Para os investidores, o lock-up traz uma importante camada de previsibilidade (Oatawa/Getty Images)
Publicado em 20 de maio de 2025 às 14h45.
Abrir o capital é um momento decisivo na trajetória de uma empresa. Quando as ações começam a ser negociadas em bolsa, há expectativa, visibilidade e uma enxurrada de novos investidores. Mas, nos bastidores, existe uma cláusula pouco conhecida do grande público que garante certa ordem no processo: o lock-up.
O termo se refere a uma cláusula contratual que impõe um período de carência — geralmente entre 90 e 180 dias — durante o qual certos acionistas não podem negociar suas ações após o IPO. A regra costuma valer para fundadores, executivos, investidores institucionais e acionistas relevantes que já detinham papéis antes da abertura de capital.
Durante esse intervalo, esses acionistas ficam proibidos de vender, doar ou transferir suas ações. O objetivo é evitar uma onda de vendas logo após a estreia da empresa na bolsa, o que poderia provocar uma queda abrupta no valor dos papéis.
O período de lock-up é definido previamente nos documentos da oferta pública. As cláusulas são firmadas com corretoras, bancos coordenadores da operação e registradas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Caso um acionista descumpra essa regra, poderá enfrentar multas pesadas, além de prejudicar sua imagem e relação com os demais investidores. Ao final do lock-up, os papéis voltam a ser livremente negociados, o que pode gerar pressão de venda se muitos acionistas decidirem sair ao mesmo tempo.
1. Estabilizar o mercado: impede que grandes investidores despejem ações logo após o IPO, o que poderia derrubar os preços pela simples pressão de oferta.
2. Proteger a reputação da empresa: evita a percepção de que os controladores não confiam na própria empresa, o que causaria insegurança entre os novos acionistas.
3. Selecionar investidores mais comprometidos: quem aceita o lock-up tende a ser visto como parceiro de longo prazo, não apenas um especulador.
Para os investidores, o lock-up traz uma importante camada de previsibilidade. Saber que os principais acionistas não vão liquidar suas posições logo após o IPO ajuda a mitigar o risco de quedas repentinas de preço.
Já para a empresa, o instrumento representa uma defesa institucional. Ele cria um ambiente mais estável para os primeiros meses após a listagem, um período crítico para atrair analistas, investidores e construir uma imagem sólida.
Do ponto de vista do investidor, é importante acompanhar o calendário de fim de lock-up de cada IPO, pois isso pode indicar momentos de aumento na volatilidade ou mudança na dinâmica de preço das ações. Fundos e analistas costumam observar esses prazos para ajustar suas posições.
Para os acionistas fundadores, aceitar o lock-up é quase sempre inevitável — e sinaliza responsabilidade. Já para a empresa, estruturar um cronograma bem pensado para o fim do lock-up pode evitar que o mercado seja inundado com ações de uma vez só, o que reduziria o valor percebido.