Mercados

Bolsa e real mostram investidor à mercê da política

A queda e a consequente recuperação ilustram a natureza tênue dos ganhos de ativos brasileiros neste ano


	Notas de real: Ibovespa encerrou o dia em queda de 1,4 por cento, atingindo o valor de fechamento mais baixo desde 11 de abril, enquanto o real caiu 0,4 por cento
 (Uelder-ferreira/Thinkstock)

Notas de real: Ibovespa encerrou o dia em queda de 1,4 por cento, atingindo o valor de fechamento mais baixo desde 11 de abril, enquanto o real caiu 0,4 por cento (Uelder-ferreira/Thinkstock)

DR

Da Redação

Publicado em 11 de maio de 2016 às 09h17.

Durante cerca de meia hora, parecia que o rali dos mercados brasileiros, recorde mundial no ano, seria rapidamente desmantelado.

Poucos minutos antes do meio-dia, em um dia de negociações relativamente calmo em São Paulo, o real repentinamente teve a maior queda em quatro anos e foram eliminados US$ 16,5 bilhões em valor do Ibovespa. Nos 30 minutos seguintes, ambos os mercados haviam se recuperado praticamente por completo.

A queda e a consequente recuperação ilustram a natureza tênue dos ganhos de ativos brasileiros neste ano. O Ibovespa e o real apresentam alguns dos melhores desempenhos do mundo em meio a apostas de que a presidente Dilma Rousseff sofrerá impeachment e será substituída por um governo mais favorável ao mercado.

Essa tese foi colocada em dúvida ao meio-dia de segunda-feira, quando o presidente em exercício da Câmara inesperadamente convocou uma nova votação do impeachment na casa, tendo recuado dessa decisão mais tarde.

O anúncio inicial gerou pânico entre os investidores que já davam a saída de Dilma como certa. A relativa calma retornou quando ficou evidente entre os traders que se tratava apenas de um revés temporário. Os fatos se deram após meses de discórdia e incerteza durante a tramitação do processo de impeachment de Dilma na Justiça e posterior aprovação na Câmara. O índice de volatilidade implícita de três meses do real, um indicador das oscilações de preço, é o quarto maior do mundo e o Ibovespa tem a maior flutuação entre os maiores índices de ações.

“O processo de impeachment como um todo continuará sendo turbulento e incerto”, disse Enestor dos Santos, economista principal do Banco Bilbao Vizcaya Argentaria em Madri, antes de Maranhão reverter sua decisão. "É uma decepção. O mercado quer ter certeza de como será o processo".

O Ibovespa encerrou o dia em queda de 1,4 por cento, atingindo o valor de fechamento mais baixo desde 11 de abril, enquanto o real caiu 0,4 por cento. As ações brasileiras deram retorno de 31 por cento em dólares neste ano, o maior entre os principais mercados do mundo, enquanto o avanço de 13 por cento do real é o mais elevado entre as cerca de 150 moedas monitoradas pela Bloomberg em todo o mundo.

A votação desta semana no Senado continuará como planejado, disse o presidente do Senado, Renan Calheiros, na segunda-feira, depois de Maranhão dizer que havia anulado a votação do impeachment do mês passado na Câmara devido a irregularidades nos procedimentos. Posteriormente, Maranhão divulgou um comunicado revogando sua decisão de anular as sessões do impeachment na Câmara.

O caos mostra a disfunção das instituições brasileiras, "com cada um dos poderes em posição contrária ao outro e até mesmo grupos dentro do mesmo poder também em conflito", escreveu Rafael Elias, chefe de estratégia para mercados emergentes da Cantor Fitzgerald em Nova York, em nota a clientes.

Acompanhe tudo sobre:Dilma RousseffPersonalidadesPolíticosPolíticos brasileirosPT – Partido dos TrabalhadoresPolítica no BrasilMercado financeiro

Mais de Mercados

Dona da Ray-Ban tem receitas acima do esperado com venda de óculos inteligentes

Peso argentino sob pressão: resgate americano pode não conter fuga de capitais

Mercado Pago supera Itaú em tráfego de usuários mensais, aponta estudo

Dólar fecha em queda com expectativa de queda de juros nos EUA