Investidores que identificarem movimentações suspeitas devem procurar a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ou órgãos equivalentes (Getty Images/Getty Images)
Publicado em 19 de maio de 2025 às 16h21.
Em um mercado onde números ditam decisões, qualquer ilusão pode virar armadilha. É o caso do wash trading, uma manobra recorrente — e ilegal — que infla volumes de negociação de ativos como ações ou criptomoedas sem que haja transações reais envolvidas. O objetivo? Criar uma aparência de liquidez e popularidade para atrair investidores desavisados.
Esse tipo de simulação virou tema constante nos mercados digitais, especialmente entre tokens pouco conhecidos. E, embora a prática não seja nova, ganha força com o avanço das negociações automatizadas e a falta de regulamentação em algumas áreas do setor financeiro.
Wash trading é o nome dado à prática em que o mesmo agente, ou um grupo em conluio, compra e vende um ativo de forma simultânea ou coordenada, sem que ocorra troca efetiva de propriedade. A ação tem como único propósito gerar artificialmente movimentação no mercado.
Essas operações são feitas para criar a ilusão de que determinado ativo está em alta demanda, atraindo outros compradores com base em dados falsificados. Normalmente, envolvem o uso de múltiplas contas ou robôs automatizados que executam ordens de compra e venda entre si.
No mercado de criptomoedas, onde as transações são mais difíceis de rastrear por reguladores, esse tipo de manipulação é ainda mais comum. Exchanges e projetos podem recorrer ao wash trading para inflar o volume de um token e ganhar visibilidade.
O wash trading é ilegal, e seu uso pode levar a sanções, multas e até ações penais nos casos mais graves.
A origem do wash trading remonta ao século passado. Nos Estados Unidos, ele foi usado por operadores para manipular preços de commodities, levando à criação de leis como a Commodity Exchange Act em 1936. Desde então, os reguladores vêm se equipando para coibir essas práticas.
Com o avanço das fintechs e das criptomoedas, os desafios voltaram à tona. Muitos desses ativos operam fora de bolsas tradicionais, em ambientes menos regulados, o que facilita a manipulação. Países como Estados Unidos, Reino Unido e Brasil têm intensificado a fiscalização por meio de análises automatizadas e auditorias de plataformas.
Uma das maiores dificuldades no combate ao wash trading está em sua aparência legítima. Em um mercado com milhares de operações diárias, diferenciar uma transação real de uma simulada exige ferramentas avançadas e monitoramento contínuo.
Para o investidor, o risco é alto: ao confiar em números falsificados, pode entrar em ativos supervalorizados artificialmente e amargar prejuízos quando a manipulação cessar.
Por isso, é fundamental considerar a origem dos dados de volume e liquidez, a reputação da plataforma onde ocorre a negociação, e a presença de alertas de órgãos reguladores.
Apesar de muitas vezes ser difícil de detectar, o wash trading pode — e deve — ser denunciado. Investidores que identificarem movimentações suspeitas devem procurar a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ou órgãos equivalentes em seu país.
Mercados saudáveis dependem da confiança, e combatê-lo é um passo essencial para preservar a integridade dos investimentos. No fim das contas, a transparência é o que sustenta o valor de qualquer ativo. E sem ela, todo o mercado corre o risco de virar uma bolha prestes a estourar.