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A IA pode não ser a única: investidores temem 'bolha de tudo'

Investidores observam com cautela a disparada de ações ligadas à IA e temem que o mercado esteja formando uma bolha generalizada

Wall Street: volatilidade do VIX e queda da Nvidia após lucro recorde acenderam sinal de alerta no mercado global (Lisa Haney/Getty Images)

Wall Street: volatilidade do VIX e queda da Nvidia após lucro recorde acenderam sinal de alerta no mercado global (Lisa Haney/Getty Images)

Publicado em 24 de novembro de 2025 às 06h28.

Muito tem se falado sobre a possibilidade de uma bolha da inteligência artificial (IA) estar à espreita dos mercados e, depois do resultado da Nvidia (NVDA) na semana passada, os temores voltaram com ainda mais força. Mas, agora, analistas se perguntam se o medo não se espalhou também para outras áreas, criando a fobia de "uma bolha de tudo".

No dia 19 de novembro, a Nvidia reportou lucro recorde de US$ 57 bilhões no trimestre, com margem bruta de 70%. Ainda assim, as ações caíram 3% no dia seguinte e acumulam perda de 13% desde outubro. O movimento contrariou expectativas de nova disparada e sinalizou uma inflexão no humor do mercado.

A dúvida não é mais se há risco em IA. É se o entusiasmo com ativos financeiros em geral (de ações a imóveis e títulos) não chegou ao limite.

Alta desconectada da realidade?

O índice S&P 500 caiu 4% desde outubro, mas ainda acumula alta de 84% desde a mínima de 2022.

O tom cauteloso cresceu após a reação negativa do mercado ao resultado da Nvidia, sinal de que, para muitos investidores, nem mesmo lucros extraordinários justificam os preços atuais.

Na manhã seguinte ao balanço da Nvidia, o papel chegou a subir 5%, puxando o Nasdaq e o S&P 500. Ao longo do dia, os índices reverteram os ganhos e fecharam no vermelho. O VIX, índice que mede a volatilidade esperada para o S&P 500, saltou de 19 para 28 em menos de três horas.

Para Dan Hanbury, da Ninety One, os sinais de esticamento não se limitam à tecnologia. “Se você olhar para as avaliações, é difícil argumentar que não há uma bolha no mercado americano”, disse à CNBC. Segundo ele, dívida, imóveis, bancos globais e ativos de risco como um todo estão inflados.

A pesquisa de novembro do Bank of America, com 172 gestores de US$ 475 bilhões, confirmou: a maioria vê o mercado como sobrevalorizado.

Ativos de proteção falham

O dólar voltou a se valorizar, mas o ouro, tradicional porto seguro, recuou 7% desde outubro, mesmo em meio à turbulência. A queda levantou dúvidas sobre a eficácia das proteções clássicas diante de um eventual estouro.

Rompimento de padrões preocupa

O Japão concentrou nova fonte de alerta. O iene perdeu valor mesmo com queda das bolsas asiáticas e alta dos juros locais. Os títulos públicos de 10 anos atingiram 1,8%, o maior nível desde 2008. Os de 30 anos chegaram a 3,4%, o maior da história japonesa.

Esse padrão de desorganização entre moeda, ações e renda fixa é típico de crises em mercados emergentes e ressurgiu nos EUA no primeiro semestre. Analistas temem que o fenômeno volte a ganhar escala.

Cautela, mas sem pânico

Oliver Jones, da Rathbones, afirmou à CNBC que não acredita na existência de uma “bolha de tudo”. Segundo ele, “as ações nos EUA — especialmente no setor de tecnologia e entre empresas vistas como beneficiárias dos investimentos em IA — estão, sem dúvida, caras pelos padrões históricos”, mas “ao contrário do pico da mania da internet há 25 anos, os papéis não estão caros de forma generalizada”.

Michael Field, da Morningstar, compartilha a cautela, mas também rejeita a ideia de uma bolha generalizada. "Não parece, da nossa perspectiva, que estejamos em uma bolha total, felizmente”, disse ele à CNBC. De acordo com a análise da casa, os mercados nos EUA operavam com “quase 5% de desconto” em relação ao valor justo estimado e, na Europa, “perto de 3% de desconto”. Field acrescenta que empresas como Tesla e Nvidia estão sobrevalorizadas, enquanto Alphabet, Meta e Microsoft ainda apresentam espaço para valorização.

Na mesma linha, Toni Meadows, da BRI Wealth Management, disse ao site americano que também não enxerga uma bolha ampla. Mas alertou para sinais de riscos crescentes na economia real, especialmente em torno do emprego, e o impacto final da tecnologia provavelmente agravará isso em algum momento”.

Para lidar com o cenário atual, Meadows recomenda cautela. “Gerenciar uma carteira diversificada que equilibre os riscos é provavelmente mais aconselhável do que alocar novos recursos antes do orçamento no Reino Unido”.

A dúvida permanece. Parte do mercado teme uma nova correção. Outra parte teme perder o próximo rali. No centro da discussão, a IA segue como catalisador — mas não é mais a única variável no radar.

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