Inteligência artificial (Wong Yu Liang/Getty Images)
Repórter
Publicado em 19 de agosto de 2025 às 06h08.
Para Sam Altman, CEO da OpenAI, dona do ChatGPT, o mercado de inteligência artificial (IA) é uma bolha. Com ações em alta e investimentos pesados de grandes companhias no setor, como a Meta (META) e a Alphabet (GOOGL), controladora do Google, a preocupação de Altman também alcança Wall Street. Para os investidores fica a dúvida: até onde a IA pode chegar nas bolsas?
Entre os analistas mais cautelosos, Michael Hartnett, do Bank of America, destacou um dado alarmante: a razão preço/valor contábil do S&P 500 chegou a 5,3, superando até o auge da bolha das pontocom em março de 2000, quando esse indicador foi de 5,1. Para Hartnett, o otimismo que paira sobre o mercado de IA é, no mínimo, preocupante.
"Desta vez, é melhor que seja diferente", alertou o analista, referindo-se ao histórico de bolhas especulativas que antecederam grandes quedas no mercado. Segundo Hartnett, a expectativa de que o uso de IA se traduza em retornos concretos é alta, mas até agora, o desempenho das empresas do setor ainda não se mostrou à altura.
O Goldman Sachs também questiona as promessas feitas em torno da IA, destacando que as grandes corporações estão gastando enormes somas em infraestrutura de IA, mas "até agora, há pouco para mostrar disso".
O ceticismo sobre a sustentabilidade dos preços das ações de IA também foi compartilhado por JPMorgan Chase. O banco alertou que o atual rali alimentado pela IA poderia enfrentar uma queda brusca, à medida que os investidores começam a perceber que as expectativas podem ser excessivamente inflacionadas.
Torsten Sløk, economista-chefe da Apollo Global Management, argumentou que "as 10 maiores empresas do S&P 500 estão mais sobrevalorizadas agora do que estavam na bolha da tecnologia nos anos 90".
O medo de uma correção no mercado de IA é alimentado pelo fato de que, apesar de grandes investimentos, as empresas do setor ainda não conseguem justificar os altos múltiplos de avaliação que o mercado está atribuindo a elas.
“Estamos em uma fase onde os investidores, como um todo, estão excessivamente empolgados com a IA? Na minha opinião, sim”, disse Altman em um jantar recente com jornalistas recentemente. “A IA é a coisa mais importante que aconteceu em muito tempo? Na minha opinião, também é."
Mas nem todos estão pessimistas.
O Morgan Stanley, por exemplo, tem se posicionado ativamente contra as preocupações de uma bolha. O analista Keith Weiss descartou os temores sobre uma desaceleração no setor de IA, afirmando que tais preocupações são "risíveis". Para ele, a "necessidade óbvia de mais chips de inferência" para suportar o crescimento da IA é um indicativo de que o setor está em plena expansão, com um potencial de crescimento ainda inexplorado.
O UBS também continua otimista com o setor, prevendo que a IA se tornará uma indústria de trilhões de dólares antes do final da década. Os analistas do banco argumentam que as avaliações de IA não estão tão inflacionadas quanto parecem.
Eles destacam que o crescimento no valor das ações de IA tem sido impulsionado pelo desempenho robusto dos lucros das empresas, e não apenas pela expansão dos múltiplos. O UBS prevê um crescimento de lucros de cerca de 25% em 2025 para as empresas de IA, o que ajuda a justificar as altas avaliações.
Um dos principais pontos de preocupação no debate sobre a IA é a grande desconexão entre os investimentos bilionários que estão sendo feitos em infraestrutura e as receitas ainda modestas que as empresas de IA têm gerado até agora. Esse padrão é característico das bolhas financeiras, nas quais o entusiasmo e a especulação ultrapassam a realidade dos retornos tangíveis.
Um estudo recente do Silicon Valley Bank revela que as startups de IA queimam em média US$ 5 para cada US$ 1 de receita. Em 2024, a Beyond Benchmarks, que avaliou 600 empresas B2B, apontou que 42% dos produtos de IA ainda não geraram nenhum faturamento.
A OpenAI, por exemplo, apesar de sua avaliação de US$ 500 bilhões, pode enfrentar perdas de até US$ 5 bilhões.
Em 2025, cerca de 64% do financiamento de capital de risco nos EUA foi destinado para startups de IA, segundo o PitchBook.
Embora o cenário atual compartilhe algumas semelhanças com as bolhas do passado, há fatores que tornam a situação da IA distinta das bolhas de tecnologia que ocorreram, por exemplo, no auge da era das pontocom, segundo analistas do mercado.
Muitas das empresas líderes no setor de IA, como Google, Microsoft e Meta, têm negócios principais lucrativos e fortes fluxos de receita, que lhes permitem financiar o desenvolvimento da IA com base em operações já estabelecidas. Isso difere das empresas das bolhas passadas, que dependiam fortemente de financiamento especulativo para sustentar suas promessas de inovação.
Além disso, o crescimento dos ganhos em IA está concentrado em ações de empresas que possuem modelos de negócios comprovados, contrastando com a especulação generalizada de outras bolhas tecnológicas.
As "Sete Magníficas" — empresas como Nvidia, Microsoft, Google, Apple, Meta, Amazon e Tesla — agora representam cerca de 35% da capitalização de mercado do S&P 500, impulsionando mais de 70% dos retornos do índice desde 2023. Isso, por um lado, demonstra a força dessas empresas, mas, por outro, aumenta o risco de concentração de mercado.