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Argentina intervém no câmbio e vende dólares para conter queda do peso

Banco central fez a primeira venda desde abril, em meio a crise política e econômica que pressiona o governo Milei

O peso caiu cerca de 12% no último mês, intensificando as perdas que começaram em julho (Luis Robayo/AFP)

O peso caiu cerca de 12% no último mês, intensificando as perdas que começaram em julho (Luis Robayo/AFP)

Publicado em 18 de setembro de 2025 às 10h11.

O banco central da Argentina interveio no mercado de câmbio e vendeu US$ 53 milhões na quarta-feira, 17, para sustentar o peso em queda. Foi a primeira intervenção direta desde que o presidente Javier Milei promoveu a flutuação parcial da moeda em abril, segundo o jornal britânico Financial Times.

A venda ocorreu quando a moeda atingiu o limite inferior da banda de flutuação, de cerca de 1.475 pesos por dólar. Esse mecanismo foi estabelecido há cinco meses como parte de um acordo de US$ 20 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

No mesmo dia, dados oficiais mostraram que a economia argentina recuou 0,1% no segundo trimestre em relação ao primeiro, interrompendo uma recuperação incipiente após anos de crise.

O governo enfrenta também turbulências políticas, após uma derrota significativa em eleições locais na província de Buenos Aires e um escândalo de corrupção envolvendo Karina Milei, irmã e chefe de gabinete do presidente.

A instabilidade ampliou a pressão sobre o câmbio. O peso caiu cerca de 12% no último mês, intensificando as perdas que começaram em julho, quando o banco central argentino conduziu de forma problemática a retirada de instrumentos de crédito de curto prazo.

Crise política amplia pressão sobre Milei

Medidas adicionais para segurar a moeda, como aumento dos juros e das exigências de reserva dos bancos, tiveram efeito limitado e afetaram a atividade econômica. Pesquisas indicam que o impacto pode prejudicar o governo nas eleições legislativas de outubro.

“O governo está ficando sem instrumentos para defender o regime cambial”, disse Amilcar Collante, professor de economia da Universidade Nacional de La Plata, ao Financial Times. “Está, de certa forma, encurralado, pelo menos até as eleições.”

Analistas também alertam que a venda de dólares, em meio às reservas já escassas, ameaça o plano de Milei de retomar o acesso ao mercado internacional de capitais e reduzir a dependência do FMI.

A crise pressiona ainda a dívida soberana. O prêmio de risco argentino, medido pela diferença entre os rendimentos dos títulos do país e os dos Treasuries americanos, subiu 2,6 pontos percentuais desde 7 de setembro, após a derrota eleitoral. O spread está em 11,7%.

Enquanto isso, o governo tenta negociar apoio com governadores da oposição para avançar em sua agenda de ajuste fiscal e reformas de mercado. Mas sofreu nova derrota nesta quarta-feira, quando a Câmara dos Deputados derrubou, por ampla maioria, o veto de Milei a duas leis que aumentam recursos para hospitais e universidades.

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