O risco sistemático é aquele que afeta o mercado inteiro de uma só vez, atingindo praticamente todos os tipos de investimento simultaneamente. (TIMOTHY A. CLARY/AFP/Getty Images)
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Publicado em 30 de setembro de 2025 às 11h26.
Até 23 de março de 2020, auge da crise provocada pela pandemia, o Ibovespa havia desabado 45% no ano. Investidores brasileiros com carteiras diversificadas assistiram todos os seus papéis caírem simultaneamente, independentemente se eram ações de bancos, varejo ou tecnologia. Tudo despencou junto, demonstrando na prática o que economistas chamam de risco sistemático.
Esse tipo de risco, que atinge todos os investimentos ao mesmo tempo, é uma das situações mais críticas do mercado financeiro. Entender como ele funciona e, mais importante, como se proteger dele, pode fazer a diferença na estratégia de preservar patrimônio durante crises.
O risco sistemático é aquele que afeta o mercado inteiro de uma só vez, atingindo praticamente todos os tipos de investimento simultaneamente. Diferentemente de um problema específico em uma empresa, esse risco financeiro não escolhe setores ou ações.
Imagine uma situação em que o Banco Central aumenta drasticamente os juros. Esse movimento afeta desde ações de grandes empresas até fundos imobiliários e títulos privados. A principal característica do risco sistemático é que ele não pode ser eliminado através da diversificação tradicional, pois quando ele aparece, quase tudo desvaloriza.
Para medir quanto um investimento é sensível a esse tipo de risco, o mercado usa um indicador chamado beta. Um beta de 1 significa que o ativo sobe e desce junto com o mercado. Um beta de 2 indica que quando o mercado cai 10%, aquele investimento tende a cair 20%. Dessa forma, investidores conseguem avaliar o quanto estão expostos a movimentos gerais da economia.
O risco sistêmico refere-se especificamente ao perigo de um colapso no sistema financeiro através de um efeito dominó. Nesse caso, a quebra de uma instituição financeira pode derrubar outras devido às conexões entre elas, como empréstimos interbancários ou contratos derivativos. É o tipo de risco que mantém reguladores acordados à noite.
Já o risco sistemático, por sua vez, foca nos movimentos amplos do mercado que afetam os preços de todos os ativos simultaneamente. Está relacionado a fatores macroeconômicos como inflação, mudanças nas taxas de juros e crescimento econômico. Quando esses fatores mudam, praticamente todos os investimentos são impactados, independentemente de conexões diretas entre empresas ou instituições.
Em exemplos práticos, quando um grande banco quebra e isso ameaça outros bancos devido a empréstimos entre eles, se tem um risco sistêmico. Quando uma decisão política faz todas as ações caírem, independentemente de conexões entre empresas, configura um risco sistemático.
No Brasil, várias instituições trabalham em conjunto para monitorar e controlar riscos que possam ameaçar o sistema financeiro. O Banco Central lidera esse esforço, usando ferramentas como alterações na taxa de juros e exigências de capital mínimo para bancos.
Há também a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que supervisiona o mercado de ações e fundos, garantindo que as regras sejam seguidas e que investidores tenham informações confiáveis. Já o Conselho Monetário Nacional define as diretrizes gerais que todo o sistema deve seguir.
Uma peça importante dessa estrutura de proteção é o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que protege até R$ 250 mil por pessoa em cada banco, somente em investimentos elegíveis como CDBs, por exemplo. Essa garantia ajuda a evitar que o medo de perder dinheiro cause pânico generalizado e corridas bancárias, mantendo certa estabilidade do sistema.
A diferença de risco sistemático e não sistemático é fundamental para montar uma carteira de investimentos equilibrada. O risco não sistemático é aquele específico de uma empresa ou setor, como problemas de gestão ou perda de um contrato importante.
Enquanto o risco não sistemático pode ser reduzido comprando ações de várias empresas diferentes, o risco sistemático permanece mesmo em carteiras muito diversificadas. Durante uma crise severa, a correlação entre diferentes investimentos se aproxima de 100%, significando que todos se movem na mesma direção.
Essa relação explica por que apenas diversificar não é suficiente. Um investidor precisa combinar diversificação para reduzir riscos específicos com outras estratégias, como manter uma reserva em ativos mais seguros ou usar proteções específicas para momentos de crise generalizada.
Os exemplos de risco sistemático mais marcantes ajudam a entender como esse fenômeno funciona na realidade. A crise de 2008 começou com problemas no mercado imobiliário americano, mas rapidamente se espalhou pelo mundo, derrubando bolsas de todos os países.
No Brasil, um exemplo claro ocorreu durante o impeachment de 2016, quando a incerteza política fez o Ibovespa oscilar violentamente, independentemente da qualidade das empresas listadas. Empresas sólidas e bem gerenciadas caíram junto com as mais arriscadas.
Mais recentemente, a pandemia mostrou como um evento inesperado pode paralisar mercados globalmente. Em questão de semanas, trilhões em valor desapareceram das bolsas mundiais, provando que nenhum setor estava imune ao choque.
O impacto do risco sistemático em uma carteira depende de vários fatores, mas ninguém escapa completamente. Ações de empresas menores e mais voláteis geralmente sofrem quedas maiores, enquanto papéis de empresas estabelecidas podem cair menos, mas ainda assim caem.
Durante momentos de pânico, investidores costumam buscar segurança em ativos como dólar, ouro ou títulos do governo. Esse movimento causa uma fuga de investimentos considerados mais arriscados, amplificando as perdas em mercados emergentes como o brasileiro.
Um fator que intensifica muito os efeitos é o uso de alavancagem. Investidores que operam com dinheiro emprestado podem perder mais do que investiram quando uma crise sistemática acontece. Por isso, entender e respeitar os limites do uso de margem torna-se ainda mais crítico nesses cenários.
Para se proteger, a recomendação básica inclui manter uma parte do patrimônio em ativos mais defensivos, estabelecer limites de perda antes de investir e, principalmente, dimensionar cada posição de acordo com sua real capacidade de suportar quedas. Conhecer o beta dos seus investimentos ajuda a entender o tamanho do risco que você está assumindo.