Agência de notícias
Publicado em 4 de junho de 2025 às 13h40.
Última atualização em 4 de junho de 2025 às 13h43.
A China está considerando fazer uma encomenda de centenas de aeronaves da Airbus já no próximo mês, quando líderes europeus visitarão Pequim para celebrar os laços de longo prazo entre os países, de acordo com fontes a par do assunto.
As deliberações com companhias aéreas chinesas sobre o tamanho de um possível pedido estão em andamento, disseram as fontes, que pediram anonimato. Um acordo poderia envolver cerca de 300 aeronaves e incluir modelos de corredor único e de fuselagem. Uma das fontes afirma que o pedido pode variar de 200 a 500 aviões.
As negociações ainda estão em andamento e podem fracassar ou levar mais tempo para serem concluídas, acrescentaram as fontes. A Airbus se recusou a comentar, enquanto representantes da Administração de Aviação Civil da China não responderam a um pedido de comentário enviado por fax.
Com a informação sobre as negociações, as ações da fabricante europeia chegaram a subir 4,1% na bolsa de Paris. A Rolls-Royce Holdings, que fabrica motores para aviões de fuselagem larga da Airbus, chegou a subir 0,7% em Londres.
A Airbus tem aumentado de forma constante sua participação nas vendas para a China, impulsionada por uma linha de montagem final em Tianjin para sua popular família de aeronaves A320. Um acordo da magnitude do que está sendo discutido ajudaria a consolidar o domínio da fabricante europeia em um dos principais mercados de aviação do mundo.
Para sua rival americana, a Boeing, fazer negócios na China se tornou mais difícil, à medida que a empresa se vê envolvida na guerra comercial do presidente Donald Trump com Pequim. Na quarta-feira, Trump disse em uma publicação nas redes sociais que o líder chinês Xi Jinping era muito difícil de negociar, levantando dúvidas sobre uma reconciliação dos interesses comerciais entre as duas maiores economias do mundo.
Um acordo de peso com a Airbus permitiria que Xi enviasse uma mensagem a Trump sobre o comércio. O presidente francês, Emmanuel Macron, e o chanceler alemão, Friedrich Merz, estão entre os líderes que podem visitar Pequim em julho para celebrar os 50 anos de relações diplomáticas entre a China e a União Europeia. Seus países são os dois maiores acionistas da Airbus.
China e Estados Unidos estão em conflito sobre regras comerciais que Trump está determinado a redefinir durante seu segundo mandato presidencial. Caso os dois lados resolvam suas diferenças, a Boeing pode sair amplamente beneficiada — a fabricante de aviões americana é a maior exportadora dos EUA, e uma venda de jatos foi destaque em um acordo comercial entre EUA e Reino Unido em maio.
Os laços estreitos entre a política e as compras de aviões ficaram evidentes no mês passado, quando Trump visitou o Oriente Médio e ajudou a fechar grandes negócios, incluindo uma encomenda da Qatar Airways de até 210 jatos Boeing, considerada a maior em valor para a fabricante americana.
Na China, no entanto, a Boeing tem sido penalizada. Em abril, após tarifaço de Trump, as autoridades de Pequim instruíram as companhias aéreas a interromperem o recebimento de novas entregas de jatos da Boeing. No mês seguinte, após trégua comercial com os EUA, a China voltou a permitir que companhias aéreas encomendassem aviões da fabricante americana.
Além disso, as tensões comerciais e as crises que envolveram o modelo 737 Max vêm de anos e contribuíram para dar à Airbus uma vantagem no que antes era um mercado cuidadosamente equilibrado entre as duas fabricantes.
Segundo fontes, aeronaves de fuselagem larga (widebodies) representariam uma parte significativa de um novo pedido da Airbus, sendo que uma das fontes afirmou que o A330neo — modelo bimotor de corredor duplo da fabricante europeia — poderia conquistar algumas vendas. O número de jatos de fuselagem larga na carteira de pedidos das companhias aéreas chinesas, tanto estatais quanto privadas, tem diminuído, já que a Boeing tradicionalmente vendia mais nesse segmento no país.
Caso o pedido chegue a 500 aeronaves, ele estaria entre os maiores já feitos — e certamente seria o maior da história da China —, superando um acordo de cerca de 300 aviões de corredor único da Airbus feito em 2022, avaliado na época em aproximadamente US$ 37 bilhões.
A Air India fechou a compra de 470 aviões da Airbus e da Boeing em 2023, e outra companhia indiana, a IndiGo, fez um pedido recorde com a Airbus em meados de 2023 para 500 aeronaves de corredor único.
A Boeing não conquista um pedido significativo da China desde pelo menos 2017, devido às tensões comerciais e a problemas internos da própria empresa. Em 2019, a China foi a primeira nação a suspender os voos do 737 Max após dois acidentes fatais. As disputas comerciais com os governos de Biden e do primeiro mandato de Trump também contribuíram para direcionar os pedidos chineses à Airbus.
Em janeiro de 2024, a Boeing enfrentou uma nova crise de qualidade quando um tampão de porta se soltou durante um voo, obrigando a empresa a reduzir a produção e prejudicando sua reputação perante o público.
Qualquer acordo provavelmente será conduzido por meio do órgão estatal chinês responsável pela compra de aeronaves, que costuma negociar em nome das companhias aéreas do país.