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Eficiência, vendas (e Ozempic): As cinco razões pelas quais a RD sobe mais de 15% após balanço

Dona da Raia e da Drogasil dispara na Bolsa e recupera parte da queda do ano, após divulgar EBITDA acima do esperado

RD: Vendas cresceram acima da inflação de medicamentos e aceleraram frente ao trimestre anterior (Leandro Fonseca/Exame)

RD: Vendas cresceram acima da inflação de medicamentos e aceleraram frente ao trimestre anterior (Leandro Fonseca/Exame)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 6 de agosto de 2025 às 11h47.

Última atualização em 6 de agosto de 2025 às 11h54.

As ações da RD Saúde (RADL3) disparam nesta quarta-feira, liderando com folga as altas do Ibovespa com uma alta que chegou a mais de 15%, após a empresa reportar seus resultados. A forte reação da Bolsa reflete a combinação de uma base deprimida — os papéis acumulam queda de mais de 30% no ano — e sinais claros de melhora operacional, com crescimento vendas, ganho de eficiência administrativa e um EBITDA que superou as projeções de praticamente todos os analistas.

Os números trouxeram algum alívio: no primeiro trimestre, a companhia tinha frustrado expectativas ao reportar queda de lucro, margens pressionadas e consumo de caixa, o que colocou sob suspeita sua capacidade de manter crescimento com rentabilidade.

A receita bruta da companhia cresceu 12% no segundo trimestre comparação anual, totalizando R$ 11,6 bilhões. O EBITDA ajustado somou R$ 885 milhões, uma alta de 7,3% em relação ao segundo trimestre do ano passado e cerca de 11% acima da estimativa média do mercado. O lucro líquido ajustado foi de R$ 403 milhões, com crescimento de 13% na mesma base de comparação.

O que agradou o mercado

1. Eficiência administrativa volta ao jogo

Um dos principais pontos positivos destacados pelos analistas foi o ganho de eficiência em despesas gerais e administrativas (G&A). A relação entre G&A e receita caiu para 2,6%, o menor nível desde 2020.

Segundo o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame), isso é resultado direto da reestruturação organizacional feita em abril, que eliminou sobreposições, enxugou níveis hierárquicos e acelerou decisões.

2. Crescimento em vendas com melhora de produtividade

As vendas nas mesmas lojas (SSS) subiram 7,3% no consolidado e 5,5% nas lojas maduras, acima da inflação oficial de medicamentos e com aceleração em relação aos trimestres anteriores. A produtividade das lojas também cresceu: o faturamento médio mensal por unidade foi de R$ 1,2 milhão, ante R$ 1,1 milhão no segundo trimestre de 2024.

3. Digital decola com ajuda das canetas de emagrecimento

As vendas digitais cresceram 52% e já representam 24% das vendas da RD, impulsionadas por novos medicamentos para diabetes e obesidade (classe GLP-1, como o Ozempic e o Mounjaro). Segundo o Safra, esses medicamentos adicionaram cerca de dois pontos percentuais ao crescimento total da receita no trimestre.

4. Pressão nas margens contida

Apesar de uma queda de 80 pontos-base na margem bruta, por conta do reajuste limitado de medicamentos e maior peso de medicamentos de margem mais baixa (como os GLP-1), a companhia compensou parte dessas perdas com diluição de despesas e eficiência logística.

5. Sinalizações fiscais positivas

A RD também se beneficiou de um crédito fiscal não recorrente de R$ 62 milhões, ligado à reversão de provisões tributárias após decisões favoráveis em processos judiciais — outro ponto que ajudou a turbinar o lucro.

Ceticismo dá lugar à otimismo?

A melhora nos números finalmente dá alívio a uma tese que vinha pressionada. “A RD conseguiu entregar um Ebitda acima do esperado e manter a margem mesmo com o cenário desafiador. Foi a primeira vez desde no terceiro trimestre de 2020 que ela atingiu o consenso de margem com base em eficiência de despesas, e não em fatores pontuais”, escreveu o Safra.

A XP, por sua vez, afirmou que o resultado “ajuda a virar a página do primeiro trimestre de 2025”, mas pondera que ainda há desafios pela frente, especialmente no segmento de higiene e cuidados pessoais, que continua crescendo abaixo do restante da operação. A RD vem enfrentando uma concorrência maior de plataformas de ecommerce e outras redes nessa seara, que tem boas margens.

O BTG vai na mesma linha e mantém um otimismo ponderado. “Esperamos que a ação reaja bem aos resultados encorajadores do segundo trimestre, principalmente dada a queda das ações no ano, mas as questões sobre se os desafios que a empresa enfrenta são estruturais ou temporários, principalmente relacionados à competição em higiene e beleza e o apo impacto nas margens nos trimestres seguintes”, disse a equipe do banco.

Apesar das dúvidas, o BTG mantém recomendação de compra para os papéis, com preço-alvo de R$ 25 — o que representa um potencial de valorização superior a 60% sobre a cotação anterior à divulgação do balanço.

Já o Safra, apesar de ver o resultado como positivo, segue com recomendação neutra, argumentando que a ação negocia a 18 vezes o lucro estimado para 2026, prêmio considerado justo frente a outros nomes do varejo.

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