Invest

Do Drex à inteligência artificial 'explicável': As 5 inovações que vão mudar o mercado financeiro

A Anbima mapeou 50 tecnologias de alto impacto e criou a plataforma Radar de Futuros para antecipar aos gestores e investidores o que existe no mercado e o que está sendo desenvolvido

Inovação: Anbima cria plataforma para mapear inovações no mercado financeiro nos próximos 5 a 10 anos (Justin Tallis/Getty Images)

Inovação: Anbima cria plataforma para mapear inovações no mercado financeiro nos próximos 5 a 10 anos (Justin Tallis/Getty Images)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 16 de agosto de 2025 às 08h23.

As vozes altas dos antigos pregões presenciais já não existem mais há um bom tempo: tudo foi digitalizado. Mas não só na compra e oferta de ações, como em muitos processos e produtos do mercado financeiro a tecnologia já chegou (ou está chegando).

O Brasil tem histórico de pioneirismo em tecnologia para o mercado financeiro, especialmente em infraestrutura de pagamentos, sistemas bancários e regulação tecnológica. O PIX, por exemplo, lançado pelo Banco Central em 2020, virou referência mundial de sistema de pagamentos instantâneos, com funcionamento 24/7 e liquidação em segundos -- diversos países estudam ou já copiam o modelo.

Pensando nisso, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mapeou o que vai impactar modelos de negócio, produtos, processos e regulações nos mercados financeiro e de capitais nos próximos 5 a 10 anos.

“A ideia é ajudar as instituições a se planejarem para as grandes transformações, e não só a reagirem quando elas já estiverem batendo à porta”, apontou Marcelo Billi, superintendente de Inovação, Educação e Sustentabilidade da Anbima.

Confira as 5 inovações dos próximos 5 a 10 anos

Detecção de fraudes em tempo real

O aumento dos golpes digitais impulsiona a demanda por respostas mais ágeis e integradas às exigências regulatórias. Com isso, sistemas de monitoramento de fraudes em tempo real, que combinam técnicas de inteligência artificial (IA), aprendizado de máquina (machine learning) e análise comportamental para identificar, classificar e reagir automaticamente a transações potencialmente fraudulentas, muitas vezes em milissegundos, vem ganhando espaço.

Essas soluções vão além das regras fixas tradicionais ao detectar padrões dinâmicos e anomalias contextuais que sugerem tentativas de fraude – como acesso não autorizado, movimentações suspeitas ou lavagem de dinheiro.

Contratos inteligentes

No Brasil, onde o sistema financeiro é moderno, mas enfrenta entraves operacionais e regulatórios, os contratos inteligentes podem trazer mais eficiência, segurança e economia. Contratos inteligentes (do inglês smart contracts) são conjuntos de instruções codificadas que se executam automaticamente quando determinadas condições são atendidas, sem a necessidade de intermediários.

IA explicável

A Inteligência Artificial Explicável (XAI) representa uma evolução dos modelos tradicionais de machine learning, ao incorporar técnicas que tornam suas decisões transparentes e interpretáveis por humanos. Em vez de operar como uma “caixa-preta”, a XAI oferece justificativas compreensíveis para as decisões tomadas, facilitando a validação por equipes internas, auditores e reguladores.

A XAI permite que instituições expliquem como recomendações de investimento são geradas, aumentando a transparência e a confiança do cliente. No Brasil, seu uso ainda é limitado, mas deve crescer com o avanço de diretrizes internacionais e da pressão regulatória.

Tokenização de ativos

Tokenização de ativos é a conversão de direitos sobre bens — como imóveis, recebíveis, participações ou ações — em tokens digitais registrados em blockchain. O uso dessa rede garante imutabilidade dos registros, rastreabilidade e, em muitos casos, redução de custos operacionais — especialmente em processos de liquidação, auditoria e reconciliação.

A tokenização também possibilita o fracionamento de ativos, tornando o investimento mais acessível com valores menores e ampliando a base de investidores. Para o investidor, o maior ganho é poder acessar ativos que antes eram restritos. Já para o mercado, surgem oportunidades de inovar em modelos de distribuição, custódia e securitização, dentro dos limites legais e regulatórios.

Drex

O Drex é a versão brasileira da Central Bank Digital Currency (CBDC), desenvolvida pelo Banco Central com o objetivo de criar uma infraestrutura segura e eficiente para a movimentação digital de valores. Ao contrário do Pix, voltado para pagamentos, o Drex foi projetado como uma plataforma de inovação financeira, permitindo contratos programáveis e integração com sistemas de tokenização de ativos.

Seu principal diferencial está na capacidade de conectar players tradicionais, fintechs e novas plataformas digitais em um ecossistema unificado de liquidação, promovendo ganhos operacionais significativos. No mercado de capitais, o Drex pode impulsionar soluções em finanças descentralizadas permissionadas, melhorar a interoperabilidade entre plataformas e encurtar o tempo de liquidação das operações.

Como funciona o Radar de Futuros

O Radar de Futuros criado pela Anbima é uma plataforma para monitorar as inovações presentes ou que estão em desenvolvimento no mercado financeiro e, atualmente, conta com 50 inovações que afetam diretamente o mercado.

“A inovação é um catalisador de transformação que gera benefícios em múltiplas dimensões. Ela abrange desde a simplificação de processos básicos, como abertura de contas e investimentos iniciais, até a criação de produtos complexos, como tokenização de ativos e hedge funds descentralizados”, explica Billi.

A Anbima dividiu as inovações em seis grandes áreas: transformação digital; transformação digital, eficiência operacional e processual, gestão de riscos e inteligência de dados, regulação, transparência e compliance, sustentabilidade e reputação, e acesso e engajamento.

Mais de 90 inovações foram avaliadas por especialistas do mercado, e as 50 com as maiores pontuações integram esta primeira edição.

A maturidade segue o sistema TRL (Technology Readiness Level), criado pela Nasa, enquanto a relevância é a média das notas que a comunidade da Rede Anbima de Inovação deu a cada ideia (numa escala de 1 a 5), indicando o impacto esperado no mercado de capitais.

Segundo Bill, outro diferencial do Radar é seu papel educativo: a plataforma oferece explicações completas, materiais de apoio e ainda conta com uma assistente de inteligência artificial desenvolvida para apoiar a leitura e interpretação dos dados, incentivando a geração de insights.

Acompanhe tudo sobre:TokenizaçãoDrex (Real Digital)Inteligência artificialFraudesgolpes financeirosInovaçãoTecnologia

Mais de Invest

Com crescimento da IA, Soros e Appaloosa aumentam participação na Nvidia e UnitedHealth

Custos ocultos nos investimentos: quais são e como impactam sua rentabilidade

Dólar fecha em baixa em linha com tendência global

Ibovespa fecha próximo a estabilidade no último pregão da semana