Mercados

China e Fed mudam reação a más notícias nas bolsas globais

Nos EUA, as ações parecem embutir a expectativa de política monetária mais flexível em resposta a um desaquecimento da economia

EUA: últimos indicadores confirmam que a economia americana não está mais imune à desaceleração sincronizada da atividade global (Kevin Lamarque/Reuters)

EUA: últimos indicadores confirmam que a economia americana não está mais imune à desaceleração sincronizada da atividade global (Kevin Lamarque/Reuters)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 4 de janeiro de 2019 às 12h32.

Última atualização em 4 de janeiro de 2019 às 12h32.

(Bloomberg) -- Por que más notícias ainda são más notícias nas bolsas, que já apanharam tanto? As expectativas de ajuda do banco central americano aos mercados financeiros e de ajuda da China à economia global desapareceram simultaneamente.

Em períodos de estresse, dados econômicos ruins podiam ser considerados positivos para ativos de risco, pois aumentavam a chance de medidas oficiais em prol das maiores economias do mundo. Ou o Federal Reserve reduziria o ritmo de normalização da política monetária americana e até liberaria estímulo ou as autoridades chinesas introduziriam medidas para fortalecer a demanda.

Investidores que trabalhavam com essas hipóteses se decepcionaram recentemente. Na quinta-feira, as bolsas desabaram após a Apple diminuir a projeção de receita e o índice ISM, que acompanha as compras de insumos pela indústria, apresentar a maior queda mensal desde outubro de 2008.

Na véspera, os investidores foram surpreendidos por dados ruins para a indústria na China. Era esperada uma desaceleração do crescimento neste ano, mas não tão cedo ou de modo tão severo.

“A narrativa que está se consolidando é que os estímulos vindos de Pequim não são nem suficientes nem eficazes’’, disse MayankSeksaria, estrategista-chefe de macroeconomia da Macro Risk Advisors. “Tanto o Fed, por meio de expectativas de altas menores nos juros, quanto a expansão de crédito pela China estão tentando atenuar a desaceleração, mas até agora não estão tentando recuperar a economia.’’

O governo chinês impôs restrições às medidas para fortalecer a atividade doméstica porque também almeja a desalavancagem financeira.

Nos EUA, as ações parecem embutir a expectativa de política monetária mais flexível em resposta a um desaquecimento da economia, mas não a piora dos lucros que motivaria tal resposta por parte do Fed.

O fato de o Banco Central Europeu ter adotado uma postura menos flexível para dar suporte às economias periféricas do continente e a piora dos dados econômicos da China colaboram para o aumento da aversão a risco, segundo Peter Cecchini, estrategista-chefe para mercados globais da Cantor Fitzgerald.

“Mas ainda é cedo para os mercados precificarem um desfecho de recessão no final de 2019 porque não se sabe qual seria a resposta das autoridades monetárias”, acrescentou ele. “Duvido que o Fed permanecerá estático, haverá reação aos dados de compras de insumos pela indústria, as autoridades não ficarão paradas.”

Os últimos indicadores confirmam que a economia americana não está mais imune à desaceleração sincronizada da atividade global. Índices que medem as surpresas com dados econômicos estão negativos em praticamente todas as regiões e países importantes.

Os números decepcionantes levam investidores a procurar ativos seguros e líquidos, sobretudo títulos do Tesouro americano. O fundo negociado em bolsa iShares 20+Year Treasury Bond registrou a mais longa sequência de ganhos semanais até hoje, uma vez que o rendimento dos papéis da dívida pública dos EUA com prazo de 10 anos desabou 0,65 ponto percentual em menos de dois meses.

Mesmo reconhecendo que o escopo é limitado, investidores têm esperança no surgimento de catalisadores positivos dos EUA e da China que incentivem o apetite por risco.

“O apetite global por risco é mais sensível ao enfraquecimento dos dados chineses devido à percepção de que há menos espaço para estímulos por causa da preocupação com o endividamento’’, explicou Alec Young, diretor-gerente de pesquisas sobre mercados globais da FTSE Russell. “Por outro lado, se o Fed confirmar a expectativa crescente no mercado de que não haverá qualquer alta dos juros em 2019por causa da desaceleração do crescimento global, isso pode ajudar o apetite por risco, assim como qualquer melhora nas negociações comerciais entre EUA e China.”

 

Acompanhe tudo sobre:Estados Unidos (EUA)bolsas-de-valoresMercado financeiroChinaFed – Federal Reserve SystemInvestidores

Mais de Mercados

Lucro da B3 sobe para R$ 1,2 bilhão no 3º tri, mas principal linha de receita recua

Dividendos mais altos? Reforma tributária pode antecipar distribuições, diz Bofa

Disney está perdendo milhões de dólares por dia devido ao bloqueio do YouTube TV

Microsoft e Google vão investir US$ 16 bilhões em IA na Europa