(Adobe Stock/Divulgação)
Redação Exame
Publicado em 24 de outubro de 2025 às 19h10.
As ações da Casas Bahia (BHIA3) registraram forte valorização nesta sexta-feira (24), após subirem mais de 11% na quinta-feira, refletindo o otimismo do mercado com a parceria estratégica anunciada com o Mercado Livre (MELI34). Com alta de 8,24% nesta sexta, o papel encerrou a semana acumulando ganhos de 22,51%.
O movimento evidencia a confiança dos investidores na capacidade da Casas Bahia de ampliar sua presença no varejo omnichannel. A parceria deve permitir à varejista expandir seus canais de venda, consolidando sua posição como líder na comercialização de eletrodomésticos, eletrônicos e móveis.
A companhia passará a vender produtos de suas principais categorias — eletrodomésticos, eletrônicos e móveis — no Meli a partir de 1º de novembro, em meio aos preparativos para a Black Friday, uma das datas mais relevantes para o comércio.
As empresas vão compartilhar estruturas de distribuição. A Casas Bahia tem 1.100 lojas e 30 centros de distribuição espalhados pelo país. Em algumas regiões, terá à disposição a estrutura do Mercado Livre, para reduzir custos e acelerar entregas.
O Mercado Livre, por sua vez, passa a ser o principal canal de vendas online dos produtos da Casas Bahia. A parceria leva produtos de maior volume e ticket médio mais alto, como eletrodomésticos, para o Meli.
Para Renato Franklin, CEO da Casas Bahia, a parceria com Mercado Livre não deve comprometer o crescimento do e-commerce próprio da varejista no médio e longo prazo. O executivo disse que a parceria é complementar, e não substitutiva.
"O cliente é soberano e escolhe onde comprar. Nossa força de marca, o alcance logístico e a carteira de crédito fazem com que o consumidor continue vindo ao nosso site. Essa é uma parceria de longo prazo, bem estruturada, que nos protege de riscos e amplia nossas oportunidades", disse o Franklin.
O executivo afirma que a companhia continuará priorizando seu ecossistema próprio, formado por lojas físicas, site e aplicativo. Segundo ele, a presença no marketplace do Mercado Livre é uma oportunidade para ampliar canais e conquistar novos clientes em um momento de alta competitividade no varejo.
"Somando a visibilidade que o Mercado Livre tem e a boa UX [experiência do usuário] da plataforma com a nossa escala comercial, infraestrutura logística e poder de crédito, conseguiremos ampliar nossas vendas e ganhar market share", disse ele.
"Obviamente esse é o principal foco, ganhar vendas e ganhar uma alavancagem operacional com mais receita na companhia, mas acabamos tendo ganhos de eficiência cruzada pela sinergia que existe entre as duas companhias", acrescentou.
Analistas do sell side e especialistas consultados pela EXAME viram com bons olhos a iniciativa de compartilhamento das estruturas das empresas. Mas levantaram dúvidas de como ficaria o e-commerce da Casas Bahia, e alguns viram risco de dependência no médio e no longo prazo.
Na avaliação da Genial Investimentos, o acordo reforça a tese de que a Casas Bahia segue reposicionando seu modelo de negócio para maximizar eficiência e capilaridade. "Além de ampliar o alcance digital, a parceria reduz a dependência do canal próprio e melhora o giro de estoques em categorias core, podendo gerar ganhos logísticos e de tráfego no curto prazo."
A XP também acredita que o a parceria adiciona um canal relevante, com tráfego significativo, que tende a impulsionar vendas das Casas Bahia. "É um fator favorável aos resultados do quarto trimestre, já que a Black Friday deve se beneficiar disso. No entanto, observamos que isso também pode desviar parte do tráfego próprio de e-commerce da Casas Bahia".
Entretanto, para Maurício Grandeza, consultor de varejo que já foi diretor de marketplace no Mercado Livre entre 2004 e 2005, o movimento pode ser inverso: “no médio e longo prazo, isso pode vir a ser uma morfina, uma dependência que acho bem arriscada", afirmou à EXAME.
De forma mais ampla, analistas do Bradesco BBI veem a iniciativa como um desafio para concorrentes como Magazine Luiza (MGLU3), que poderá enfrentar aumento de pressão competitiva em sua categoria principal, e para a Shopee, que ainda se encontra em fase inicial na oferta de bens duráveis.