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Selic alta é bom ou ruim? Entenda o impacto nos investimentos e na economia

Saiba como a taxa básica de juros é definida e quais são seus efeitos sobre consumo, crédito, economia e investimentos

O impacto da Selic na economia geral é predominantemente negativo, uma vez que juros altos desaceleram o crescimento, encarecem investimentos e aumentam o custo da dívida pública. (Getty Images)

O impacto da Selic na economia geral é predominantemente negativo, uma vez que juros altos desaceleram o crescimento, encarecem investimentos e aumentam o custo da dívida pública. (Getty Images)

Luanda Moraes
Luanda Moraes

Colaboradora

Publicado em 18 de setembro de 2025 às 17h59.

Com a taxa Selic em 15%, o Brasil vive o maior patamar de juros básicos em 19 anos, um cenário que tem afetado diretamente o bolso de consumidores, empresários e investidores. Com isso, o dilema entre combater a inflação e estimular o crescimento econômico tem gerado debates, atraindo os olhos especialmente para as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central.

Para entender se a Selic alta é boa ou ruim, a EXAME conversou com Álvaro Frasson, macroestrategista do BTG Pactual Portfolio Solutions, que detalhou os mecanismos da política monetária e seus impactos práticos na vida dos brasileiros.

O que é a Selic?

A Selic é a taxa básica de juros no Brasil, que funciona como referência principal para todas as outras taxas de juros praticadas no país.

Definida a cada 45 dias pelo Comitê de Política Monetária (Copom), a Selic é usada pelo Banco Central como ferramenta de política monetária para controlar a atividade econômica e suas flutuações, impactando assim as expectativas de inflação. De maneira geral, tem o poder de acelerar ou frear a economia a depender do cenário.

No campo dos investimentos e consumo, a Selic tem o grande papel de indicar a rentabilidade dos principais ativos de renda fixa, ao mesmo tempo em que define se o crédito será mais caro ou não.

Como a Selic é definida?

A definição da Selic envolve a análise complexa de múltiplos indicadores. Para chegar a um número percentual, o Copom avalia a inflação atual e projetada, crescimento do PIB, desemprego, cenário internacional e, especialmente, a política fiscal do governo.

Durante esse processo, muitas vezes a população pode ter dificuldade em entender as decisões do Copom. Isso acontece porque o órgão trabalha com antecipações de cenários.

"O Banco Central age olhando para as expectativas e não para a inflação corrente, aquela inflação que já passou. Isso acontece porque há uma defasagem. Quando o Banco Central aumenta os juros, leva um tempo até que esse aumento se reflita na inflação", explica Álvaro Frasson.

Essa defasagem temporal significa que os efeitos completos de uma mudança na Selic levam entre seis e nove meses para aparecer na economia real, tornando a política monetária um exercício de antecipação.

Maior alta da Selic em 19 anos

Sobre como o Brasil chegou aos atuais 15%, Frasson faz uma análise apontando decisões precipitadas que fizeram com que o "freio econômico" fosse mais forte em 2025.

Segundo ele, nos últimos anos, o país fez uma expansão fiscal muito grande, aquecendo a economia e, como efeito cascata, pressionando a inflação. Do outro lado, o Banco Central entrou em um ciclo de alta em que manteve a Selic acima de 13% por pouco mais de um ano, até o final de 2023, passando a diminuir os juros em 2024.

Apesar desse período de alta, o efeito não foi tão claro, como aponta o economista: "Podem até dizer: 'Poxa, a Selic é contracionista'. Pois é, mas não contraiu nada. O PIB continuou crescendo acima do potencial e a inflação continuou subindo. Por quê? O governo fez uma expansão fiscal muito grande, e nos últimos três anos o Brasil cresceu a uma taxa de 3% ao ano".

Esse crescimento de 3% pode parecer positivo, mas Frasson alerta que é insustentável. Segundo ele, o Brasil não teve melhorias em produtividade ou educação que justifiquem esse ritmo, tornando-o assim inflacionário.

A análise comparativa com o cenário internacional também reforça o diagnóstico. "Quando comparamos com o México, Chile, Colômbia e Peru, vemos que eles não reabriram o ciclo de alta de juros como o Brasil fez. Eles continuaram cortando a taxa de juros. Por quê? Porque eles não fizeram uma expansão fiscal tão grande", analisa o economista.

O que é a ata do Copom?

A ata do Copom é o documento divulgado uma semana após cada reunião, detalhando as análises que embasaram a decisão sobre a Selic. Investidores estudam esse documento em busca de pistas sobre os próximos passos da política monetária.

Frasson destaca que o Banco Central brasileiro tem sido transparente, divulgando não apenas análises mas também os modelos econômicos usados. Além disso, o economista avalia positivamente as últimas decisões do Copom, destacando o esforço do órgão que constantemente é pressionado a adotar uma postura mais branda.

Selic alta é boa para a economia?

O impacto da Selic na economia geral é predominantemente negativo, uma vez que juros altos desaceleram o crescimento, encarecem investimentos e aumentam o custo da dívida pública.

"Para quem a taxa de juros alta é boa? Apenas para quem tem muito dinheiro guardado", afirma Frasson. "Para o resto da economia, o juro alto é ruim, pois provoca dois efeitos. Primeiro, uma desaceleração econômica. E, consequentemente, um aumento da dívida pública, porque você precisa pagar mais juros do que estava pagando antes".

O economista detalha o mecanismo de transmissão, em que um dos principais objetivos neste caso é conter a inflação: "Quando o Banco Central aumenta os juros, ele quer enfraquecer a atividade econômica para que assim reduza a demanda. Com a redução da demanda, você teria uma diminuição na variação dos níveis de preço".

Há também a questão da dívida pública, que frequentemente ganha manchetes e discussões. Referente a ela, Frasson esclarece que cerca de 40% está indexada diretamente à Selic através das LFTs (Letras Financeiras do Tesouro). Ainda sim, é inegável que os juros altos impactam consideravelmente as contas públicas, já que elevam o custo de rolagem de toda a dívida.

O restante da dívida, explica o economista, está atrelada a juros de prazos mais longos, e esses são definidos pelo mercado conforme a confiança na política fiscal. Quando o governo transmite credibilidade, os juros longos caem independentemente da Selic atual. "A questão da dívida pública não é apenas uma questão de política monetária. Ela envolve também a política fiscal e a credibilidade dela", explica Frasson.

Selic alta é boa para investidores?

A relação entre Selic e investimentos é mais complexa do que parece, mas, de maneira geral, esse tende a ser o grupo mais beneficiado com a alta dos juros.

Com a Selic a 15%, a renda fixa virou o caminho principal para a maioria dos investidores. Porém, Frasson aponta que há também oportunidades no mercado de ações. "É curioso, porque, em geral, a gente tem essa ideia de que, com a taxa de juros alta, está bom para a renda fixa e não tão bom para a renda variável. Mas, e se eu contar que este ano a renda variável teve um desempenho melhor que a renda fixa?", diz o economista.

A explicação, de acordo com ele, está na dinâmica dos juros futuros. "Os preços dos ativos no mercado financeiro têm muita correlação com a taxa de juros futura — daqui a 5, 10 anos — não com a taxa Selic atual", esclarece.

Para investidores, então, a recomendação está na diversificação. "Ainda acho que é importante ter uma carteira diversificada, com boa exposição à renda fixa. Na renda fixa, você pode distribuir entre títulos pós-fixados, pré-fixados e com índices de inflação", analisa.

Ele ainda complementa sobre a renda variável. "Se o câmbio continuar se apreciando, se a política monetária fizer seu trabalho, há espaço para a taxa de juros futura cair, o que pode beneficiar os ativos de maior risco".

Selic alta é boa para cidadãos?

Para a população em geral, o cenário de juros altos tem dois lados que devem ser considerados. O primeiro, como mencionado, aqueles que possuem boa saúde financeira e afinidade com investimentos de renda fixa acabam se beneficiando. Além disso, a compra do mercado pode ser aliviada já que há tendência para a queda da inflação.

"Se olharmos os dados, vemos que a inflação de alimentação no domicílio, que é super importante para boa parte da população, está caindo bastante neste ano, graças ao papel do Banco Central de aumentar a taxa de juros", aponta o economista.

Entretanto, há um custo social importante, que pode enfraquecer a renda familiar. É o caso do desemprego, já que empresas investem e contratam menos, uma vez que o crédito está caro. Segundo Frasson, quem explica essa relação é a Curva de Phillips, teoria clássica da macroeconomia.

Impacto da Selic alta no consumo

Um dos impactos mais rápidos da alta dos juros é no consumo das famílias, já que a política monetária contracionista torna o crediário mais caro, que por sua vez torna o cartão de crédito mais restrito, reduzindo assim o poder de compra.

Frasson ilustra a dinâmica com um exemplo cotidiano: "O Luiz, por exemplo, começa a ficar mais inadimplente. Ele pensa: 'Poxa, vou pagar mais tarde... não sei se vou pagar agora'. Assim, a diminuição das concessões de crédito e o aumento da inadimplência são os primeiros sintomas de uma política monetária contracionista".

Os setores mais afetados, segundo ele, geralmente, são os setores mais alavancados ou que dependem mais de crédito. "O que estamos vendo hoje é que os setores industriais estão sentindo mais os efeitos, assim como o mercado de varejo", analisa o economista.

Impacto da Selic alta no crédito

Seguindo a lógica, com a Selic a 15%, todas as modalidades de empréstimo ficam mais caras. "Para todos esses tipos de bens que exigem financiamento, os mais populares hoje são o financiamento imobiliário e o financiamento de veículos. Esses, realmente, vão ficar mais caros", afirma Frasson.

O economista explica que esse encarecimento é intencional, visando o desaquecimento econômico: "Quando o Banco Central aumenta a taxa de juros, o que ele realmente quer é que as condições econômicas sejam mais afetadas para que a inflação consiga cair".

Para empresas, o impacto é direto na decisão de investir. Ele exemplifica: "A Joana é empresária e atua em um setor alavancado, precisando sempre de crédito para capital de giro. Quando o juro estava em 7% ou 8%, estava tudo ótimo. Mas quando ela precisa se financiar com juros a 15%, ela começa a optar por reduzir sua produção".

Quando a Selic vai cair?

Sobre as perspectivas futuras, Frasson mostra um otimismo cauteloso. O economista avalia que o Brasil está se aproximando cada vez mais da possibilidade de cortar os juros, embora ainda não seja claro se isso ocorrerá no final deste ano ou no início de 2026.

Para isso acontecer, algumas condições precisam ser atendidas. "Por boa prática de política monetária, você só corta os juros quando a inflação projetada está na meta ou abaixo da meta, e ainda não estamos nesse cenário", explica Frasson.

O economista revela que a projeção de inflação do Banco Central já melhorou bastante, caindo de 4% no início do ano para 3,4% atualmente. Mas ainda não é suficiente para justificar cortes imediatos.

"Se tivermos um segundo semestre parecido com o primeiro, com o real continuando a se apreciar e o Banco Central mantendo essa boa comunicação, talvez haja espaço para cortar ainda este ano", projeta Frasson, embora ressalte que a previsão oficial do BC é manter os juros em 15% até o final do ano.

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