Porsche: empresa muda comando após prejuízo bilionário e enfrenta reestruturação global (Porsche/Divulgação)
Redatora
Publicado em 1 de novembro de 2025 às 06h41.
A Porsche atravessa uma das fases financeiras mais desafiadoras de sua história recente. A montadora alemã encerrou o terceiro trimestre com um prejuízo operacional de quase 1 bilhão de euros (US$ 1,1 bilhão). Isso após anunciar e a saída de seu presidente Oliver Blume, que comandava a empresa há uma década.
Blume acumulava o comando da Porsche e da Volkswagen desde a separação das companhias em 2022, mas acabou cedendo à pressão dos investidores diante do enfraquecimento dos resultados. Para substituí-lo, o conselho nomeou Michael Leiters, ex-CEO da britânica McLaren. O anúncio fez com que as ações da Porsche subissem, refletindo a expectativa de uma recuperação sob nova liderança, segundo a The Economist.
A montadora, embora menor dentro do Grupo Volkswagen, representava mais de um quarto do lucro operacional do grupo. Suas margens, que historicamente variavam entre 15% e 18%, devem cair para até 2% neste ano.
O valor de mercado, hoje em torno de 40 bilhões de euros (aproximadamente a US$ 46 bilhões), caiu pela metade desde o IPO há três anos.
Leiters assumirá oficialmente o comando em 1º de janeiro e terá três frentes prioritárias. De acordo com a The Economist, a primeira é ajustar a estratégia de veículos elétricos (VEs). A Porsche abandonou a meta de alcançar 80% das vendas com modelos elétricos até 2030 após a demanda abaixo do esperado por esportivos a bateria. O novo Macan, SUV de de luxo marca, passará a ser vendido apenas em versão elétrica a partir de 2026, enquanto a versão a combustão só deve retornar em 2028.
A segunda preocupação é a queda no mercado chinês, que já foi o principal destino dos veículos da marca. As vendas devem cair para cerca de 40 mil unidades neste ano, menos da metade do volume de 2022. A concorrência local, liderada por modelos como o Xiaomi Su 7 — semelhante ao Taycan elétrico, mas com preço menor —, e falhas de adaptação tecnológica nos sistemas de infoentretenimento, levaram a uma revisão estratégica.
Leiters terá de decidir entre ampliar os investimentos para recuperar relevância ou reduzir a operação no país.
O terceiro desafio é o impacto das tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre veículos europeus. O país se tornou o maior mercado da Porsche, com 25% das vendas em 2024, mas a empresa não tem fábricas locais. Com a nova tarifa de 15% determinada pelo governo Trump, o prejuízo estimado pode chegar a 700 milhões de euros neste ano. Repasse de custos via aumento de preços poderia comprometer ainda mais as vendas.
A transição de comando marca o início de uma fase decisiva para a montadora. A expectativa do mercado é que Leiters redefina o equilíbrio entre eletrificação, rentabilidade e presença global diante de um cenário mais competitivo e de custos crescentes.