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A guerra dos trilhões: Google pode ultrapassar a Nvidia — e não deve demorar

Desde julho, as ações da Alphabet subiram 39%, desempenho que elevou seu valor de mercado para US$ 3,9 trilhões

Jensen Huang: CEO da Nvidia é um dos homens mais ricos do mundo  (ANTHONY WALLACE / Colaborador/Getty Images)

Jensen Huang: CEO da Nvidia é um dos homens mais ricos do mundo (ANTHONY WALLACE / Colaborador/Getty Images)

Publicado em 26 de novembro de 2025 às 09h43.

A Nvidia (NVDA) se tornou a empresa mais valiosa do mundo no final de outubro deste ano, ao atingir US$ 5 trilhões em valor de mercado. O valor, que caiu para US$ 4,3 trilhões recentemente, ainda asssim reflete o domínio da fabricante de chips na aquecida corrida pela inteligência artificial (IA). Mas, agora, menos de um mês depois, o trono começa a balançar. Analistas de Wall Street avaliam que a Alphabet, controladora do Google (GOOGL), está posicionada para tomar o posto. E pode ser que não demore muito.

Desde julho, as ações da Alphabet subiram 39%, desempenho que elevou seu valor de mercado para US$ 3,9 trilhões.

Em paralelo, os papéis da Nvidia recuaram 14% em novembro, reduzindo a diferença entre os valores de mercado das duas empresas, para o menor patamar desde abril.

O acirramento é impulsionado pela expansão do ecossistema de IA do Google e pela alta na adoção de seus chips próprios, os Tensor Processing Units (TPUs), que oferecem uma alternativa mais eficiente e barata aos processadores gráficos (GPUs) da Nvidia.

Novo motor de crescimento

O avanço da Alphabet no setor ocorre em vários eixos. O mais visível é o Gemini 3, sistema de IA multimodal que combina texto, imagem, vídeo e código. A nova versão do modelo, lançada neste mês, é apontada como mais rápida e precisa que seus rivais, como o ChatGPT e o Grok, da xAI.

Diferente de concorrentes, o Gemini roda sobre infraestrutura da própria empresa, o que reduz dependência de fornecedores e aumenta margem de lucro operacional.

Internamente, a Alphabet também ampliou a distribuição da IA em seus serviços, como Android, Google Search, Chrome, Maps e Workspace, o que acelerou o ciclo de monetização.

No campo corporativo, a Google Cloud disputa mercado com Amazon AWS e Microsoft Azure, mas se diferencia ao oferecer soluções baseadas em seus TPUs, o que pressiona os preços dos chips da Nvidia, que seguem dominantes, porém mais caros e menos flexíveis.

O potencial de virada

Para Michael Nathanson, da MoffettNathanson, a Alphabet é hoje “a empresa mais bem posicionada para monetizar e escalar oportunidades em IA generativa”.

O analista, segundo a Bloomberg, elevou o preço-alvo das ações para US$ 295 — entre os mais altos de Wall Street — e classificou a empresa como uma das únicas candidatas reais ao título de companhia mais valiosa do planeta.

O argumento é que, ao contrário de outras big techs, a Alphabet conseguiu construir um sistema de IA integrado, com sinergia entre produtos, distribuição massiva e infraestrutura própria.

Essa combinação permite manter margens altas mesmo investindo pesado em novas tecnologias, em contraste com empresas que dependem da Nvidia para treinar e rodar seus modelos de IA.

Nathanson também destaca que o mercado ainda não precificou totalmente os efeitos desse novo ciclo de inovação.

O múltiplo preço/lucro futuro da Alphabet é de 20,8 vezes, abaixo da média das big techs, o que sugere espaço para valorização. “O modelo da Alphabet é mais parecido com uma máquina afinada do que com um conglomerado tradicional”, escreveu em relatório aos clientes.

Pressões da Nvidia

Do lado da Nvidia, o cenário é mais volátil.

O crescimento explosivo nos últimos trimestres se baseou na venda de GPUs para gigantes de tecnologia que treinam modelos de IA em larga escala.

Mas analistas já projetam que chips como os TPUs da Alphabet e os Gaudi da Intel poderão ocupar parte desse mercado, especialmente em nuvens privadas e sistemas fechados, que priorizam eficiência energética e menor custo por operação. E os investidores monitoram com cautela os níveis de demanda no médio prazo.

O próprio Sam Altman, CEO da OpenAI, reconheceu em memorando interno que o avanço da IA do Google pode gerar “ventos contrários econômicos temporários” e aumentar a competição no setor.

Já analistas como Stacy Rasgon, da Bernstein, alertam para o risco de reprecificação de ativos ligados à IA caso os ganhos não se materializem com a mesma intensidade dos trimestres anteriores.

Por que o Google ameaça?

Nesta semana, a Alphabet entrou de vez na disputa pelo mercado de infraestrutura de IA ao negociar o fornecimento de seus TPUs à Meta (META), que hoje depende majoritariamente de GPUs da Nvidia para treinar e operar seus modelos, segundo o site The Information.

O acordo envolve o aluguel da Google Cloud a partir de 2026 e a instalação física dos chips em data centers da Meta no ano seguinte.

Os tensor processing units foram desenvolvidos para aplicações específicas em aprendizado de máquina, oferecendo maior eficiência energética e integração nativa com sistemas da empresa, como o modelo Gemini. Diferente dos chips gráficos da Nvidia, os TPUs são Circuitos Integrados de Aplicação Específica (ASICs, na sigla em inglês), o que os torna mais especializados para cargas intensivas de IA.

A Alphabet já havia fechado acordo semelhante com a Anthropic e agora busca escalar sua presença em ambientes corporativos externos à sua própria nuvem — um passo inédito. Estimativas internas apontam que os negócios com TPUs podem capturar até 10% da receita anual da Nvidia, apurou o site Investing.

Se o acordo com a Meta avançar, bilhões de dólares podem migrar para os cofres da Alphabet. Projeções da Bloomberg Intelligence indicam que a Meta deve gastar entre US$ 40 bilhões e US$ 50 bilhões apenas em chips de inferência de IA em 2026. Parte desse montante pode abastecer a expansão da tecnologia proprietária do Google.

O movimento recente reacendeu a disputa entre as chamadas “Sete Magníficas”, grupo de megacaps tecnológicas formado por Nvidia, Alphabet, Apple, Microsoft, Amazon, Meta e Tesla. Até junho, a Nvidia liderava com folga. Agora, com a desaceleração de seus papéis e o desempenho superior da Alphabet, o cenário se inverteu.

A avaliação predominante no mercado não é mais “se” a Alphabet pode alcançar a Nvidia, mas “quando” — e se a Nvidia irá contra-atacar.

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