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Estados Unidos caminham para recessão em 2025, diz BCA Research

Mesmo com trégua nas tarifas, estrategista da BCA projeta recessão e S&P 500 em 4.500 pontos; inadimplência em cartões sobe a 3,05% enquanto mercado imobiliário recua

Estela Marconi
Estela Marconi

Freelancer

Publicado em 23 de junho de 2025 às 16h13.

Apesar do alívio recente no mercado com a pausa de 90 dias nas tarifas anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o estrategista-chefe global da BCA Research, Peter Berezin, segue com um cenário pessimista para a economia americana. Em entrevista ao Business Insider, ele disse que ainda projeta uma recessão em 2025, acompanhada de uma forte correção no mercado de ações.

Berezin reduziu ligeiramente a probabilidade de recessão, de 75% para 60%, mas afirmou que esse continua sendo seu cenário base. Nesse caso, ele projeta que o índice S&P 500 pode cair para 4.500 pontos — uma queda de cerca de 25% em relação aos níveis registrados na última sexta-feira, 20. “Não é uma probabilidade esmagadora de recessão, mas ainda é meu cenário principal”, afirmou.

Embora esse patamar represente uma queda significativa em relação às máximas históricas recentes, Berezin acredita que não seria preciso muito para o índice despencar. Segundo ele, bastaria que o S&P 500 passasse a ser negociado a 18 vezes o lucro por ação, com um EPS de US$ 250. Nesta segunda-feira, 23, o índice está em torno de 23 vezes, com EPS próximo de US$ 260.

Economia dá sinais de desaceleração

Berezin alerta que a economia americana já apresentava fragilidade antes mesmo do agravamento das tensões comerciais. No fim de 2024, ele previa uma recessão em 2025 e projetava o S&P 500 a 4.452 pontos, se tornando uma das estimativas mais pessimistas de Wall Street. Hoje, suas preocupações se concentram na incerteza comercial, no aumento do déficit e na fragilidade do consumidor.

Ele observa que a queda nas vagas de trabalho desde 2022 vem reduzindo a resiliência do mercado laboral. Outros analistas, como Sam Tombs, da Pantheon Macroeconomics, também apontaram um enfraquecimento na contratação das pequenas empresas. Enquanto isso, a inadimplência em cartões e financiamentos cresce: no primeiro trimestre de 2025, as dívidas em atraso nos cartões chegaram a 3,05%, maior nível desde 2011. A volta da cobrança de empréstimos estudantis, após anos de suspensão, também afeta o crédito das famílias.

O mercado imobiliário segue pressionado, com baixa oferta e preços elevados dificultando o acesso à moradia. Em maio, os lançamentos caíram 9,8%, o que Berezin vê como mais um sinal de desaceleração.

Tarifas continuam elevadas e preocupam

Mesmo com a pausa temporária nas tarifas, a taxa efetiva segue em 15%, patamar considerado alto por Berezin. Para o estrategista, níveis acima de 10% já causam danos à economia. Caso novos acordos não sejam firmados, as empresas devem começar a repassar os custos aos consumidores, agravando o cenário.

Ele avalia que Trump não deve recuar da tarifa-base de 10% aplicada a diversos países, a menos que o mercado o pressione. Além disso, há risco de novas tarifas em setores como farmacêutico, semicondutores e madeira, o que poderia intensificar o impacto econômico.

Mercado pode forçar mudança de rumo

Mesmo que Trump aposte em um novo pacote de cortes de impostos, como o chamado "Big Beautiful Bill", Berezin alerta para os riscos fiscais. Estímulos não financiados podem elevar os rendimentos dos títulos públicos, anulando os efeitos positivos. Segundo o Escritório de Orçamento do Congresso, a proposta aumentaria o PIB em 0,5% ao ano, mas elevaria os juros dos Treasuries em 14 pontos-base e o déficit em US$ 2,8 trilhões.

Para o especialista, uma crise no mercado pode ser o único fator capaz de forçar uma mudança na política tarifária. Ele acredita que a queda do S&P 500 abaixo dos 5.000 pontos e a alta dos Treasuries acima de 4,5% foram decisivas para a pausa tarifária. “Podemos ver mais alívio, mas só se o mercado exigir. Não acredito que venha de outra fonte”, concluiu.

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