Inovação: Anbima cria plataforma para mapear inovações no mercado financeiro nos próximos 5 a 10 anos (Justin Tallis/Getty Images)
Repórter de finanças
Publicado em 16 de agosto de 2025 às 08h23.
As vozes altas dos antigos pregões presenciais já não existem mais há um bom tempo: tudo foi digitalizado. Mas não só na compra e oferta de ações, como em muitos processos e produtos do mercado financeiro a tecnologia já chegou (ou está chegando).
O Brasil tem histórico de pioneirismo em tecnologia para o mercado financeiro, especialmente em infraestrutura de pagamentos, sistemas bancários e regulação tecnológica. O PIX, por exemplo, lançado pelo Banco Central em 2020, virou referência mundial de sistema de pagamentos instantâneos, com funcionamento 24/7 e liquidação em segundos -- diversos países estudam ou já copiam o modelo.
Pensando nisso, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mapeou o que vai impactar modelos de negócio, produtos, processos e regulações nos mercados financeiro e de capitais nos próximos 5 a 10 anos.
“A ideia é ajudar as instituições a se planejarem para as grandes transformações, e não só a reagirem quando elas já estiverem batendo à porta”, apontou Marcelo Billi, superintendente de Inovação, Educação e Sustentabilidade da Anbima.
O aumento dos golpes digitais impulsiona a demanda por respostas mais ágeis e integradas às exigências regulatórias. Com isso, sistemas de monitoramento de fraudes em tempo real, que combinam técnicas de inteligência artificial (IA), aprendizado de máquina (machine learning) e análise comportamental para identificar, classificar e reagir automaticamente a transações potencialmente fraudulentas, muitas vezes em milissegundos, vem ganhando espaço.
Essas soluções vão além das regras fixas tradicionais ao detectar padrões dinâmicos e anomalias contextuais que sugerem tentativas de fraude – como acesso não autorizado, movimentações suspeitas ou lavagem de dinheiro.
No Brasil, onde o sistema financeiro é moderno, mas enfrenta entraves operacionais e regulatórios, os contratos inteligentes podem trazer mais eficiência, segurança e economia. Contratos inteligentes (do inglês smart contracts) são conjuntos de instruções codificadas que se executam automaticamente quando determinadas condições são atendidas, sem a necessidade de intermediários.
A Inteligência Artificial Explicável (XAI) representa uma evolução dos modelos tradicionais de machine learning, ao incorporar técnicas que tornam suas decisões transparentes e interpretáveis por humanos. Em vez de operar como uma “caixa-preta”, a XAI oferece justificativas compreensíveis para as decisões tomadas, facilitando a validação por equipes internas, auditores e reguladores.
A XAI permite que instituições expliquem como recomendações de investimento são geradas, aumentando a transparência e a confiança do cliente. No Brasil, seu uso ainda é limitado, mas deve crescer com o avanço de diretrizes internacionais e da pressão regulatória.
Tokenização de ativos é a conversão de direitos sobre bens — como imóveis, recebíveis, participações ou ações — em tokens digitais registrados em blockchain. O uso dessa rede garante imutabilidade dos registros, rastreabilidade e, em muitos casos, redução de custos operacionais — especialmente em processos de liquidação, auditoria e reconciliação.
A tokenização também possibilita o fracionamento de ativos, tornando o investimento mais acessível com valores menores e ampliando a base de investidores. Para o investidor, o maior ganho é poder acessar ativos que antes eram restritos. Já para o mercado, surgem oportunidades de inovar em modelos de distribuição, custódia e securitização, dentro dos limites legais e regulatórios.
O Drex é a versão brasileira da Central Bank Digital Currency (CBDC), desenvolvida pelo Banco Central com o objetivo de criar uma infraestrutura segura e eficiente para a movimentação digital de valores. Ao contrário do Pix, voltado para pagamentos, o Drex foi projetado como uma plataforma de inovação financeira, permitindo contratos programáveis e integração com sistemas de tokenização de ativos.
Seu principal diferencial está na capacidade de conectar players tradicionais, fintechs e novas plataformas digitais em um ecossistema unificado de liquidação, promovendo ganhos operacionais significativos. No mercado de capitais, o Drex pode impulsionar soluções em finanças descentralizadas permissionadas, melhorar a interoperabilidade entre plataformas e encurtar o tempo de liquidação das operações.
O Radar de Futuros criado pela Anbima é uma plataforma para monitorar as inovações presentes ou que estão em desenvolvimento no mercado financeiro e, atualmente, conta com 50 inovações que afetam diretamente o mercado.
“A inovação é um catalisador de transformação que gera benefícios em múltiplas dimensões. Ela abrange desde a simplificação de processos básicos, como abertura de contas e investimentos iniciais, até a criação de produtos complexos, como tokenização de ativos e hedge funds descentralizados”, explica Billi.
A Anbima dividiu as inovações em seis grandes áreas: transformação digital; transformação digital, eficiência operacional e processual, gestão de riscos e inteligência de dados, regulação, transparência e compliance, sustentabilidade e reputação, e acesso e engajamento.
Mais de 90 inovações foram avaliadas por especialistas do mercado, e as 50 com as maiores pontuações integram esta primeira edição.
A maturidade segue o sistema TRL (Technology Readiness Level), criado pela Nasa, enquanto a relevância é a média das notas que a comunidade da Rede Anbima de Inovação deu a cada ideia (numa escala de 1 a 5), indicando o impacto esperado no mercado de capitais.
Segundo Bill, outro diferencial do Radar é seu papel educativo: a plataforma oferece explicações completas, materiais de apoio e ainda conta com uma assistente de inteligência artificial desenvolvida para apoiar a leitura e interpretação dos dados, incentivando a geração de insights.