Mineração de ouro no Brasil é dominada por empresas canadenses
Redação Exame
Publicado em 14 de outubro de 2025 às 06h00.
Apesar da disparada do preço do ouro em 2025, que impulsionou um rali histórico nas ações de mineradoras, a Vale (VALE3) não acompanhou esse movimento.
Enquanto ações de empresas de mineração de ouro e metais estratégicos chegaram a subir mais de 400%, a mineradora brasileira avançou apenas 9,85% do começo do ano até agora. No mesmo período, o próprio índice S&P Global Gold Mining teve valorização 126%, registrando o melhor desempenho entre todos os índices setoriais do S&P.
A baixa exposição da mineradora ao setor se deve a um desinvestimento realizado em 2013, quando a Vale vendeu à canadense Silver Wheaton a produção de ouro em Salobo (Pará) e das minas de níquel de Sudbury (Canadá), nas quais o ouro é um subproduto, por US$ 1,9 bilhão.
Pelo acordo, a Vale se comprometeu a fornecer 25% do fluxo de ouro produzido no Pará durante toda a vida útil do projeto de Salobo e 70% das minas canadenses de níquel pelo período de 20 anos. Adicionalmente, a empresa receberá pagamentos em dinheiro futuros a cada onça de ouro entregue à Silver Wheaton. Não há, porém, compromisso da Vale quanto às quantidades de ouro entregues, reduzindo o risco operacional caso haja interrupções na produção.
Em 2015, a Vale assinou um aditivo ao acordo original para vender mais 25% do fluxo de ouro de Salobo, recebendo US$ 900 milhões em pagamento inicial, além de valores futuros por onça entregue, sem compromisso firme de volumes específicos. A operação permite à Vale reduzir riscos operacionais e integra o plano de desinvestir em ativos fora do foco principal da companhia.
A produção de ouro da Vale, que é um subproduto da produção de cobre, totalizou 121 mil onças troy (3,76 toneladas) no segundo trimestre de 2025 e 235 mil onças troy (7,3 toneladas) nos seis primeiros meses do mesmo ano.
A mineração de ouro no Brasil é dominada por empresas canadenses, que respondem por metade da produção nacional, cerca de 35 toneladas anuais.
A Kinross Gold lidera o setor no país, com 16,4 toneladas extraídas em 2023 na mina de Paracatu, em Minas Gerais.
Outras empresas atuantes no país incluem Equinox Gold, Aura Minerals, Jaguar Mining, Dundee Precious Metals e Pan American Silver. A forte presença se deve ao fato de que o Canadá é um dos maiores polos de financiamento para mineração, com a Bolsa de Toronto reunindo 40% das mineradoras de capital aberto do mundo.
Em 2024, o Brasil ocupava a 12ª posição no ranking mundial de reservas de ouro, com cerca de 329.732 toneladas, segundo o World Gold Council. O país ficou atrás de potências como China, Japão e Estados Unidos, mas à frente de nações como Itália, França e México.
Entretanto, apesar das reservas robustas, a produção brasileira tem ficado longe do protagonismo. Em 2024, o país extraiu apenas 83,7 toneladas, ocupando a 15ª posição entre os maiores produtores mundiais.
Para efeito de comparação, a China lidera a extração com 380 toneladas anuais, seguida por Rússia (330 toneladas) e Austrália (284 toneladas).
O ouro ultrapassou a histórica marca de US$ 4.000 por onça na semana passada, impulsionado pela escalada de tensões geopolíticas, pela paralisação do governo americano e pela forte demanda de bancos centrais pela commodity.
O entusiasmo é tamanho que nesta segunda-feira, 13, o Bank of America (BofA) elevou sua projeção para a commodity a US$ 5.000 por onça em 2026, com média estimada de US$ 4.400 no ano.
Como os custos operacionais dessas empresas tendem a ser fixos, o aumento do preço do metal se traduz diretamente em maiores margens de lucro. “Foi um ano muito bom para as ações de ouro. As mineradoras têm mais caixa do que sabem o que fazer”, afirmou Imaru Casanova, gestora da VanEck, ao Financial Times.