Buffet: megainvestidor doará bilhões a fundações sociais (Daniel Zuchnik/WireImage/Getty Images)
Repórter de finanças
Publicado em 25 de novembro de 2025 às 11h15.
Última atualização em 25 de novembro de 2025 às 11h18.
No dia 10 de novembro, o megainvestidor Warren Buffett, de 95 anos, divulgou sua última carta como CEO da Berkshire Hathaway. Desde 1965 ele comandava a empresa que se transformou em um veículo de investimentos, com valor de mercado próximo a US$ 1 trilhão. Nela, anunciou que Greg Abel assumirá o comando.
Segundo Carolyn Dewar, sócia sênior e co-líder da prática de CEOs da McKinsey — uma das célebres consultoras de CEOs — Buffett “ofereceu uma aula magistral sobre como grandes líderes se afastam."
"Sem volta de vitória. Sem autoelogios. Apenas humildade, confiança e uma entrega clara”, disse em um post no Linkedin.
Ainda recente, mas poderosa, a saída de Buffet está sendo amplamente reconhecida não apenas por seu impacto em Wall Street, mas também como uma aula magistral de liderança altruísta, afirma Dewar. A executiva já conversou com centenas de CEOs e líderes em seu trabalho, inclusive na elaboração de seu livro mais recente, ‘A CEO for All Seasons'
“Em uma era em que tantos líderes se agarram ao controle, Buffett modela algo raro: sucessão como um ato de administração, não de propriedade. Ele está preparando os outros para ter sucesso, não garantindo que seja lembrado. Isso é liderança no seu estado mais altruísta”, afirma Dewar.
Por exemplo, quando ele lembra aos leitores que “a faxineira é tão humana quanto o presidente do conselho”, Dewar escreve que isso resume toda a sua filosofia de liderança. “Decência não é um enfeite. Respeito é o que sustenta lealdade, confiança e sucesso a longo prazo.”
Dewar vê a transição de Buffett como um modelo de como líderes devem preparar o futuro de suas organizações. Para ela, o afastamento do investidor não representa apenas uma escolha pessoal, mas um movimento pensado para garantir que a Berkshire Hathaway siga fortalecida.
A consultora também citou pesquisas reunidas em seu livro mais recente, em especial a experiência de Brad Smith, ex-CEO da Intuit. Ele permaneceu 11 anos no comando e tratou do tema sucessório com o conselho em todos os trimestres — 44 discussões ao longo do mandato.
Esse processo constante, disse Dewar à Fortune, ajudou a formar executivos que mais tarde assumiram presidências em outras companhias.
Dewar afirmou que um dos aspectos que mais a marcou na transição foi a decisão de Buffett de simplesmente “ficar quieto por um tempo”.
Para ela, esse recuo deliberado é um gesto raro entre líderes de grande influência, porque oferece ao sucessor o espaço necessário para desenvolver sua própria voz.
Segundo a consultora, transições sólidas acontecem justamente quando o executivo que se despede evita “dar pitaco das arquibancadas” e opta por apoiar à distância, com a consciência de que só assim é possível dar ao novo CEO “confiança e espaço para que a pessoa seja ela mesma”.
Embora não esteja diretamente envolvida no caso, Dewar comentou que vê um movimento parecido na sucessão do Walmart, com Doug McMillon preparando a passagem para John Furner, função semelhante à que Greg Abel ocupava na Berkshire.
Buffett tende a aparecer menos nas manchetes daqui em diante, mas deixou um legado escrito vasto, lembra Dewar. Sua ausência será sentida pelos investidores, que será provocado a pensar quais lições foram aprendidas.
Ao ilustrar esse legado, Dewar lembra frases emblemáticas do executivo — simples, mas difíceis de aplicar na prática. Entre elas estão:
“Regra nº 1: nunca perca dinheiro”; “Regra nº 2: nunca esqueça a regra nº 1”; a orientação de que é preciso “ter medo quando os outros forem gananciosos e ser ganancioso apenas quando os outros estiverem com medo”; e a famosa advertência de que “só quando a maré baixa você descobre quem estava nadando pelado”, usada para expor excessos e ilusões comuns em períodos de euforia financeira.
No livro ‘A CEO for All Seasons’, Dewar afirma que a chamada “quarta estação” — o momento de saída de um líder — é discutida menos do que deveria. O que se vê em casos como os de Walmart e Berkshire, explicou ela, é que “quando você termina bem não apenas prepara seu sucessor para o sucesso — prepara a organização para prosperar além de você”.
Na sua visão, esse é o verdadeiro legado. “É agradável saber que você fará falta — mas, honestamente, seu verdadeiro legado é quando você deixa a próxima geração em uma posição tão forte que ela fará ainda melhor do que quando você estava lá”, concluiu.