Empréstimo (crazydiva/Thinkstock)
Repórter de finanças
Publicado em 25 de junho de 2025 às 18h21.
Última atualização em 25 de junho de 2025 às 18h37.
Mesmo com spreads amassados, o crédito privado segue como uma das classes de ativos mais bem posicionadas nas carteiras de investimento e pode continuar no centro das atenções por mais tempo — ou não.
A discussão surge em um painel no Anbima Summit nesta quarta-feira, 26, entre Ana Rodela, CIO da Bradesco Asset Management, Reinaldo Le Grazie, sócio da Panamby Capital, mediada por Soraia Barros, head da área de Representação de Gestão e Serviços Fiduciários da Anbima.
Impulsionada pelos juros elevados da economia, a classe de crédito privado segue em alta em 2025. Dados da Anbima apontam que as emissões de debêntures incentivadas somaram R$ 55,2 bilhões entre janeiro e abril de 2025, com crescimento de 64% na comparação com o mesmo período do ano passado.
“Agora veio para ficar. Hoje o crédito faz parte de um portfólio diversificado", afirmou Rodela.
Segundo ela, a relação risco-retorno tem sido atrativa, especialmente nos ativos de high grade, que oferecem boa qualidade de crédito com risco controlado. "É uma classe que tem se comportado bem e continua sendo relevante, mesmo com a vida das empresas não estando fácil com esse nível de taxa de juros", completou.
De acordo com a executiva, o avanço do crédito se deu, em parte, por decepções do investidor com certas classes de ativos e mudanças tributárias, como a incidência de come-cotas sobre fundos exclusivos, que aumentou a atratividade de produtos isentos ou com menor carga fiscal. “O crédito era uma parcela subalocada na carteira, especialmente quando comparado com outros mercados”, destacou.
Diferentemente do crédito privado, que vive um momento de protagonismo, os fundos multimercado continuam sofrendo, avaliam os especialistas do painel. Mas, segundo Le Grazie, essa é uma classe naturalmente cíclica e tende a performar melhor quando o mercado estiver mais disposto a correr riscos, favorecendo ativos como a renda variável.
"Se olharmos para a história do Brasil, fundos multimercado praticamente não existiam, depois cresceram até 2007, voltaram a ganhar força de 2016 a 2020, e agora estão passando por um período difícil", afirmou.
Segundo os dados da Anbima, os maiores resgates líquidos, em maio, ocorreram justamente nessa classe de fundos, somando R$ 16,2 bilhões. No ano, os multimercado acumulam resgate de R$ 79,2 e, nos últimos 12 meses, R$ 375,3 bilhões.
Mas os especialistas acreditam que movimento de migração para ativos de maior risco deve voltar gradualmente. Para Rodela, estar mais alocado em risco nos próximo 12 a 18 meses vai ser uma alternativa interessante, “mas tudo tem que ser de acordo com o estômago do investidor.”
“Esperaria ver aos poucos uma parte de crédito privado migrando para classes de maiores riscos, mas acho que continuamos com uma relevância muito no crédito”, afirma.
Le Grazie corrobora a visão do protagonismo do crédito: “Multimercado vai ter de fazer crédito, não tem razão para ele não operar crédito no Brasil.”