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Dólar perde espaço e alta no yuan pode beneficiar real

Cada 1% de valorização do yuan gera efeitos em série sobre moedas como o real, o peso e o ringgit, segundo a Bloomberg

Publicado em 14 de setembro de 2025 às 07h59.

A recente valorização do yuan sinaliza uma inflexão na política cambial da China e já provoca reações em cadeia nos mercados de câmbio emergentes, inclusive no Brasil.

Com investidores antecipando cortes nos juros dos Estados Unidos, cresce a expectativa de ganhos para moedas como o baht tailandês, o peso mexicano e o real brasileiro.

Segundo análise da Bloomberg, essas moedas reagem de forma diretamente proporcional ao movimento do yuan: a cada 1% de oscilação da moeda chinesa, os pares emergentes seguem na mesma direção. A correlação de 30 dias entre o câmbio dólar-yuan e o índice MSCI de moedas emergentes atingiu 0,59 em agosto, o maior nível desde maio de 2024.

A sensibilidade reflete a posição da China como principal parceiro comercial de várias economias asiáticas e latino-americanas. A política cambial de Pequim, portanto, atua como um eixo regional com efeitos globais. “A moeda da China é hoje o principal cruzamento cambial para os emergentes”, afirma Eric Fine, gestor da VanEck, à Bloomberg. “Os ganhadores são todos os mercados emergentes.”

Em 9 de setembro, o Banco Central da China (PBOC) elevou a taxa de referência do yuan ao nível mais forte desde novembro. A mudança indica abandono do foco exclusivo em estabilidade cambial, adotado durante os episódios de guerra comercial. No acumulado do ano, o yuan já subiu mais de 2% frente ao dólar, apesar de ainda registrar desvalorização nos últimos três anos.

Fundos de hedge têm ampliado apostas otimistas e veem o yuan próximo de 7 por dólar até o fim do ano — contra 7,12 atualmente. A valorização é interpretada por analistas como resposta à pressão internacional por um câmbio mais alinhado ao valor de mercado e à tentativa de Pequim de reforçar o papel global de sua moeda.

Desdolarização avança e reforça uso do yuan

A valorização do yuan ocorre em meio a um movimento estrutural de desdolarização no sistema financeiro global. Segundo relatório do J.P. Morgan, a participação do dólar nas reservas internacionais caiu para menos de 60%, menor patamar em duas décadas. Moedas como o euro, o yuan e até o ouro ganham terreno como alternativas.

A China tem liderado esse processo. Mais de 50% das transações comerciais do país já são liquidadas em yuan, reflexo de acordos bilaterais com Rússia, Índia e parceiros do Oriente Médio. A moeda também é usada em contratos de commodities e empréstimos internacionais.

O yuan representa hoje cerca de 7% do volume global de câmbio — em 2019, era 4%. O volume de pagamentos internacionais em moeda chinesa dobrou desde 2022, segundo a consultoria Trivium. Em resposta, países como Brasil, Paquistão, Rússia e Hungria passaram a emitir dívida em yuan e a incluir a moeda em suas reservas.

No mercado de capitais, empresas estrangeiras devem atingir recordes de emissões em dim sum bonds (títulos em yuan emitidos fora da China continental), aproveitando as baixas taxas de juros do mercado offshore.

Por outro lado, a internacionalização plena do yuan ainda enfrenta desafios. A moeda representa apenas 2% das reservas globais, e os controles de capital impostos por Pequim limitam sua conversibilidade total. Mesmo assim, autoridades chinesas reforçam que o objetivo não é substituir o dólar, mas reduzir a vulnerabilidade geopolítica do país.

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