrões abertos e integração entre equipamentos de diferentes fornecedores. “A conectividade entre continentes é, em 90% dos casos, de um data center a outro. E estamos ficando sem capacidade”, disse.
O jornalista viajou a convite da empresa DE-CIX.