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Cedeu à pressão de Trump? Tom de Powell foi 'dovish' e indica ciclo de alívio, dizem analistas

Apesar de não sinalizar explicitamente corte de juros e apresentar tom moderado, mercado aumentou apostas sobre um corte de juros na próxima reunião do Fed

Juros: discurso mais dovish de Powell anima investidores (Julia Nikhinson/Getty Images)

Juros: discurso mais dovish de Powell anima investidores (Julia Nikhinson/Getty Images)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 22 de agosto de 2025 às 12h27.

A tão aguardada fala do presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano), Jerome Powell, no simpósio de Jackson Hole — o último como chairman da autarquia — animou os mercados nesta sexta-feira, 22. Após suas falas, o Ibovespa e as bolsas americanas sobem quase 2%, à medida que o dólar ante o real e o DXY caem quase 1% às 12h.

O grande destaque do discurso, segundo William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, foi que a autoridade vê a inflação como potencialmente temporária e que os riscos para desaceleração do mercado de trabalho aumentaram: com isso, pode ser apropriado um ajuste na política monetária.

"Com a política em território restritivo, a perspectiva básica e a mudança no equilíbrio de riscos podem justificar o ajuste de nossa postura política”, considerou o chairman.

Essa observação levou o mercado a entender um tom mais ‘dovish’ e que deve ter um corte de juros na próxima reunião de setembro. Na plataforma FedWatch, do CME Group, as chances de corte nos fed funds em setembro saltaram de 74,97% para 93,05%, após as falas de Powell.

Para Paula Zobi, estrategista-chefe da Nomad, o discurso de Powell em Jackson Hole trouxe um novo grau de otimismo para um mercado altamente apoiado na expectativa de uma breve retomada do ciclo de cortes de juros.

“Apesar de reconhecer que o ambiente macro continua desafiador, especialmente com as mudanças em imigração e políticas comerciais afetando oferta e demanda com efeitos difíceis de antecipar, o presidente do Fed afirmou que a política monetária está restritiva e sinalizou a proximidade de ajustes, o que resultou em uma resposta imediata dos ativos”, diz.

Interferências políticas

Em meio às pressões de Donald Trump para cortes imediatos de juros, chamando, inclusive, Powell de “atrasado”, “idiota teimoso” e “estúpido”, o presidente do Fed buscou tranquilizar o mercado em relação a interferências políticas nas decisões do banco central.

“Ele disse que as decisões de política monetária serão tomadas somente em cima de dados e suas implicações para a perspectiva econômica e o balanço de riscos, e que essa abordagem jamais será deixada de lado pelos membros do comitê”, comenta Zogbi.

De acordo com ela, essa postura firme é essencial para manter o nível de juros de longo prazo controlados, já que uma política monetária pouco confiável aumenta a precificação de risco de uma economia e, consequentemente, as taxas cobradas pelo mercado para investir em seus ativos.

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