Mario Leão, CEO do Santander: juros precisam cair continuamente para empresas desalavancarem (Santander Brasil/Divulgação)
Editor de Invest
Publicado em 29 de outubro de 2025 às 13h03.
Última atualização em 29 de outubro de 2025 às 13h18.
O fantasma da recuperação judicial paira sobre empresas que devem dinheiro ao Santander Brasil (SANB11). É o caso da Ambipar (AMBP3), que já entrou com o pedido na Justiça brasileira e nos Estados Unidos; da Braskem (BRKM5), que, segundo analistas, parece caminhar nesse mesmo sentido; e até a Eletronuclear que, segunda apuração de O Globo e Folha de S.Paulo, pode ficar inadimplente com o banco e outras instituições financeiras caso não receba uma ajuda bilionária da União.
"A gente não comenta casos específicos", voltou a dizer Mario Leão, CEO do banco, em coletiva de imprensa sobre os resultados do Santander Brasil no terceiro trimestre de 2025. Foi uma frase bastante repetida à época da fraude das Americanas, em que os jornalistas estavam ávidos por saber os impactos de um eventual calote da varejista nos números dos bancos. Nesses casos, as instituições provisionam valores para cobrir empréstimos que não forem pagos.
No Santander, as provisões para devedores duvidosos (PDD) inclusive diminuíram no terceiro trimestre de 2025, em relação a um ano antes, para R$ 6,52 bilhões. Também houve retração em relação ao volume do segundo trimestre. "Ela [a PDD] foi maior porque antecipamos um efeito que esperava para o ano", disse Gustavo Alejo, CFO do banco. "O que a gente tem que fazer com disciplina e rigor é ir adotando as nossas provisões em nomes específicos de acordo com a necessidade", complementou Leão.
O CEO reconhece que um cenário macroeconômico mais desafiador também aumenta os desafios de empresas mais alavancadas. A Selic em 15% está no nível mais alto em duas décadas e em 2026 completarão cinco anos de juros básicos de dois dígitos. "A gente não acredita em uma crise de crédito. Vemos sim uma deterioração marginal em alguns portfólios por conta do ambiente macro".
A expectativa do Santander é que o CDI médio fique mais baixo no ano que vem, já que a instituição prevê juros em 13% ao final de 2026. "A gente espera que nesse sentido o macro comece a melhorar", diz Leão. "Mas para que as empresas mais alavancadas consigam se desalavancar, é preciso que o CDI caia continuamente a partir do início do ano que vem".
O CEO vê sinais de desaceleração da economia brasileira, o que é desejado pela gestão do Banco Central. "Não a ponto, talvez, de consolidar no BC o consenso de que o ciclo de corte de juros deve começar. Mas a gente acredita que não estamos longe disso. No primeiro trimestre, não antes disso, o Banco Central deve começar a reduzir juros".
Leão diz que o banco não tem viés para as eleições no ano que vem. "Somos pró-Brasil e torcemos para que o vencedor do ano que venha tenha a melhor pauta possível. Gestão fiscal, equilíbrio de gastos. O foco tem que ser parar o crescimento da dívida em relação ao PIB", afirma.
"Pode acontecer, como todo ano acontece, algum nível de volatilidade. A gente tem que estar preparado para isso e, mais do que nunca, estar perto dos clientes".
A rentabilidade do banco medida pelo retorno sobre patrimônio líquido (ROE ou ROAE) chegou a 17,5% no terceiro trimestre. O Santander reiterou sua meta de chegar ao patamar de 20% no curto e no médio prazo. "Não é um patamar definitivo, mas a gente vai fazer isso tendo uma operação diversificada, saudável e bastante exigente, com mais diversificação de receitas", diz Leão.
O CEO diz que o banco não acredita em crescimento linear de todos os portfólios. "A gente cresce mais em alguns negócios e está reduzindo em outros. [...] Direcionalmente, estamos caindo nosso volume de crédito na baixa renda. Isso é calculado, é programado. Esse crédito que eu tiro cresce na alta renda, em pequenas e médias empresas", explica.
Leão acrescentou que o Santander Brasil vai continuar buscando ser "uma empresa cada vez mais eficiente em todos os aspectos". "Isso passa por um montão de coisas e enventualmente deriva em reduções de processos, pessoas e lojas".