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Como o fim da paralisação mais longa dos EUA afeta os mercados

Paralisação teve um impacto significativo na publicação de dados econômicos essenciais, como o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) e o payroll

Publicado em 13 de novembro de 2025 às 08h32.

Última atualização em 13 de novembro de 2025 às 08h54.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta quinta-feira, 13, um pacote de financiamento que põe fim à paralisação mais longa da história do país. O shutdown, que durou 43 dias, afetou a publicação de dados econômicos e o funcionamento de diversos serviços federais, como aeroportos. Apesar de a medida ter gerado um sentimento leve de otimismo nos mercados, a volta à normalidade será gradual, e a recuperação dos serviços essenciais pode levar dias, ou até semanas.

A votação do pacote, aprovada pela Câmara dos Deputados com 222 votos a 209, autoriza o retorno das operações do governo federal. Com a sanção de Trump, as agências poderão iniciar a chamada dos funcionários afastados já nesta quinta, com a previsão de que a maioria deles retorne em até 24 horas. Mas a retomada não será imediata, pois o processo de reorganização interna e a reativação dos sistemas de pagamento podem causar alguns atrasos.

A paralisação teve um impacto significativo na publicação de dados econômicos essenciais, como o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) e o relatório mensal de empregos (payroll), que podem não ser liberados devido ao tempo perdido durante o fechamento. A falta desses dados críticos deixou o Federal Reserve (Fed) em uma posição difícil, já que esses números são fundamentais para decisões sobre os juros do país.

Na quarta-feira, 13, a Casa Branca alertou que o sistema de coleta de dados do governo foi permanentemente prejudicado, com consequências possíveis para a previsão de crescimento econômico, podendo até mesmo reduzir o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre em até 2 pontos percentuais. Economistas projetam que uma paralisação de um mês pode reduzir o PIB americano entre 0,5% e 1,5%. Com 43 dias de duração, os impactos desse shutdown devem ser ainda mais fortes.

Para alguns analistas, no entanto, a paralisação deve ter um impacto limitado na qualidade dos dados de emprego, mas o timing e a precisão dos relatórios podem ser comprometidos, com a liberação de dados atrasados começando apenas nas próximas semanas. A recuperação total dos dados econômicos pode se estender até dezembro, aumentando as incertezas no cenário econômico dos EUA.

Qual foi o impacto do shutdown nos mercados e na economia?

Em 29 de outubro, o Escritório de Orçamento do Congresso dos EUA anunciou que a paralisação causou uma perda permanente de pelo menos US$ 7 bilhões na produção econômica.

Esse impacto foi apenas uma das consequências do shutdown, que durou 43 dias e afetou profundamente a economia americana e os mercados financeiros globais.

Na segunda-feira, 10, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, alertou que a desaceleração econômica do quarto trimestre deve ser ainda mais pronunciada, podendo reduzir pela metade o crescimento econômico do período.

O assessor econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, chegou a afirmar que, se o shutdown continuasse por mais tempo, o crescimento do PIB poderia até se tornar negativo devido ao impacto em gastos sazonais e viagens, vitais para a economia durante esse período.

O risco de aumento do desemprego se tornou também uma preocupação crescente.

“A economia é frágil e, portanto, algo como uma paralisação do governo poderia se tornar um problema muito maior do que as pessoas imaginam”, disse Mark Zandi, economista-chefe da Moody's Analytics à CNN.

Durante o pico da paralisação, os mercados financeiros reagiram com incerteza. A busca por ativos considerados seguros, como ouro e Bitcoin, foi um reflexo do medo de riscos econômicos. No entanto, após a expectativa de que o shutdown estivesse perto de ser resolvido, os mercados começaram a reagir positivamente.

Do dia 1º de outubro até a manhã de quinta, o Ibovespa foi o grande destaque no período, com uma valorização de 8,33%, segundo dados do mercado. Durante esse tempo, o mercado brasileiro registrou 15 pregões consecutivos de alta e alcançou 12 recordes, consolidando a rotação de capital para os mercados emergentes. Em contraste, o ouro teve uma valorização de 6,78% no mesmo período.

No cenário americano, o Dow Jones subiu 4,06%, atingindo novo recorde na quarta ao bater 48 mil pontos. O Nasdaq, por outro lado, teve um desempenho mais modesto, com alta de 3,30%, sendo pressionado pela rotatividade do setor de tecnologia e preocupações com os custos crescentes da inteligência artificial (IA).

Já o S&P 500 teve um ganho de 2,43%, um desempenho mais discreto no curto prazo, mas ainda acumulando um crescimento de 6,30% no ano.

Veja o que deve acontecer agora:

  • Setor aéreo e aeroportos

A reabertura da Administração Federal de Aviação (FAA) é um passo importante para a normalização do tráfego aéreo, mas os passageiros ainda enfrentarão desafios. Durante o shutdown, a FAA funcionou com equipe reduzida, o que causou atrasos e cancelamentos de voos em aeroportos como DCA, LaGuardia, Newark e JFK.

Mesmo com a liberação de recursos, será necessário ajustar os níveis de segurança e resolver a escassez de pessoal antes de suspender as restrições sobre o número de voos diários. A recuperação do setor aéreo deve levar semanas, impactando especialmente os viajantes no período pré-Ação de Graças.

  • Pagamentos e benefícios federais

A paralisação também interrompeu os pagamentos do programa de Assistência Nutricional Suplementar (SNAP), deixando milhões de americanos sem recursos para a compra de alimentos. Agora, com a assinatura do pacote de financiamento, os estados poderão retomar as distribuições, incluindo os pagamentos retroativos para os beneficiários afetados.

Contudo, o tempo para a reativação dos benefícios pode variar entre os estados, pois cada um precisa reautorizar os pagamentos por meio de suas respectivas agências de serviços humanos.

  • Desafio na retomada de serviços públicos

Embora o pacote de financiamento tenha encerrado o shutdown, a volta ao funcionamento pleno dos serviços públicos será gradual. A renovação de passaportes, o andamento dos processos nos tribunais federais e a liberação de projetos de infraestrutura enfrentarão atrasos significativos.

Agências públicas agora precisam lidar com o acúmulo de trabalho gerado pela paralisação, o que pode resultar em novos atrasos e frustrações para o público e para os profissionais envolvidos.

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