Para quem busca maneiras de investir em futebol atualmente, as opções incluem ações dos clubes internacionais listados, fundos especializados em esportes ou aguardar o desenvolvimento do mercado brasileiro. ( Stu Forster/Getty Images)
Publicado em 25 de junho de 2025 às 17h51.
Última atualização em 25 de junho de 2025 às 18h31.
O Mundial de Clubes FIFA 2025 está movimentando não apenas os gramados americanos, mas também despertando a curiosidade sobre uma possibilidade interessante. Com gigantes europeus e sul-americanos em campo, surge a pergunta: seria possível investir financeiramente nesses times? A resposta revela um cenário promissor que mistura esporte, negócios e mercado, onde alguns participantes da competição já são verdadeiras empresas de capital aberto.
O universo dos investimentos no futebol ganhou novos contornos com a profissionalização da gestão dos clubes. Internacionalmente, algumas instituições já operam há décadas como sociedades anônimas ou empresas de capital aberto, especialmente na Europa, onde estruturas corporativas permitem captação de recursos no mercado de capitais.
No Brasil, esse movimento se consolidou com as Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs), modelo jurídico criado pela Lei nº 14.193/2021 que permite transformar clubes tradicionais em empresas com fins lucrativos. A SAF separa as atividades do futebol profissional das demais atividades sociais do clube.
A estrutura funciona como uma empresa comum, com conselho de administração, diretoria e conselho fiscal, garantindo transparência e responsabilidade na gestão. Os investidores que compram ações se tornam sócios efetivos, participando dos lucros e perdas do negócio. Dependendo da quantidade de ações adquiridas, podem exercer poder de voto nas decisões estratégicas. O clube original pode manter uma "golden share", preservando poder de veto mesmo sem ser acionista majoritário.
O modelo vem ganhando força no Brasil com a adesão de clubes tradicionais. Cruzeiro, Vasco e Botafogo já se tornaram SAFs, atraindo grandes investidores como Ronaldo Fenômeno, o grupo 777 Partners e John Textor. Mais recentemente, Ronaldo manifestou interesse em adquirir a SAF do Corinthians, caso o clube opte pela mudança de modelo. Para o ex-jogador, essa seria a única saída viável para superar a crise financeira e administrativa enfrentada atualmente.
Atualmente, não é possível investir em clubes brasileiros na bolsa de valores. Nenhum time nacional realizou oferta pública inicial (IPO) na B3, a bolsa brasileira. Apesar disso, com a criação das SAFs, os clubes podem se transformar em empresas com governança corporativa, abrindo caminho para futuros IPOs.
A ausência de times de futebol na bolsa de valores brasileira se deve a diversos obstáculos estruturais. A maioria dos clubes ainda opera como associações sem fins lucrativos, com gestão pouco profissionalizada que não atende às exigências da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
As principais exigências da CVM para abertura de capital incluem:
A falta de governança corporativa é um dos entraves mais significativos. Muitos clubes apresentam alta rotatividade na gestão e conselhos administrativos tradicionais, gerando instabilidade e desconfiança no mercado de investimentos.
O endividamento elevado também dificulta o processo. Diversos clubes acumulam dívidas, inclusive com impostos atrasados, dependendo da venda de jogadores para equilibrar as contas. Essa situação compromete a sustentabilidade financeira necessária para um IPO.
O Borussia Dortmund foi o primeiro clube esportivo alemão de capital aberto, lançando ações em outubro de 2000. Atualmente, suas ações são negociadas na bolsa de Frankfurt por meio da estrutura Borussia Dortmund GmbH & Co. KGaA. No Mundial, o time ainda busca classificação para as oitavas, enfrentando o Ulsan Hyundai.
A Juventus também foi pioneira ao abrir o capital em 2001, captando cerca de US$ 128,6 milhões na bolsa italiana, operando como Juventus Football Club S.p.A. No torneio, o clube avança para as oitavas, depois de ter entrado para o Mundial por meio da classificação da UEFA.
O Benfica realizou seu IPO em 2007, quando a Benfica SAD abriu o capital na bolsa portuguesa, estratégia para recuperar o lado financeiro. O clube chegou ao Mundial via ranking da UEFA e já está classificado para as oitavas de final, liderando o Grupo C ao vencer o Bayern de Munique por 1 a 0.
Embora estejam fora do Mundial, diversos outros clubes internacionais operam como empresas de capital aberto:
O Botafogo representa o maior caso de sucesso do modelo SAF no Brasil e demonstra como a profissionalização pode abrir caminho para futuros investimentos em clubes na bolsa de valores. O clube carioca se transformou em Sociedade Anônima do Futebol em março de 2022, quando o empresário John Textor adquiriu 90% das ações, mantendo o Botafogo Social com os outros 10%.
A transformação financeira vem sendo impressionante. Depois de receber investimentos próximos de R$ 1 bilhão em três anos, o Botafogo teve crescimento de 210% no valuation, sendo avaliado em R$ 1,85 bilhão e tornando-se o clube que mais cresceu no país em 2024, de acordo com a pesquisa do Sports Value.
O sucesso esportivo tem acompanhado a evolução financeira. O clube conquistou a Copa Libertadores da América, garantindo classificação para o Mundial de Clubes. Na competição atual, já está nas oitavas de final como segundo colocado do Grupo B, mesmo ao perder para o Atlético de Madrid. Na próxima fase, enfrentará outro brasileiro, o Palmeiras, líder do Grupo A.
Com gestão profissionalizada, governança transparente e resultados consistentes dentro e fora de campo, o Botafogo pode ser candidato natural a um futuro IPO na B3.
O presidente da B3, Gilson Finkelsztain, já sinalizou o interesse da bolsa no setor futebolístico. Em setembro de 2024, ele afirmou que "o mercado de capitais vai ser uma peça importante de ajuda ao mundo do futebol para levar profissionalismo e governança".
Finkelsztain destacou que as oportunidades vão além das ações. "Tem muito para aproximar do mercado de capitais em dívida, emissões de renda fixa, notas comerciais ou debêntures", disse o executivo, durante o 3º Seminário Brasileiro sobre Futebol, a lei da SAF e o Mercado de Capitais.
Para quem busca como investir em futebol atualmente, as opções incluem ações dos clubes internacionais listados, fundos especializados em esportes ou aguardar o desenvolvimento do mercado brasileiro — que já apresenta sinais de prontidão.