Refinaria de petróleo no Irã: possível ataque israelense coloca em risco economia chinesa (Anton Petrus/Getty Images)
Freelancer
Publicado em 18 de junho de 2025 às 09h28.
Com a recente escalada do conflito no Oriente Médio e os ataques israelenses a bases nucleares no Irã, uma preocupação tomou conta da China: caso as infraestruturas de exportação de petróleo iraniano forem atingidas, Pequim pode perder o acesso ao óleo barato que sustenta parte de sua indústria.
Atualmente, o Irã exporta cerca de 1,7 milhão de barris de petróleo por dia, volume equivalente a menos de 2% da demanda global. Segundo reportagem do The Wall Street Journal, desde a volta das sanções dos EUA ao país em 2018, a capital iraniana passou a vender petróleo muito mais barato e através rotas clandestinas, usando uma ‘frota fantasma’ de navios com rastreadores desligados.
Mais de 90% dessa produção vai para a China, segundo a consultoria Kpler. O principal destino são as refinarias privadas, conhecidas como “teapots”, concentradas na província de Shandong. Desde 2022, essas refinarias passaram a priorizar o petróleo iraniano como forma de manter suas margens de lucro.
O petróleo iraniano é vendido com desconto em relação a barris similares que não estão sob sanção. A diferença atual gira em torno de US$ 2 por barril, segundo a Argus Media. Em 2023 era vendido por cerca de US$ 11 em 2023, enquanto em 2024 o barril saía por US$ 4. A redução recente no desconto reflete a preocupação crescente com uma possível interrupção do fornecimento.
Esse cenário preocupa Pequim. O Irã recebe seus pagamentos em renminbi, a moeda chinesa, o que limita suas opções de gasto e reforça sua dependência da China. Um dirigente da Câmara de Comércio do Irã chegou a descrever essa relação como “uma armadilha colonial”.
Até o momento, Israel não ameaçou os centros de exportação de energia iranianos. Entretanto, se o objetivo for de fato enfraquecer financeiramente o país, um ataque à Ilha de Kharg — principal ponto de saída do petróleo iraniano — poderia parar quase toda a exportação iraniana. Para Pequim, isso significaria perder, de um dia para o outro, o principal fornecedor de óleo barato.
Um choque desse tipo afetaria os mercados globais de petróleo, mas poderia ser parcialmente compensado por membros da Opep+. Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos têm capacidade de liberar até 4 milhões de barris por dia e, historicamente, já conseguiram substituir parte do petróleo iraniano em períodos de crise. Ainda assim, as refinarias chinesas teriam de voltar a pagar o preço cheio por barris no mercado internacional.
Com poucos aliados diretos no Oriente Médio e sem controle sobre os rumos do conflito, a China observa com apreensão os próximos movimentos, segundo o Wall Street Journal. Para Pequim, o conflito já deixou de ser apenas uma preocupação diplomática e começa a ameaçar diretamente a economia do país.