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Como identificar uma pirâmide financeira e evitar prejuízos milionários

Fraudes com promessas de lucros rápidos seguem enganando até investidores experientes. Saiba como reconhecer sinais de alerta e proteger seu dinheiro

Pressão para indicar outras pessoas é um sinal clássico de pirâmide, afirmam especialistas

Pressão para indicar outras pessoas é um sinal clássico de pirâmide, afirmam especialistas

Juliana Alves
Juliana Alves

Repórter de mercados

Publicado em 14 de julho de 2025 às 11h52.

Última atualização em 14 de julho de 2025 às 11h59.

Nem mesmo investidores profissionais estão imunes aos golpes. O maior esquema de pirâmide financeira da história, comandado pelo bilionário Bernie Madoff, movimentou cerca de US$ 65 bilhões e abalou Wall Street. A fraude veio à tona durante a crise de 2008, quando o fundo criado por Madoff entrou em colapso. Entre as vítimas estavam nomes de peso, como o diretor Steven Spielberg e bancos, como HSBC e Santander.

Se até especialistas foram enganados, o alerta para o investidor comum é ainda mais urgente. Com o avanço da digitalização, golpes com promessas de lucros altos em curto prazo se multiplicam nas redes sociais. Mesmo assim, é possível identificar o esquema e escapar de um prejuízo que pode ser milionário.

O que é pirâmide financeira?

A pirâmide financeira — também conhecida como esquema Ponzi — é considerada crime contra a economia popular no Brasil, conforme a Lei 1.521/1951 de forma ampla, pois pode envolver qualquer tipo de ativo, como imóveis, automóveis, bens duráveis e, até mesmo, ingressos de eventos, rifas e sorteios, segundo o professor Jose Roberto Ferreira Savoia, da USP.

Quando envolve valores mobiliários, o esquema passa a ser também uma infração à Lei 6.385/1976.

O esquema funciona a partir do dinheiro de novos participantes, que é usado para pagar os “rendimentos” dos que já estão no sistema. Ou seja, não há produto real, nem investimento legítimo. Apenas uma estrutura insustentável baseada na entrada constante de novas vítimas.

“O retorno prometido vem exclusivamente do dinheiro de quem está entrando no sistema, sem qualquer atividade econômica por trás”, resume Raphael Soré, sócio de compliance do escritório Machado Meyer Advogados.

No início, os primeiros a entrar recebem lucros, o que reforça a sensação de legitimidade. Mas, quando a entrada de novos participantes para, todos saem no prejuízo e o castelo de cartas cai.

Como identificar uma pirâmide financeira?

1. Promessas irreais de retorno
Desconfie de lucros muito acima do mercado. Ganhos de 10% ou 20% ao mês são extremamente improváveis em investimentos legítimos. No geral, ativos conservadores rendem entre 1% e 2% ao mês.

2. Pressão para indicar outras pessoas
O esquema exige a entrada constante de novos participantes. Se o “negócio” só se sustenta quando você convida amigos ou familiares, é um indício clássico de pirâmide.

3. Falta de clareza sobre o produto ou serviço
Empresas sérias explicam claramente como geram lucro. Se a proposta for vaga ou difícil de entender, redobre a atenção. Os especialistas ressaltam a importância de pesquisar a fundo sobre o negócio e seus responsáveis. Segundo a pesquisa “Fraudes em investimentos financeiros” (2025) realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), 55% desconfiam da possibilidade de ganhar dinheiro fácil, sempre checando informações oficiais.

4. Marketing agressivo e uso de influenciadores
Golpes muitas vezes investem pesado em propaganda digital, principalmente nas redes sociais. Desconfie de promessas feitas por influenciadores sem formação na área financeira.

5. “Você não é especial”
Desconfie da ideia de que você teve acesso a uma “oportunidade única”. Como destaca Soré: “Se esse investimento rende tanto, por que ele precisa do seu dinheiro e não busca financiamento com grandes fundos?”

6. Empresa não registrada na CVM
A ausência de registro na Comissão de Valores Mobiliários é um grande sinal de alerta. Para consultar, acesse:

7. Ausência de documentação legal
Exija contrato, regulamento do investimento e outros documentos formais. A falta desses itens pode indicar golpe.

O que fazer ao suspeitar de um golpe?

  • Registre um boletim de ocorrência em uma delegacia especializada em crimes financeiros.

  • Comunique à CVM pelo canal “Fale com a CVM” no site oficial.

  • Procure um advogado, que poderá pedir o bloqueio de ativos dos responsáveis e orientar sobre medidas judiciais.

  • Evite novos aportes e alerte outras pessoas que possam estar envolvidas.

Falta de educação financeira favorece golpes

A professora da FGV Carla Beni lembra que a falta de acesso à educação financeira leva muitas pessoas a apostarem em promessas milagrosas. “Muitas vezes, essas vítimas estão endividadas, desesperadas por uma saída rápida e acabam caindo nesse tipo de armadilha”, explica.

Para quem está começando a investir, a dica é buscar ativos regulados, protegidos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) — como CDBs e LCIs de bancos autorizados pelo Banco Central. “Investidor iniciante precisa ter humildade e começar com segurança”, orienta Raphael Soré.

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