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Briga nas galáxias: Nasa pode trocar Musk por Bezos para chegar à Lua

Com a SpaceX atrasada no cronograma da Artemis III, a Nasa reabre contrato e dá espaço à Blue Origin, de Jeff Bezos, que avança com novos projetos lunares

Elon Musk e Bezos (Wikimedia Commons/Montagem/Exame)

Elon Musk e Bezos (Wikimedia Commons/Montagem/Exame)

Publicado em 23 de outubro de 2025 às 06h45.

A relação de mais de cinco anos entre a SpaceX e a Nasa está estremecida. Isso porque, segundo a agência espacial dos Estados Unidos, a empresa liderada por Elon Musk está demorando para fazer as entregas necessárias para que o ser humano consiga pisar novamente na Lua.

Na segunda-feira, 20, o secretário de Transportes e administrador interino da Nasa, Sean Duffy, afirmou que a agência "não irá esperar por uma empresa".

Segundo ele, a SpaceX está "atrasada" na missão Artemis III/IV, o que pode influenciar negativamente os EUA na corrida espacial contra a China.

A pressão por resultados fez a Nasa reabrir oficialmente o contrato da missão Artemis III, inicialmente concedido à SpaceX. A agência agora busca acelerar a missão que deve levar astronautas ao satélite natural até o fim da década.

Segundo Duffy, "a Nasa está comprometida em garantir uma presença americana na Lua antes de 2029". O prazo está alinhado com o fim do atual mandato presidencial, de Donald Trump.

A atrasada nave Starship, da SpaceX, enfrentou falhas em testes recentes e ainda não demonstrou capacidade de abastecimento em órbita — um dos requisitos centrais para a missão.

E, na maratona para chegar à Lua até 2027, desponta como forte concorrente a Blue Origin, de Jeff Bezos.

Pressão geopolítica e corrida com a China

A reabertura do contrato da Artemis III ocorre sob forte pressão geopolítica. Com a China acelerando sua própria missão lunar tripulada para antes de 2030, os EUA veem a chegada antecipada como um trunfo de prestígio e liderança tecnológica.

Duffy destacou que "a questão não é mais se vamos voltar à Lua, mas quando e com quem". Nesse novo cenário, a Nasa estuda escalar o número de empresas contratadas por missão, aumentando a cadência de lançamentos e garantindo redundância operacional.

A estratégia inclui analisar propostas até 29 de outubro, com possibilidade de novos contratos para missões já em andamento — como a Artemis IV — e futuras iniciativas.

Azul no caminho

A Blue Origin, em meio aos atrasos da SpaceX, vem consolidando seu espaço no programa Artemis da Nasa com uma série de contratos estratégicos que a colocam no centro das ambições lunares dos Estados Unidos.

Em 2023, a empresa fechou com a agência espacial um contrato de US$ 3,4 bilhões para desenvolver o Blue Moon, módulo de pouso tripulado que será utilizado na missão Artemis V, prevista para 2029. A missão levará astronautas ao polo sul da Lua para realizar atividades científicas de longa duração.

O contrato inclui o desenho, desenvolvimento e testes completos do sistema de pouso, além de uma missão de demonstração não tripulada antes do voo oficial. O Blue Moon será acoplado à estação orbital Gateway, e os astronautas farão a transição para o módulo antes da descida à superfície lunar.

Para executar o projeto, a Blue Origin montou um consórcio de peso, envolvendo empresas como Lockheed Martin (responsável pelo sistema de abastecimento), Boeing (acoplamento), Draper (navegação) e Astrobotic Technology (cargas úteis), além da Honeybee Robotics, encarregada dos sistemas de carga.

Além da missão tripulada, a companhia também está envolvida em operações robóticas.

Em 2025, a Nasa firmou com a Blue Origin um contrato adicional de US$ 190 milhões por meio do programa CLPS (Commercial Lunar Payload Services), que prevê a entrega do robô VIPER à superfície lunar em 2027.

A entrega será feita utilizando o modelo Blue Moon MK1, uma versão simplificada do lander, que deve ser testada previamente em missão de demonstração. A liberação do pouso com o VIPER está condicionada ao sucesso desses testes. O objetivo é explorar áreas próximas ao polo sul lunar em busca de recursos como gelo de água, essencial para futuras operações humanas e produção de combustível localmente.

Musk vs. Bezos: do solo ao espaço

A competição entre Musk e Bezos não é nova.

Desde que fundaram suas empresas espaciais no início dos anos 2000 — a Blue Origin, em 2000, e a SpaceX, em 2002 —, os dois travam uma disputa que envolve tecnologia, patentes, decisões judiciais e provocações públicas.

Em 2021, quando a Nasa optou pela SpaceX para a Artemis III, Bezos entrou com protestos formais e até ação judicial, acusando a agência de favorecer injustamente o concorrente. O caso foi arquivado, e a SpaceX seguiu com os trabalhos — que hoje enfrentam atrasos relevantes.

Enquanto isso, a Blue Origin avança em silêncio, ampliando sua estrutura e realizando o primeiro lançamento do foguete New Glenn em 2025. Com isso, para analistas, pode ganhar pontos como fornecedora mais confiável aos olhos da agência espacial americana.

A tensão entre os bilionários é, hoje, uma peça-chave do futuro espacial dos Estados Unidos. Ambos comandam empresas com bilhões em contratos com a Nasa, tecnologias disruptivas e ambições de colonização da Lua e de Marte.

A SpaceX ainda lidera em número de lançamentos e está à frente no desenvolvimento de tecnologias como o Starship, que pode ser reaproveitado em missões interplanetárias. Já a Blue Origin aposta na robustez industrial e na integração com gigantes da engenharia para ganhar escala.

E, se em solo a competição de Musk e Bezos como pessoa mais rica do mundo parece já ter um vencedor, no espaço as coisas podem ser diferentes. 

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