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Como clubes de futebol da Premier League faturam milhões e seguem endividados?

Entenda quais clubes mais faturam, quais acumulam maiores dívidas e os motivos por trás desse cenário

A última temporada (2024/25) teve vinte times, com o Liverpool se tornando campeão depois de anos vendo o Manchester City dominar quase tudo. (Clive Brunskill/Getty Images)

A última temporada (2024/25) teve vinte times, com o Liverpool se tornando campeão depois de anos vendo o Manchester City dominar quase tudo. (Clive Brunskill/Getty Images)

Luanda Moraes
Luanda Moraes

Colaboradora

Publicado em 5 de setembro de 2025 às 18h11.

Os clubes da Premier League faturaram £6,3 bilhões na temporada 2023/24, segundo relatório da consultoria Deloitte. Para ter uma ideia do que isso significa, com esse valor daria para comprar todos os clubes da primeira divisão brasileira. Apesar disso, esses mesmos times ingleses acumulam dívidas que chegam a £4,7 bilhões, quase o mesmo valor que ganharam em um ano.

É exatamente esse paradoxo que tem marcado não só a liga inglesa como também a indústria do futebol, em que gastar mais do que se ganha virou parte do modelo de negócio para se manter competitivo. O resultado? Um ciclo sem fim em que novas receitas mal cobrem dívidas antigas, enquanto novos gastos criam mais endividamento.

Ranking de dívidas dos clubes

As dívidas de futebol na Inglaterra são enormes, sendo que os cinco clubes que mais devem impressionam pelos valores. No topo do ranking está o Everton, com £1 bilhão em dívida bruta — montante relacionado, em grande parte, à construção do novo estádio às margens do Rio Mersey, em Liverpool.

Na segunda posição aparece o Tottenham Hotspur, que deve £851 milhões, valor ligado ao financiamento da arena inaugurada em 2019.

O Manchester United surge em terceiro lugar, com uma dívida de £547 milhões. Boa parte desse valor remonta à aquisição do clube pela família Glazer em 2005, quando o próprio United foi usado como garantia do empréstimo.

Em quarto, está o Arsenal, devendo £342 milhões, seguido pelo Liverpool, em quinto, com £314 milhões. Ambos carregam dívidas associadas à modernização de suas estruturas e custos operacionais.

Na sequência vêm o Chelsea, com £303 milhões, e o Brighton, que deve £300 milhões, completando a lista dos sete clubes mais endividados.

PosiçãoClubeDívida Bruta (£ milhões)
1Everton£1.000
2Tottenham Hotspur£851
3Manchester United£547
4Arsenal£342
5Liverpool£314
6Chelsea£303
7Brighton£300

Ranking de faturamento

Embora tenham dívidas enormes, o faturamento dos times ingleses é igualmente gigantesco. O topo da lista é ocupado pelo Manchester City, com receita de £715 milhões por ano, tendo como principais fontes a TV, os patrocínios e a bilheteria milionária.

Na sequência está o Manchester United, faturando £662 milhões, mesmo sem conquistar títulos importantes há alguns anos.

Por sua vez, Liverpool e Arsenal vêm quase empatados com £614 milhões e £613 milhões cada um. O Tottenham, apesar de ser um dos mais endividados da liga, conseguiu faturar £528 milhões por ano, seguido de perto pelo Chelsea, com £513 milhões.

Vale destacar que esses números gigantescos só existem porque os clubes mais ricos da Premier League vendem seus jogos para o mundo inteiro. Enquanto o futebol brasileiro depende principalmente do mercado interno, os ingleses têm contratos de TV com países da Ásia, África, Américas e Oceania, multiplicando assim suas receitas.

PosiçãoClubeReceita (£ milhões)
1Manchester City715
2Manchester United662
3Liverpool614
4Arsenal614
5Tottenham Hotspur528
6Chelsea513
7Aston Villa388
8Newcastle United364
9West Ham United335
10Brighton & Hove Albion313

Por que os clubes da Premier League acumulam dívidas?

Uma das principais fontes de gastos são os estádios, que custam fortunas. Somente na última temporada, os clubes gastaram milhões construindo e reformando seus estádios. A ideia por trás desse investimento é gerar mais receita com ingressos caros e camarotes.

Ao mesmo tempo, comprar jogadores custa muito caro. Quando os times anunciam a contratação de um craque, por trás da festa estão as letras pequenas que explicam como aquele valor será pago em várias parcelas ao longo dos anos. Adiciona à lista também os salários enormes dos atletas.

Por fim, mas não menos importante, está o fato de que nenhum clube quer cair para a segunda divisão. Quem cai pode perder até £100 milhões de receita de TV e, exatamente por isso, times ameaçados preferem se endividar a correr o risco de serem rebaixados.

Valor de mercado não significa dinheiro em caixa

Um ponto importante quando o assunto é mercado de futebol tem relação com ter dinheiro disponível na hora. Quando falam que o Manchester United vale £5 bilhões, isso inclui o estádio, os jogadores, a marca e contratos futuros. Entretanto, nada disso vira dinheiro na hora.

A questão é que os clubes precisam pagar salários toda semana e fornecedores todo mês, mas seus bens estão "presos". Não podem vender o estádio para pagar salários, nem vender todos os jogadores de uma vez. Além disso, o dinheiro que recebem de transmissão chega parcelado ao longo da temporada.

É exatamente por causa dessa falta de sincronia que se torna comum ver clubes gigantescos com problemas de fluxo de caixa. Um exemplo claro disso é o caso do Chelsea, que já teve que receber empréstimos do então dono russo para pagar algumas despesas referentes a contratações e infraestrutura, mesmo sendo um dos clubes mais valiosos do mundo.

Algum clube da Premier League é SAF?

No Brasil, a Sociedade Anônima do Futebol (SAF) é um modelo criado pela Lei nº 14.193/2021, que permite transformar clubes de futebol em empresas com estrutura de sociedade, visando atrair investimentos e profissionalizar a gestão. Como se trata de uma lei brasileira, não se aplica ao futebol inglês.

Na Inglaterra, por outro lado, os clubes já funcionam como empresas privadas, sendo que a maioria pertence a bilionários ou fundos de investimento. A exceção fica por conta do Manchester United, que tem ações na Bolsa de Nova York, onde qualquer pessoa pode comprar participações. O Tottenham também possui ações, mas são negociadas em mercado alternativo com pouco movimento.

Vale destacar ainda que o futebol inglês já está avançado em uma mudança que vem ganhando força. Na última temporada, metade dos clubes da Premier League fazia parte de grupos que controlam vários times ao redor do mundo. Um exemplo é o City Football Group, dono do Manchester City, que possui clubes em dez países, incluindo o Brasil, com o Bahia.

O objetivo desses grupos é buscar lucro através do trabalho conjunto entre clubes, compartilhando jogadores, conhecimento e reduzindo custos.

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