Em 2024, a previdência privada movimentou R$ 196 bilhões e cresceu 15,3% mesmo com juros em alta, segundo a Fenaprevi. (Seksan Mongkhonkhamsao/Getty Images)
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Publicado em 12 de setembro de 2025 às 17h30.
Com a taxa Selic em alta, muitos brasileiros podem se questionar se ainda vale a pena colocar dinheiro na previdência privada ou se é melhor aproveitar os juros altos e investir no Tesouro Direto. A dúvida faz todo sentido em um momento em que títulos públicos pagam rentabilidade de dois dígitos e com alta segurança.
Apesar disso, dados recentes mostram que essa situação divide os investidores. Em 2024, por exemplo, a previdência privada movimentou R$ 196 bilhões e cresceu 15,3% mesmo com juros em alta, segundo a Fenaprevi.
Isso sugere que milhões de brasileiros ainda veem valor nos planos previdenciários. A questão é: será que eles estão certos ou seria melhor seguir outro caminho para garantir uma aposentadoria tranquila?
A previdência privada funciona como uma poupança de longo prazo administrada por seguradoras ou bancos, em que você faz aportes mensais ou esporádicos que são investidos em fundos específicos. O dinheiro fica aplicado por anos acumulando rendimentos e, no futuro, pode ser resgatado de uma vez ou transformado em renda mensal, funcionando como um complemento à aposentadoria do INSS.
Diferente de outros investimentos, a previdência tem regras próprias de tributação e pode oferecer benefícios como dedução no Imposto de Renda. Além disso, não sofre come-cotas, aquela mordida semestral que acontece em fundos comuns.
O PGBL e VGBL são os dois tipos principais de planos disponíveis no mercado. O PGBL permite deduzir até 12% da renda anual na declaração de IR, mas na hora do resgate o imposto incide sobre o valor total. É ideal para quem faz declaração completa e contribui para o INSS, pois a dedução pode gerar uma boa restituição ou reduzir o imposto a pagar.
Já o VGBL, que em 2024 representou 91% dos aportes segundo a Fenaprevi, não oferece dedução, mas cobra imposto sobre os rendimentos apenas no resgate. É a escolha natural para quem faz declaração simplificada, não contribui para o INSS ou quer investir mais que 12% da renda anual em previdência.
Um dos maiores atrativos da previdência privada é a tributação, que pode chegar a apenas 10% para quem deixa o dinheiro investido por mais de 10 anos, alíquota menor que qualquer outro investimento tributável. Além disso, em caso de falecimento, o valor vai direto para os beneficiários sem passar por inventário, economizando tempo e custos com advogados.
Outro ponto importante é a portabilidade. Se o fundo atual não está rendendo bem ou cobra taxas altas, é possível transferir todo o saldo para outra instituição sem pagar imposto e sem perder o tempo de aplicação já acumulado para fins de tributação.
Vale a pena investir em previdência privada quando você tem dificuldade para poupar sozinho e precisa da disciplina dos aportes mensais automáticos. Também faz sentido para quem quer aproveitar o benefício fiscal do PGBL ou busca a tributação de 10% no longo prazo, especialmente se já está numa faixa alta de IR.
O Tesouro Direto é a plataforma onde qualquer pessoa pode emprestar dinheiro para o governo federal comprando títulos públicos. Como o governo é considerado o melhor pagador do país, esses títulos são vistos como o investimento mais seguro disponível, servindo de referência para todo o mercado de renda fixa.
Com investimento inicial a partir de menos de R$ 50, essa opção oferece diferentes tipos de títulos para diversos objetivos. O Tesouro Selic, por exemplo, acompanha a taxa básica de juros sem surpresas, ideal para reserva de emergência. O Prefixado trava uma taxa fixa, bom para quem quer previsibilidade.
No entanto, para quem pensa em aposentadoria, o Tesouro IPCA+ é o mais interessante. Essa opção paga a inflação do período mais uma taxa real definida na compra, garantindo que seu dinheiro sempre cresça acima da alta dos preços. Se a inflação for 4% e o título pagar IPCA+ 6%, você terá cerca de 10% de rentabilidade.
Entre as vantagens do Tesouro Direto está a liquidez diária, que permite resgatar o dinheiro em qualquer dia útil, diferente da previdência que pode ter carência. O controle total sobre o investimento também é outro diferencial, já que você escolhe exatamente qual título comprar, quando vender e não paga taxa de administração como nos fundos de previdência.
Para objetivos de longo prazo, como a aposentadoria, o Tesouro IPCA+ garante ganho real acima da inflação, protegendo o poder de compra por décadas.
O Tesouro faz mais sentido para quem tem disciplina própria para poupar e quer controle total sobre os investimentos. Também é ideal quando você precisa de flexibilidade para resgatar o dinheiro antes do prazo planejado ou quer montar uma estratégia específica combinando diferentes títulos com vencimentos variados.
A combinação dos dois investimentos pode ser a estratégia inteligente para o longo prazo. Usar o PGBL até o limite de 12% da renda para aproveitar o benefício fiscal e complementar com Tesouro IPCA+ para proteção inflacionária cria uma aposentadoria diversificada e eficiente tributariamente.
Outra abordagem é usar a previdência para objetivos de prazo muito longo, acima de 10 anos, aproveitando a alíquota de 10%, e o Tesouro para metas intermediárias ou como reserva que pode ser acessada se necessário. Essa divisão consegue equilibrar disciplina forçada com flexibilidade.
Vale lembrar que com R$ 1,6 trilhão sob gestão (2024), a previdência privada já provou seu valor para milhões de brasileiros. Por outro lado, o Tesouro Direto continua sendo a base sólida de qualquer carteira. A escolha não precisa ser uma ou outra, mas quanto de cada uma faz sentido para seus objetivos.