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Ações europeias disparam em 2025 e superam Wall Street. É hora de investir no Velho Continente?

Com guerra comercial e expectativas de maiores gastos na Europa, diferencial entre índice de ações do Velho Continente e o S&P 500 bateu recorde

Bolsa de Londres: o índice pan-europeu Stoxx 600 superou o S&P 500 por quase 17 pontos percentuais (Mike Kemp/In Pictures/Getty Images)

Bolsa de Londres: o índice pan-europeu Stoxx 600 superou o S&P 500 por quase 17 pontos percentuais (Mike Kemp/In Pictures/Getty Images)

Carolina Ingizza
Carolina Ingizza

Redatora na Exame

Publicado em 31 de março de 2025 às 11h27.

Última atualização em 31 de março de 2025 às 12h04.

O primeiro trimestre de 2025 será lembrado como um marco histórico para o mercado de ações europeu. O índice europeu Stoxx 600 superou o S&P 500 por quase 17 pontos percentuais em termos de dólares no primeiro trimestre de 2025, uma performance recorde. A grande questão agora é se essa recuperação será duradoura.

Por anos, o foco das atenções dos investidores esteve voltado para os Estados Unidos, onde as gigantes de tecnologia e a economia forte impulsionaram um período de domínio absoluto. No entanto, o aumento da incerteza em torno das políticas tarifárias do presidente Donald Trump e os cortes de empregos no governo agora passaram a beneficiar o Velho Continente.

O que atraiu investidores inicialmente foi a percepção de valor nas ações europeias, que estavam notavelmente baratas após anos de desempenho abaixo da média.

Em entrevista à Bloomberg, Daniel Nicholas, gerente de portfólio da Harris Associates, que tem grande exposição à Europa, afirmou: "Estivemos esperando por muito tempo por essa mudança de sentimento. As empresas europeias estavam mal precificadas."

Em particular, a Alemanha se destacou, com o índice DAX subindo 13%. Os planos fiscais do país, focados em defesa e infraestrutura, elevaram o otimismo em relação às perspectivas da economia e dos lucros das empresas.

Valorização do Euro

Com o fortalecimento das expectativas em torno da economia europeia, o euro também viu uma valorização, atingindo US$ 1,10 em março, depois de ter se aproximado da paridade com o dólar no mês anterior.

Algumas casas de análise, como a Vanguard, não descartam a possibilidade de que a moeda europeia continue se valorizando e chegue a US$ 1,20 até o fim de 2025.

Além disso, o mercado de títulos também está sendo ajustado, com investidores exigindo mais para absorver o aumento da oferta de títulos do governo alemão. A Aviva Investors e o BNP Paribas acreditam que os rendimentos dos bunds de 10 anos podem chegar a 4%, nível não visto desde a crise financeira de 2008.

Defesa em destaque

O grande vencedor deste movimento tem sido o setor de defesa, com empresas como a Rheinmetall AG apresentando ganhos expressivos. Um índice de ações de defesa do Goldman Sachs subiu 70% neste ano, e os investidores estão pagando um prêmio de 100% em relação ao mercado em geral, apostando que o rearmamento da Europa impulsionará os ganhos.

Entretanto, a recuperação está concentrada em poucas áreas e ainda depende da implementação dos planos fiscais dos governos europeus. Setores tradicionais, como automóveis e saúde, estão apresentando desempenho inferior ao mercado como um todo. A velocidade com que as mudanças nas políticas se traduzirão em lucros ainda é incerta.

Ariane Hayate, gestora de fundos da Edmond de Rothschild Asset Management, acredita que o aumento nas ações de setores como construção e materiais pode ser um um movimento temporário.

"Do que ouvi de gestores do setor, é improvável que os esforços de reconstrução na Ucrânia, quando iniciados, se traduzam em lucros significativos", afirmou à Bloomberg.

Desafios à frente

Apesar do otimismo, a Europa ainda enfrenta desafios consideráveis. A falta de uma política fiscal unificada continua sendo um obstáculo, e os mercados de capitais fragmentados dificultam a absorção de grandes fluxos de investimentos globais.

Além disso, o aumento das tensões comerciais e a incerteza sobre a economia da China, crucial para os exportadores europeus, ainda pesam no horizonte. A elevação nas taxas de juros também lembra que políticas fiscais expansivas têm um custo.

No entanto, para muitos investidores, os aspectos positivos superam os riscos. Holger Schmieding, economista chefe do Berenberg, destacou que, em mais de 30 anos de mercado, raramente viu um aumento tão repentino no otimismo em torno do euro. Pode ser o começo de uma nova fase para o continente.

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