Fed: autoridade monetária mantém fed funds entre 4,25% e 4,50% (Al Drago/Bloomberg)
Repórter de finanças
Publicado em 30 de julho de 2025 às 15h03.
Última atualização em 30 de julho de 2025 às 16h27.
O Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) manteve suas taxas de juros inalteradas pela quinta reunião consecutiva na faixa entre 4,25% e 4,50%. O movimento já era amplamente aguardado pelo mercado, que agora busca mais pistas sobre o início do ciclo de cortes de juros.
A decisão não foi unânime, Michelle W. Bowman e Christopher J. Waller votaram por um corte de 0,25 ponto percentual (p.p.). O movimento ocorre em um momento em que o Fed sofre forte pressão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para reduzir juros.
"A decisão de manter o intervalo‑alvo em 4,25%‑4,50% não surpreende ninguém que acompanhe os dados: com a inflação ainda teimosa e o mercado de trabalho resiliente, cortar agora seria um risco reputacional elevado para o Comitê", afirma Enrico Gazola, economista pelo Insper e sócio-fundador da Nero Consultoria.
No comunicado, o Fed apontou que "indicadores recentes sugerem que o crescimento da atividade econômica moderou na primeira metade do ano", mas a inflação continua um pouco alta. Também citou que a incerteza em relação às perspectivas econômicas permanece elevada. "O Comitê está fortemente comprometido em apoiar o máximo emprego e em trazer a inflação de volta ao seu objetivo de 2%."
Segundo o documento, a autoridade monetária estará preparada para ajustar a postura da política monetária, conforme apropriado, caso surjam riscos que possam comprometer o alcance de seus objetivos.
O comunicado, no entanto, não deu sinais de quando os cortes se iniciarão. Agora investidores irão buscar algo na coletiva de Jerome Powell, presidente do Fed. Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, essa falta de sinalizações tem muito a ver com o evento anual que acontece em Jackson Hole nos Estados Unidos, onde os principais banqueiros centrais se reúnem.
"O mercado considera quase como se fosse uma reunião entre os banqueiros centrais, ou seja, não tinha muito por que passar uma sinalização para setembro agora, sendo que daqui a pouco você tem esse evento", afirma Cruz. Segundo a plataforma FedWatch, que mede as apostas do mercado, os investidores acreditam que o primeiro corte de 0,25 p.p. virá no dia 17 de setembro.
Confira o comunicado na íntegra:
Embora as oscilações nas exportações líquidas continuem afetando os dados, indicadores recentes sugerem que o crescimento da atividade econômica moderou na primeira metade do ano. A taxa de desemprego permanece baixa e as condições do mercado de trabalho seguem sólidas. A inflação continua algo elevada.
O Comitê busca alcançar o máximo emprego e inflação à taxa de 2% no longo prazo. A incerteza em relação às perspectivas econômicas permanece elevada. O Comitê está atento aos riscos que afetam ambos os lados de seu duplo mandato.
Em apoio a seus objetivos, o Comitê decidiu manter a meta para o target range da federal funds rate entre 4,25% e 4,5%. Ao considerar a magnitude e o momento de ajustes adicionais na meta para a federal funds rate, o Comitê avaliará cuidadosamente os dados recebidos, a evolução do cenário e o balanço de riscos. O Comitê continuará reduzindo suas posições em Treasury securities, agency debt e agency mortgage‑backed securities. O Comitê está fortemente comprometido em apoiar o máximo emprego e em trazer a inflação de volta ao seu objetivo de 2%.
Na avaliação da postura apropriada da política monetária, o Comitê continuará monitorando as implicações das informações recebidas para as perspectivas econômicas. O Comitê estará preparado para ajustar a postura da política monetária, conforme apropriado, caso surjam riscos que possam comprometer o alcance de seus objetivos. As avaliações do Comitê levarão em conta uma ampla gama de informações, incluindo leituras sobre as condições do mercado de trabalho, pressões inflacionárias e expectativas de inflação, além de desenvolvimentos financeiros e internacionais.
Votaram a favor da ação de política monetária: Jerome H. Powell, Chair; John C. Williams, Vice Chair; Michael S. Barr; Susan M. Collins; Lisa D. Cook; Austan D. Goolsbee; Philip N. Jefferson; Alberto G. Musalem; e Jeffrey R. Schmid. Votaram contra essa ação Michelle W. Bowman e Christopher J. Waller, que preferiram reduzir o target range da federal funds rate em 0,25 ponto percentual nesta reunião. Adriana D. Kugler esteve ausente e não votou.
Iniciando o discurso falando sobre inflação, Powell enfatizou que Fed segue focado na meta e no mercado de trabalho e reconheceu que a inflação se mantém acima da meta de 2%. "A inflação recuou de forma significativa em relação aos picos de meados de 2022, mas continua um pouco elevada em relação ao nosso objetivo de 2% no longo prazo."
Em relação às tarifas, Powell disse que "tarifas mais altas começaram a aparecer com mais clareza nos preços de alguns bens, mas seus efeitos gerais sobre a atividade econômica e a inflação ainda precisam ser observados." Segundo ele, um cenário-base razoável é que os efeitos sobre a inflação possam ser de curta duração, refletindo um aumento pontual no nível de preços.
"Mas também é possível que os efeitos inflacionários sejam mais persistentes — e esse é um risco que precisa ser avaliado e gerenciado. Nossa obrigação é manter as expectativas de inflação de longo prazo bem ancoradas e evitar que um aumento pontual no nível de preços se torne um problema inflacionário contínuo", afirmou.
Powell manteve um discurso cautelosamente hawkish, optando por não sinalizar de forma explícita qualquer mudança iminente na política monetária. Sobe o corte em setembro, Powell afirmou que ainda nada foi decidido. "Não tomamos nenhuma decisão sobre setembro", disse Powell.
Para Gazola, o Fed não quer se comprometer com uma decisão agora, ou seja, vai esperar os próximos dados antes de sinalizar qualquer movimento. Um corte em setembro continua possível, mas longe de garantido. "O presidente confirmou a estratégia de manter o Comitê em modo dependente de dados", afirmou o especialista.
Powell destacou ainda que o mercado de trabalho está sólido e a inflação está acima da meta. Isso justifica, em sua visão, a decisão do Fed em manter a política em níveis “modestamente restritivos” por enquanto. "Caracterizo nossa política monetária como modestamente restritiva", apontou.
O presidente também falou sobre a autonomia do BC americano. Para ele, ter um banco central independente tem sido um arranjo institucional que tem servido bem ao público.
*Matéria em atualização