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O que acontece quando a Bolsa de Valores quebra?

Entenda o que realmente acontece quando a Bolsa de Valores quebra, como isso afeta seus investimentos e o que fazer para se proteger de um crash do mercado

O impacto de uma crise financeira vai muito além dos pregões, já que, quando a queda da bolsa de valores persiste, as empresas perdem valor de mercado e enfrentam dificuldades para captar recursos. (Getty Images/Getty Images)

O impacto de uma crise financeira vai muito além dos pregões, já que, quando a queda da bolsa de valores persiste, as empresas perdem valor de mercado e enfrentam dificuldades para captar recursos. (Getty Images/Getty Images)

Luanda Moraes
Luanda Moraes

Colaboradora

Publicado em 29 de julho de 2025 às 18h14.

Última atualização em 29 de julho de 2025 às 18h31.

Em outubro de 2008, investidores brasileiros acompanharam atônitos o Ibovespa acionar seis circuit breakers em um único mês — mecanismo que suspende temporariamente as negociações diante de quedas bruscas. O episódio, contudo, não foi um caso isolado: desde 1929, o mundo já enfrentou pelo menos cinco grandes colapsos financeiros.

Em momentos como esses, é comum que muita gente acredite que vai perder todo o seu capital de uma hora para a outra. A realidade, entretanto, é mais complexa. Situações de crash exigem do investidor discernimento para conter o pânico e, com equilíbrio e conhecimento, preservar seu patrimônio.

O que significa a quebra da Bolsa de Valores?

Quando especialistas falam em quebra da Bolsa de Valores, estão se referindo a uma queda abrupta e generalizada nos preços das ações. O termo técnico mais usado é crash do mercado – palavra emprestada do inglês que significa literalmente "colisão" ou "colapso". É como se todos os investidores decidissem vender suas ações ao mesmo tempo, criando um desequilíbrio brutal entre oferta e demanda.

Para ser considerado um crash, geralmente observa-se uma queda de dois dígitos percentuais em poucos dias. Não é uma simples oscilação de 2% ou 3% que registram no dia a dia, mas, sim, variações de 10%, 20% ou até mais, concentrados em questão de horas ou dias.

Vale destacar que o crash não acontece do nada. Normalmente, é precedido por uma combinação de fatores como economia superaquecida, inflação em alta, especulação desenfreada e pânico coletivo.

O que acontece com as ações quando a bolsa quebra?

A pergunta que tira o sono de investidores iniciantes: você perde tudo quando a bolsa quebra? A resposta curta é não, mas há nuances importantes a considerar. Suas ações continuam existindo, o que muda drasticamente é seu valor de mercado.

Pense que, se você comprou ações de uma empresa por R$ 100 e o mercado entra em colapso, elas podem passar a valer R$ 50, R$ 30 ou até menos. Contudo, você ainda possui o mesmo número de papéis. A perda só se concretiza quando você vende em meio ao pânico. É a diferença entre perda no papel e perda realizada.

O problema surge quando o investidor precisa do dinheiro justamente durante a crise. Nesse cenário, não há escolha senão vender com prejuízo. Por outro lado, quem consegue manter a calma e não precisa do capital imediatamente pode aguardar a recuperação – algo que já ocorreu em diversas crises anteriores, embora os prazos e resultados variem bastante.

Se a bolsa se recuperar, você pode recuperar seu dinheiro?

A história mostra que sim, a bolsa se recupera após uma quebra, mas o tempo necessário varia drasticamente. Após a crise de 1929, o mercado americano levou cerca de 25 anos para retornar aos níveis pré-crash. Já depois da crise de 2008, a recuperação foi mais rápida, levando aproximadamente cinco anos.

Entretanto, nem todas as empresas sobrevivem ao processo. Algumas quebram definitivamente, e dessa forma, o investidor perde tudo. Empresas sólidas, com bons fundamentos, tendem a se recuperar junto com o mercado. Já aquelas que surfam apenas na onda especulativa podem desaparecer da lista.

Como a quebra da bolsa afeta a economia e o mercado financeiro?

O impacto de uma crise financeira vai muito além dos pregões. Quando a queda da Bolsa de Valores persiste, as empresas perdem valor de mercado e enfrentam dificuldades para captar recursos. Sem dinheiro para investir, cortam gastos, demitem funcionários e adiam projetos de expansão.

Dessa maneira, o desemprego aumenta, o consumo cai e a economia entra em recessão. É um efeito dominó: menos empregos significam menos consumo, que gera menos produção, que resulta em mais desemprego. Bancos ficam mais cautelosos com empréstimos, dificultando ainda mais a recuperação.

Além disso, o crash pode contaminar outros países através do chamado "efeito contágio". Em um mundo globalizado, quando Wall Street espirra, as bolsas do mundo todo pegam gripe. Investidores estrangeiros retiram capital, moedas desvalorizam e a crise se espalha como um vírus financeiro.

O que pode piorar a situação durante um crash da bolsa?

Alguns fatores podem transformar uma queda comum em um desastre completo. O primeiro é a alavancagem excessiva – quando investidores ou instituições operam com dinheiro emprestado. Se você investiu R$ 10 mil próprios mais R$ 10 mil emprestados e o mercado cai 50%, você não só perde seu capital como ainda fica devendo.

Por sua vez, o pânico generalizado amplifica qualquer movimento de queda. Quando todos correm para a porta ao mesmo tempo, o resultado é previsível, muitos se machucam. No mercado financeiro, isso se traduz em vendas desesperadas que derrubam ainda mais os preços.

A falta de liquidez também agrava a situação. Quando ninguém quer comprar, os preços despencam ainda mais rápido.

Como proteger seus investimentos em caso de colapso do mercado?

Apesar do cenário assustador, existem formas de proteger seus investimentos em caso de colapso do mercado. A diversificação é a primeira linha de defesa. Não concentre tudo em ações, distribua entre renda fixa, imóveis, moedas estrangeiras e até uma pequena parcela em ouro.

Manter uma reserva de emergência em investimentos líquidos e seguros é fundamental. Assim, você não precisará vender ações desvalorizadas em momento de necessidade. Especialistas recomendam ter pelo menos seis meses de despesas em aplicações conservadoras.

No entanto, a estratégia mais importante é psicológica: não entre em pânico. Warren Buffett, um dos maiores investidores do mundo, tem uma frase famosa: "Seja ganancioso quando outros estão com medo". Crashes podem representar oportunidades únicas de compra para quem tem o emocional preparado e capital disponível.

Crises históricas do mercado

A Crise de 1929

O crash de 1929 não ocorreu de forma repentina. Ao longo da década de 1920, os Estados Unidos viviam uma euforia econômica sem precedentes. A produção industrial havia crescido 60%, e o mercado de ações se transformara em uma verdadeira febre nacional. Entre 1925 e 1929, por exemplo, o índice Dow Jones dobrou de valor. No entanto, havia uma fragilidade estrutural grave: a especulação desenfreada permitia a compra de ações mediante o pagamento de apenas 10% do valor à vista.

A ruptura ocorreu em outubro de 1929. Em um único dia, um volume recorde de 12,9 milhões de ações foi negociado em meio ao pânico. Em apenas cinco dias, cerca de US$ 30 bilhões evaporaram, o dobro do custo da Primeira Guerra Mundial. O colapso rapidamente contaminou bolsas na Europa, América Latina e Ásia.

As consequências foram duradouras e profundas na sociedade. Até 1933, cerca de 11 mil dos 25 mil bancos americanos haviam falido. O desemprego saltou de 3% para 25%, deixando aproximadamente 15 milhões de pessoas sem trabalho. Foi necessária uma resposta robusta, como o New Deal, implementado por Roosevelt, que incluiu obras públicas, regulamentação bancária e programas de assistência social, para iniciar um processo de recuperação. Ainda assim, o mercado só retornaria aos níveis pré-crash em 1954.

A Crise de 2008

A crise de 2008 nasceu no mercado imobiliário americano. Durante anos, bancos concederam empréstimos hipotecários a pessoas sem capacidade de pagamento – os subprimes. Acreditava-se que imóveis sempre valorizariam. Esses empréstimos ruins foram empacotados em produtos complexos (CDOs) e vendidos globalmente como seguros. As agências de risco davam notas máximas a esses títulos problemáticos.

O caso ruiu quando os imóveis pararam de subir e famílias deram calote em massa. Em setembro de 2008, o Lehman Brothers, quarto maior banco de investimentos dos EUA, quebrou após 158 anos. Em outubro, o Dow Jones caiu 18% em uma semana. Bancos pararam de emprestar, o crédito secou. O sistema financeiro mundial beirava o colapso.

No entanto, diferentemente de 1929, os governos agiram rápido. Os EUA aprovaram resgate de US$ 700 bilhões. O Fed reduziu juros a zero e injetou trilhões na economia. No Brasil, o presidente Lula (PT) cortou impostos e usou bancos públicos para manter o crédito. Apesar disso, milhões perderam casas e empregos, países como Grécia quebraram, negócios faliram e nunca mais se recuperaram.

De modo geral, a história mostra que o crash da bolsa é um fenômeno complexo que vai além de números em uma tela. É um evento que testa a resiliência de empresas, governos e investidores. E, embora assustador, faz parte dos ciclos econômicos. A chave está em entender o processo, se preparar adequadamente e, principalmente, ter o emocional equilibrado para enfrentar o pânico generalizado.

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