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O que é o risco de duration mismatch em fundos de pensão e como ele pode afetar a solvência?

Desalinhamento entre prazos de ativos e passivos pode comprometer liquidez e estabilidade dos fundos de aposentadoria

Fundos de pensão mais robustos já adotam políticas de gestão ativa de duration, buscando equilibrar continuamente os prazos dos ativos e dos passivos. (Nuthawut Somsuk/Getty Images)

Fundos de pensão mais robustos já adotam políticas de gestão ativa de duration, buscando equilibrar continuamente os prazos dos ativos e dos passivos. (Nuthawut Somsuk/Getty Images)

Publicado em 20 de maio de 2025 às 14h31.

A estabilidade financeira dos fundos de pensão — entidades que administram bilhões em recursos para garantir a aposentadoria de milhares de brasileiros — depende de um equilíbrio técnico que muitas vezes escapa aos olhos do público. Entre os fatores mais relevantes para essa sustentabilidade está o duration mismatch, ou descompasso de duration. Quando os prazos dos ativos e dos passivos não conversam, o fundo pode enfrentar riscos sérios de liquidez e até de insolvência no longo prazo.

O que é duration e como ocorre o mismatch

Duration, no jargão financeiro, é o prazo médio ponderado em que os fluxos de caixa de um título ou obrigação ocorrem. No caso dos fundos de pensão, isso se aplica tanto ao lado dos ativos — como títulos públicos, debêntures e investimentos — quanto aos passivos, ou seja, os pagamentos futuros de aposentadorias e pensões.

O problema surge quando há um descompasso entre essas duas durations: os ativos vencem antes ou depois do ideal em relação aos compromissos que o fundo tem com os participantes. Esse desalinhamento é o chamado duration mismatch.

Como o descompasso afeta a solvência

Se os ativos têm uma duration menor que a dos passivos, o fundo pode precisar reinvestir os recursos antes de pagar os benefícios prometidos. Isso cria um risco: se as taxas de juros estiverem desfavoráveis, o fundo pode ser forçado a aplicar os recursos em condições menos vantajosas, reduzindo seu retorno.

Por outro lado, se a duration dos ativos for excessivamente longa, o fundo pode ter dificuldade em gerar caixa suficiente para pagar aposentadorias no curto prazo, comprometendo sua liquidez operacional.

Em ambos os cenários, o desequilíbrio pode afetar a solvência — a capacidade de honrar todos os compromissos futuros com os beneficiários. A situação se agrava em ambientes de alta volatilidade nos juros, como o brasileiro.

Exemplo prático

Imagine um fundo de pensão que tem como compromisso pagar aposentadorias ao longo dos próximos 25 anos, ou seja, seus passivos têm uma duration longa. Para garantir esses pagamentos, o fundo investe em ativos com vencimento médio de 10 anos — como títulos públicos de médio prazo — porque oferecem liquidez e rendimento razoável no curto prazo.

O problema surge quando esses ativos vencem e precisam ser reinvestidos, mas o cenário econômico mudou: as taxas de juros caíram significativamente, e os novos títulos disponíveis oferecem retornos muito menores. Como os pagamentos aos aposentados continuarão por mais 15 anos, o fundo se vê diante de um descompasso: os novos investimentos não geram recursos suficientes para manter os pagamentos prometidos, o que exige aporte extra do patrocinador ou cortes no benefício futuro.

Se, por outro lado, o fundo tivesse investido em títulos com duration próxima à dos passivos — ou ajustado sua carteira ao longo do tempo — ele poderia evitar a exposição às condições de mercado no momento da reinversão, preservando sua solvência.

Diferenciais na gestão do risco

Fundos de pensão mais robustos já adotam políticas de gestão ativa de duration, buscando equilibrar continuamente os prazos dos ativos e dos passivos. Essa gestão é feita por meio de modelos atuariais, projeções econômicas e, em muitos casos, o uso de instrumentos financeiros como derivativos e estratégias de hedge.

A chamada imunização da carteira é uma das técnicas mais aplicadas. Ela visa estruturar o portfólio de forma que, mesmo com variações nas taxas de juros, o fundo mantenha sua capacidade de pagamento no longo prazo.

Por que o tema é relevante para os participantes

Embora técnico, o assunto tem implicações diretas para os trabalhadores que dependem de fundos de previdência. Se um fundo não gerencia bem o risco de duration mismatch, pode precisar de aportes adicionais dos patrocinadores — empresas ou governos — ou mesmo reduzir benefícios.

Além disso, falhas na gestão desse risco podem levar à reestruturação de planos ou à intervenção de órgãos reguladores.

O que considerar na análise dos fundos

Para quem participa de um fundo de pensão ou está pensando em aderir a um, é importante avaliar se a entidade apresenta boas práticas de governança e gestão de riscos. Informações sobre duration e solvência costumam estar disponíveis nos relatórios anuais e nos demonstrativos atuariais.

Também vale acompanhar o comportamento dos fundos em cenários adversos de mercado. Um fundo bem estruturado deve manter a solvência mesmo diante de oscilações na economia, preservando o compromisso com os pagamentos de aposentadorias e pensões.

Acompanhe tudo sobre:Guia de Investimentos

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