Milton Maluhy Filho (Itaú/Divulgação)
Repórter de negócios e finanças
Publicado em 6 de agosto de 2025 às 11h53.
O Itaú (ITUB4) divulgou balanço em meio a um clima de "já ganhou". Com números que "revelam a robustez do negócio", conforme diz relatório do Safra, a instituição foi líder isolada entre os bancões na atual temporada – exatamente como o esperado. O Banco do Brasil conseguiu disputar essa liderança em um passado recente e ainda vai divulgar resultados, na próxima semana – mas com expectativas nada animadoras. O Itaú, por sua vez, fez jus à comparação a um "relógio suíço", preciso em sua execução, mas sem nada muito fora da curva a reportar - ao menos por enquanto.
"Fico feliz de termos um resultado boring, porque isso, no fundo, tem muito valor para o investidor", disse o CEO Milton Maluhy Filho. "Ser consistente na entrega de resultados é fundamental para uma organização do nosso tamanho".
O Itaú reportou lucro líquido recorrente de R$ 11,5 bilhões no segundo trimestre de 2025. O resultado é 14,3% maior que o registrado um ano antes e veio em linha com as expectativas dos analistas. O retorno sobre patrimônio líquido (ROE) do banco foi de 23,3%, com avanço de 0,8 ponto percentual em relação à rentabilidade dos três primeiros meses deste ano.
"Entendemos que vamos conseguir continuar entregando rentabilidade acumulada acima de 20%", diz o executivo, que citou ao longo da entrevista coletiva um cenário de possível desaceleração econômica no Brasil, por conta dos juros elevados da economia.
O banco não tem guidance para o indicador de rentabilidade, que "depende de N variáveis", esclarece o CEO. Capacidade de crescimento, dinâmica de geração de receitas e custo de crédito. Este, segundo as projeções do banco, está em torno de 15%. "Rentabilidade [ROE] acima disso é criação de valor".
O "pelo em ovo" do último balanço do Itaú está nas despesas não decorrentes de juros, que cresceu quase dois dígitos de um ano para o outro (9,4%), para R$ 16,5 bilhões. Isso mesmo contando com uma redução de 9,5% em gastos com aluguéis, em linha com otimização da rede de agências físicas. É que os investimentos estratégicos em tecnologia aumentaram em mais de 22% de um ano para o outro e impulsionaram o crescimento das despesas.
"Esses investimentos vão continuar naturalmente acontecendo, devemos entrar num período de estabilização desse crescimento de despesa e, naturalmente, em um programa de eficiência mais forte olhando para frente", diz o CEO.
Após a divulgação dos resultados trimestrais, o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle de EXAME) reiterou a visão de que a transformação digital do banco está próxima de mudar a narrativa de eficiência. O Itaú anunciou que pretende migrar toda sua infraestrutura para nuvem até 2028 e o BTG estima que o banco poderá reduzir em 10 mil pessoas a sua força de trabalho. A partir daí, os custos com varejo passariam a diminuir de forma mais material.
"A gente acha que tem espaço, sim, para colher resultados dos investimentos que foram feitos e a gente está, sim, com uma disciplina enorme olhando o horizonte sempre mais longo de tempo, sem abrir mão de investir na operação", afirmou Maluhy.
O índice de eficiência do banco, que mede a relação entre receita e despesa, ficou em 38,8% no segundo trimestre.
"Na medida que a gente começar a ajustar o índice de eficiência de forma mais relevante, isso vai abrir espaço para operações de crédito que hoje não param de pé porque não tem a rentabilidade necessária", explicou Maluhy, na call com analistas. "A gente vai poder entrar em outros públicos que não adentramos por essa limitação. É para lá que a gente vai, sem dúvida".
O CEO do Itaú também afirmou que o objetivo do banco não é aumentar a fatia do lucro distribuída em proventos. A prioridade, segundo ele, é reinvestir o capital do banco pensando em rentabilidade ao acionista e, aí sim, distribuir o excesso que não for utilizado.
Com base no resultado do segundo trimestre, o Safra calcula que o payout de 2025 será de 72%, o que equivale a uma distribuição de proventos da ordem de R$ 33 bilhões. Formalmente, o banco não da guidance, mas o CEO diz que "tudo mais constante, a expectativa é de dividendo adicional importante no início do ano que vem".
"Vamos lembrar que a gente tem quase dois trimestres ainda para cumprir, entregar resultado, gerar capital. É muito difícil prever com antecipação o que pode acontecer no cenário macro e micro".