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China avança em corrida do ouro para reduzir dependência do dólar

Além de elevar as compras de ouro nos últimos anos, o país também quer ser guardião do metal de outras nações

Ouro: metal bateu recorde cotado a US$ 3.707,40 nesta semana (OsakaWayne Studios/Getty Images)

Ouro: metal bateu recorde cotado a US$ 3.707,40 nesta semana (OsakaWayne Studios/Getty Images)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 28 de setembro de 2025 às 06h00.

Em meio à uma corrida pela "desdolarização" dos bancos centrais (BCs), intensificada especialmente pela sanções à Rússia após a invasão da Ucrânia, a China vem ampliando suas reservas de ouro nos últimos anos. Para se ter uma ideia, em 2023 o Banco Popular da China (PBOC) comprou mais ouro do que todos os demais bancos centrais do mundo juntos.

Agora, o gigante asiático também entrou na disputa pela custódia do metal de nações estrangeiras, com o objetivo de reforçar seu papel no sistema financeiro global e desafiar a hegemonia do dólar, dos Estados Unidos, do Reino Unido e da Suíça.

Segundo a Bloomberg, o PBOC tem usado a Bolsa de Ouro de Xangai (SGE) para cortejar bancos centrais de países aliados e já atraiu o interesse de pelo menos um país, no Sudeste Asiático.

As reservas seriam mantidas em depósitos de custódia ligados ao Conselho Internacional da SGE, subordinado ao PBOC e criado pelo banco central chinês em 2014. Segundo as fontes, o estoque de ouro seria formado por novas compras, que passariam a compor as reservas do país estrangeiro.

Ouro nas alturas

Diante de riscos geopolíticos crescentes e da política comercial errática do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o ouro voltou ao topo das preferências dos investidores e dos BCs, renovando máximas históricas.

Na última terça-feira (23), o metal atingiu o topo histórico de US$ 3.791,10 a onça-troy, com os investidores globais de olho em possíveis novos cortes de juros nos Estados Unidos.

Na semana passada, o Fed anunciou sua primeira redução de juros desde dezembro, cortando 0,25 ponto percentual — decisão que reforçou as projeções de novos ajustes ainda em 2025. Estimativas apontam para mais dois cortes até o fim do ano, com grandes chances de ocorrerem nos meses de outubro e dezembro.

Com a mudança de cenário nos EUA, analistas observam um novo impulso para o mercado de ouro. “Estamos vendo uma ampliação do interesse por parte de investidores ocidentais, além da demanda já forte da Ásia e de bancos centrais”, disse Giovanni Staunovo, estrategista do UBS, segundo a Reuters.

O Deutsche Bank, por sua vez, ressalta que o ouro deve manter sua posição de "queridinho" dos bancos centrais devido às suas características enquanto ativo escasso. Ao mesmo tempo, "a alta inflação, a instabilidade geopolítica e a independência do dólar, combinadas com os esforços de regulamentação pró-criptomoedas, fazem com que as autoridades reavaliem cada vez a composição de suas reservas".

Dólar em baixa

Segundo relatório do J.P. Morgan, a participação do dólar nas reservas internacionais caiu para menos de 60%, menor patamar em duas décadas. Moedas como o euro, o yuan e até o ouro ganham terreno como alternativas.

A China tem liderado esse processo. Mais de 50% das transações comerciais do país já são liquidadas em yuan, reflexo de acordos bilaterais com Rússia, Índia e parceiros do Oriente Médio. A moeda também é usada em contratos de commodities e empréstimos internacionais.

O yuan representa hoje cerca de 7% do volume global de câmbio — em 2019, era 4%. O volume de pagamentos internacionais em moeda chinesa dobrou desde 2022, segundo a consultoria Trivium.

Aumento das reservas e da produção chinesa

As reservas de ouro do PBOC atingiram o patamar recorde 2.279,5 toneladas no passado, um crescimento de 1,93% em relação ao anterior, segundo a agência de notícias estatal Xinhua, citando dados da Associação Chinesa de Ouro.

A produção do metal na China também aumentou 0,56% no ano passado, totalizando 377,24 toneladas, enquanto o consumo foi de 985,31 toneladas, uma queda de 9,58% na mesma base de comparação.

Já produção de ouro a partir de matérias-primas importadas foi de 156.864 toneladas em 2024, um aumento de 8,83% ano a ano.

Somando essas duas fontes, a produção total de ouro no país atingiu 534,11 toneladas em 2024, alta de 2,85% ano a ano.

Tamanho do desafio

Embora a estratégia chinesa represente mais um passo rumo à consolidação de seu papel no comércio global de ouro, o país ainda está longe de rivalizar com grandes centros financeiros como Londres, no Reino Unido.

Os cofres do Banco da Inglaterra, o BC do Reino Unido, guardam mais de 5 mil toneladas em reservas mundiais, avaliadas em quase US$ 600 bilhões, reforçando a posição da região como principal mercado para o metal.

As reservas declaradas pelo PBOC representam menos da metade desse volume, colocando o BC chinês na quinta posição no ranking global de detentores de reservas de ouro, segundo o Conselho Mundial do Ouro.

Ainda assim, o mercado chinês de ouro — incluindo joias, barras e moedas de investimento — é o maior do mundo.

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