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Are baba! Por que a Índia virou caminho para empresas que querem ter ações na bolsa

País já movimentou US$ 6,7 bilhões em IPOs este ano e lidera mercado global de ofertas de ações fora dos EUA

IPOS: Índia lidera em IPOs em 2025 - com exceção dos EUA (Montagem EXAME/Canva/Exame)

IPOS: Índia lidera em IPOs em 2025 - com exceção dos EUA (Montagem EXAME/Canva/Exame)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 12 de julho de 2025 às 06h00.

A Índia caminha para um ano recorde em Ofertas Públicas Iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês): o valor captado atingiu US$ 6,7 bilhões neste ano, em comparação com os US$ 5,4 bilhões no mesmo período do ano passado, tornando a Índia o maior mercado de IPOs do mundo fora dos Estados Unidos, segundo dados da Dealogic.

As listagens podem adicionar de US$ 2 trilhões e US$ 3 trilhões de valor de mercado na próxima década, disse Vishal Kampani, vice-presidente e diretor administrativo da JM Financial Ltd, à Bloomberg. Atualmente, as empresas listadas no mercado acionário indiano somam cerca de US$ 5 trilhões em market cap, conforme dados compilados pela agência.

O movimento ocorre depois que o valor das listagens primárias atingiu seu nível mais alto no ano, devido aos cortes nas taxas de juros na Índia, às perspectivas de crescimento da economia local e uma forte demanda interna por ações.

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Diversas listagens muito aguardadas, incluindo a esperada oferta pública de ações da Tata Capital de US$ 2 bilhões, podem impulsionar a Índia a superar os US$ 21 bilhões captados no ano passado - com destaque, em 2024, para a estreia da unidade local da Hyundai Motor Co., considerada a maior da história.

“Veremos uma aceleração significativa no mercado primário em comparação ao primeiro semestre”, disse, ao Financial Times, Sunil Khaitan, diretor administrativo e chefe de financiamento da Índia no Goldman Sachs, que espera arrecadar até US$ 20 bilhões no segundo semestre do ano.

O principal índice acionário da Índia, o blue chip Nifty 50, teve uma reviravolta ao longo desses meses: iniciou o ano fraco, quando a Índia lidava com sinais de desaceleração econômica, turbulências causadas pelas tarifas do presidente americano Donald Trump e um breve conflito com o Paquistão. O índice agora acumula alta de cerca de 7% neste ano e se aproxima de um recorde.

Por que tantos IPOs?

O ambiente positivo para os mercados tem sido reforçado pelos cortes de juros promovidos pelo Banco da Reserva da Índia, que reduziu a taxa básica em um ponto percentual este ano. “Novos cortes nas taxas de juros pelo banco central devem alimentar o apetite dos investidores nacionais por ações em geral, incluindo IPOs”, afirmou ao Financial Times, Hasnain Malik, estrategista-chefe do grupo de pesquisa Tellimer.

Ele também destacou que os investidores institucionais estrangeiros continuam “subponderados” na Índia em relação aos seus benchmarks, o que indica espaço para alocar recursos em novas ofertas.

Apesar disso, a ausência de um acordo comercial entre Nova Déli e Washington e o risco de novas tarifas impostas pelos EUA adicionam incertezas.

Segundo Perris Lee, chefe de mercados de ações da Ásia-Pacífico no Mergermarket, a Índia "precisaria de mais alguns acordos [de IPO] para dar certo e determinar se o mercado em alta está de volta, especialmente em um momento em que o cenário macroeconômico permanece incerto".

Embora investidores internacionais tenham retirado US$ 8 bilhões da bolsa indiana neste ano, preocupados com os altos múltiplos, os aportes locais mais do que compensaram esse movimento. Segundo estimativas do Goldman Sachs, os fundos domésticos injetaram mais de US$ 42 bilhões no mercado.

Números bons pós-IPOs

As empresas que planejam abrir capital estão se apressando para aproveitar a melhora do ambiente. A ICICI Prudential Asset Management, por exemplo, protocolou nesta semana pedido para levantar até US$ 1,2 bilhão com sua oferta inicial - o que pode se tornar a terceira listagem bilionária do país neste ano.

Já a PhonePe, controlada pela Walmart Inc. e líder em pagamentos digitais na Índia, está finalizando os documentos para um IPO de até US$ 1,5 bilhão, segundo informações da Bloomberg. Também há expectativa de que a LG Electronics Inc. retome ainda este ano o processo de IPO de sua unidade indiana, com possibilidade de estreia já em setembro, conforme fontes próximas ao assunto.

Com mais capital disponível internamente, o volume e o tamanho dos negócios também estão aumentando. Há uma fila crescente de operações em setores como energia renovável, consumo, farmacêutico, manufatura, varejo e serviços financeiros, pontua a Bloomberg.

“Temos o maior pipeline de negócios de todos os tempos”, disse Kampani ao jornal, acrescentando que cada vez mais operações superam a marca de US$ 1 bilhão.

O bom desempenho das companhias que estrearam recentemente também tem animado o mercado. A HDB Financial Services, que levantou US$ 1,5 bilhão em seu IPO no início do mês, acumula alta de 5% desde a estreia. Já a empresa de tecnologia Hexaware subiu quase 15% após captar US$ 1 bilhão em fevereiro.

“Esses dois negócios aumentam certamente a confiança de uma longa lista de candidatos a IPOs no país”, disse Lee, do Mergermarket, ao Financial Times. “Devemos esperar mais IPOs de médio e grande porte para testar o apetite do mercado em breve.”

Entre as próximas listagens aguardadas estão a operação indiana da sul-coreana LG, a corretora digital Groww e a plataforma de e-commerce Meesho.

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