Bolsa de Nova York: Trump voltou a propor balanços semestrais em posts nas redes sociais (TIMOTHY A. CLARY/AFP/Getty Images)
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Publicado em 16 de setembro de 2025 às 07h56.
Por mais de meio século, empresas listadas nos Estados Unidos publicam resultados trimestrais. Mas nesta segunda-feira, 15, o presidente Donald Trump voltou a defender que a divulgação seja feita a cada seis meses, em uma série de postagens nas redes sociais.
Trump argumentou que a mudança permitiria “economizar dinheiro e permitir que gestores se concentrem em administrar adequadamente suas companhias”.
Em 2018, o republicano já havia levantado a proposta, dizendo que conversou com “alguns dos maiores líderes empresariais do mundo” e que o modelo semestral traria mais flexibilidade.
O analista Jaret Seiberg, do TD Cowen, atribuiu 60% de chance de a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) adotar o sistema semestral. Outros nomes de Wall Street demonstraram ceticismo, destacando riscos de menor prestação de contas e aumento da volatilidade.
O modelo de resultados trimestrais foi instituído em 1970 pela SEC, em esforço iniciado após a quebra da Bolsa de 1929 para ampliar a transparência.
Analistas e estrategistas ouvidos pela Bloomberg avaliaram os possíveis impactos da proposta de Trump para substituir os balanços trimestrais por divulgações semestrais. As opiniões se dividiram entre quem vê ganhos de eficiência para as empresas e quem alerta para riscos de menor transparência e maior volatilidade nos mercados.
Jaret Seiberg, diretor-gerente no TD Cowen, avaliou que a proposta tem sintonia com a agenda de desregulação do presidente da SEC, Paul Atkins, e que passou de “improvável a provável, embora não garantida”.
Irene Tunkel, estrategista-chefe de ações dos EUA no BCA Research, afirmou que a divulgação trimestral se tornou mais um jogo de expectativas do que fonte de informação. “Com quase 80% das empresas superando projeções a cada trimestre, a credibilidade das estimativas está se corroendo, e a pressão por metas de curto prazo distorce decisões de negócios.”
Sarah Bianchi, da Evercore ISI, disse que Trump não deve pressionar fortemente no curto prazo, o que permitiria à SEC conduzir um processo normal de avaliação.
Jonathan Golub, da Seaport Research Partners, defendeu que mais informações e transparência tornam os mercados de capitais mais produtivos. “O mercado recompensará quem reportar de forma mais aberta e frequente.”
Ed Mills, analista do Raymond James, ponderou que o fim da obrigação trimestral é improvável porque está previsto na Lei do Mercado de Capitais de 1934. Ele destacou, porém, que a SEC tem espaço para flexibilizar o conteúdo exigido em cada divulgação.
Sameer Samana, do Wells Fargo Investment Institute, alertou que intervalos maiores trariam mais incerteza e, consequentemente, mais volatilidade. Kim Forrest, da Bokeh Capital Partners, avaliou que seria negativo para gestores de portfólio pela perda de interações com as empresas em conferências de resultados.
Michael Kantrowitz, da Piper Sandler, afirmou que a mudança poderia reduzir a volatilidade e o foco de curto prazo, embora considere improvável que seja implementada.
Brian Nick, da Newedge Wealth, disse que a menor frequência de dados poderia aumentar os prêmios de risco e reduzir as avaliações do mercado. Já Matt Maley, da Miller Tabak, classificou a medida como uma “espada de dois gumes”: daria mais liberdade às empresas para planejar o longo prazo, mas dificultaria a vida de investidores e traders de opções.