A mexicana Femsa vai continuar operando as mais de 600 lojas do Oxxo no Brasil (Divulgação/Divulgação)
Editor de Invest
Publicado em 5 de setembro de 2025 às 07h14.
Última atualização em 5 de setembro de 2025 às 07h23.
A dissolução da joint venture entre Raízen (RAIZ4) e a Femsa, que deu origem ao Grupo Nós, deixou nas mãos da mexicana, principal engarrafadora da Coca-Cola no mundo, a missão de operar o Oxxo no Brasil. Especialistas do varejo com os quais a EXAME conversou estão divididos quanto ao futuro da rede de minimercados no país.
A distribuidora de combustíveis controlada por Cosan e Shell teve seus motivos para abandonar a parceria. Endividada, a Raízen está se desfazendo de ativos para reduzir a alavancagem e simplificar o portfólio, enquanto deixa em aberto a possibilidade de um aumento de capital.
"Os negócios não tinham tanta sinergia", diz Alberto Serrentino, sócio da Varese Retail.
Na parceria com a Femsa, a Raízen entrava com 1.256 lojas de conveniência Shell Select e Shell Café, que operam, majoritariamente, no modelo de franquias. Com a Femsa, ficaram os 611 mercados de proximidade do Oxxo, todos lojas próprias.
O modelo de negócios da rede de minimercados demanda alto investimento e consome muito caixa, explica Serrentino.
O Oxxo trabalha com logística fracionada, quando um mesmo método de transporte leva remessas para diferentes unidades. Daí vem a necessidade de ter uma loja em cada esquina, para que haja um 'corredor' de entregas.
E por ter unidades localizadas somente em centros urbanos do Estado de São Paulo, a empresa está exposta aos aluguéis mais caros do país.
Serrentino lembra que os planos do Oxxo no Brasil são de longo prazo e que a rede continua com um plano de abertura de lojas ainda bastante agressivo.
Porém, ele acredita que a Femsa tem condições de continuar expandindo o negócio, mesmo com a saída da Raízen. "Eles têm uma retaguarda forte para sustentar os investimentos".
A logística que o Grupo Nós construiu, o que inclui um Centro de Distribuição em Cajamar, na Grande São Paulo, vai continuar servindo às lojas Shell Select e Café.
Além disso, a Femsa vai herdar o caixa e também a dívida deixada pelo Grupo Nós.
Os números financeiros do Oxxo são fechados e seus último registros públicos estão em um prospecto de 2023, quando a joint venture foi a mercado para levantar R$ 300 milhões com uma emissão de CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio).
No primeiro trimestre daquele ano, o Grupo Nós registrou um prejuízo de R$ 166 milhões. A dívida bruta da joint venture era de R$ 411 milhões e a líquida, de R$ 253,4 milhões.
Naqueles três meses, o Nós utilizou R$ 115,1 milhões de caixa líquido nas atividades operacionais e desembolsou R$ 189 milhões em investimentos (capex).
Sem dados públicos atualizados, não há visibilidade sobre a maturação das lojas.
No México, seu país de origem, o Oxxo tem mais de 23 mil lojas, espalhadas por todo o país. Mas lá ele não é só um "mercadinho", funciona também como um correspondente bancário onde o cliente pode realizar pagamentos e até sacar dinheiro.
Tem até um meio de pagamento próprio, o aplicativo "Spin by Oxxo", com sua "tarjeta" Spin.
"Dificilmente você replica no Brasil o que foi feito no México, porque temos outra oferta instalada de concorrência. Eles lá fizeram esse mercado e implementaram serviços financeiros que tornaram as lojas muito acessadas", diz Serrentino.
Mauricio Grandeza, consultor de varejo que já foi diretor de operações no Carrefour Brasil e head de market place no Mercado Livre, acredita que o Oxxo sofre um baque ao sair do guarda-chuva que também abrigava as mais de 1.200 lojas de conveniência da Shell.
Enquanto parte do Grupo Nós, o Oxxo fazia parte de um negócio de atuação nacional. Sozinho, é uma rede que atua somente em São Paulo, sobretudo na capital, e parece enfrentar dificuldades de expansão fora desse território, avalia Grandeza.
"A estratégia, até hoje, parece não ter sido suficiente para atrair um bom volume de clientes. Além de abrir muitas lojas, talvez o Oxxo tenha que trazer para cá o serviço financeiro, que é o que leva as pessoas às unidades no México", diz.
"No Brasil, esse é o segredo. O Mercado Livre se diferencia de outros market places, por exemplo, pelo banco [Mercado Pago], que tem milhões de usuários. Isso fideliza, cria um ecossistema".
Grandeza, que hoje é presidente da Associação dos Profissionais do Varejo (Aprovare), diz que não se surpreenderia se o Oxxo viesse a encerrar sua operação no Brasil. "Tem um tamanho irrelevante perto do que é o Oxxo no México".
Mas, ao que parece, esses não são os planos da Femsa. Executivos da mexicana foram às redes sociais dizer que o Brasil continua sendo prioridade estratégica para o negócio e representa uma oportunidade de crescimento significativa.
"Avançamos com otimismo, comprometidos com a excelência, expansão e criação de valor no longo prazo, nos consolidando como a rede varejista de crescimento mais rápido no país", escreveu Constantino Spas, CEO da Femsa nas Américas, em seu perfil no Linkedin.