Dylan Field: fundador da Figma abandonou a faculdade para empreender (Kimberly White/Getty Images)
Redatora
Publicado em 4 de agosto de 2025 às 08h18.
A Figma protagonizou um dos IPOs mais aguardados do ano. As ações da plataforma de design digital mais que triplicaram em sua estreia na Bolsa de Nova York. Ao final da semana, a empresa foi avaliada em mais de US$ 71 bilhões (quase R$ 400 bilhões). O cofundador e CEO, Dylan Field, viu seu patrimônio saltar para cerca de US$ 6,6 bilhões.
A trajetória de Field lembra a de outros ícones do Vale do Silício. Assim como Mark Zuckerberg, ele abandonou a faculdade para empreender. E, também como o criador do Facebook, teve o apoio direto do bilionário Peter Thiel. Em 2012, Field foi selecionado para a Thiel Fellowship, iniciativa que concede bolsas de US$ 100 mil a jovens que trocam a sala de aula por projetos de inovação.
Nascido e criado na Califórnia, Field estudava na Brown University quando se candidatou à bolsa, enviando o formulário duas horas antes do prazo. No texto de aplicação, declarou que “chocolate é repulsivo” e afirmou que queria desenvolver software para drones com o melhor programador que conhecia.
Esse programador era Evan Wallace, colega da Brown, que acabou se tornando seu sócio. A dupla mudou-se para Palo Alto, onde a ideia inicial foi deixada de lado. Wallace queria criar algo usando WebGL, tecnologia de renderização gráfica via navegador. Em pouco tempo, impressionaram investidores com uma animação de uma bola se movendo sobre uma superfície de água simulada.
O primeiro produto da Figma só foi lançado em 2015. Ele rodava direto no navegador, dispensando instalações e placas gráficas. As funcionalidades colaborativas chamaram a atenção de empresas como Coda, Uber e, mais tarde, a Microsoft.
Em 2016, a plataforma da Figma foi liberada ao público com um recurso que permitia a vários designers editar um arquivo simultaneamente – a virada de chave do negócio.
Nos anos seguintes, o crescimento acelerou. A empresa recebeu aportes de fundos como Index Ventures, Greylock e Sequoia Capital. Em 2020, durante a pandemia, o trabalho remoto consolidou a Figma como ferramenta essencial. A startup lançou o FigJam, quadro branco virtual que ampliou seu portfólio e público.
Em 2022, a Adobe anunciou a compra da Figma por US$ 20 bilhões, num dos maiores acordos da história do setor. Field permaneceria no comando da operação. No entanto, reguladores do Reino Unido afirmaram que a fusão prejudicaria a concorrência, e a transação foi cancelada em dezembro de 2023.
A Adobe pagou uma multa rescisória de US$ 1 bilhão.
Desde então, a Figma seguiu em frente. No início de 2024, a empresa lançou o Dev Mode, recurso que transforma designs em código. Em 2025, apresentou o Figma Make, ferramenta baseada em inteligência artificial que permite gerar protótipos com comandos de texto, usando modelos da startup Anthropic.
Apesar do avanço, a companhia enfrenta obstáculos. Sua taxa de retenção de receita líquida, que mede a capacidade de vender mais produtos para os mesmo clientes, caiu de 159% no 1º trimestre de 2023 para 122% no fim do mesmo ano, reflexo da base de comparação com o lançamento do FigJam e da redução de licenças por parte de clientes. No início de 2025, o índice voltou a subir, para 132%.
Internamente, Field tentou manter a equipe unida após o cancelamento da venda à Adobe. Ofereceu ações extras a quem havia sido contratado ou promovido após o anúncio da fusão e permitiu que qualquer funcionário saísse com três meses de compensação. Menos de 5% aceitaram.
Hoje com 33 anos, Field é um dos poucos fundadores a levar uma startup de design à bolsa com essa escala. No palco da Config 2025, conferência anual da empresa em San Francisco, ele apresentou novos produtos a uma plateia de 8.500 pessoas. No mesmo dia, em vez de comemorar, continuava respondendo dúvidas de usuários no X (ex-Twitter).
A dúvida agora é se a Figma conseguirá repetir o sucesso do design em outras áreas. A disputa com ferramentas de IA mais novas, como v0 e Lovable, está apenas começando.