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Ford prevê lucro menor e CEO diz que tarifas de Trump favorecem rivais asiáticos

Montadora estima impacto de até US$ 3 bilhões neste ano e vê desvantagem frente à Toyota com tarifas reduzidas para o Japão

Publicado em 31 de julho de 2025 às 09h28.

A montadora americana Ford alertou que seu lucro ajustado antes de juros e impostos (Ebit) pode cair até 36% em 2025, reflexo direto do impacto crescente das tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

O custo líquido estimado com as medidas comerciais subiu para US$ 2 bilhões, cerca de US$ 500 milhões acima do previsto anteriormente.

A cifra líquida considera ações internas para mitigar parte do impacto: segundo a Ford, o impacto bruto das tarifas pode chegar a US$ 3 bilhões neste ano, mas a empresa estima conseguir compensar cerca de US$ 1 bilhão desse total.

As tarifas sobre veículos, autopeças, aço, alumínio e produtos de parceiros comerciais estratégicos elevaram os custos da montadora, que mesmo com grande parte da produção concentrada nos EUA, continua pressionada.

Segundo a diretora financeira Sherry House, parte da alta nas despesas vem da decisão de Trump de dobrar as tarifas sobre aço e alumínio de 25% para 50%. Os aumentos atingem fornecedores de materiais, que repassam os custos à Ford.

Outro fator que pesou foi a manutenção prolongada das tarifas ligadas ao combate ao tráfico de fentanil, que também surpreenderam a empresa. “A administração está ciente dessas tarifas múltiplas e está trabalhando conosco para resolver a situação”, disse House a repórteres.

Mudança na indústria

O presidente da Ford, Jim Farley, afirmou que a política tarifária está provocando uma mudança estrutural na indústria automotiva global. “Cada vez mais vemos Europa, América do Norte e Ásia se tornando negócios regionais”, disse. “Acredito que essa é uma mudança bastante fundamental.”

A avaliação ocorre no mesmo momento em que o governo Trump reduz tarifas sobre o Japão de 25% para 15%, o que, segundo Farley, amplia a vantagem de custo de montadoras asiáticas como a Toyota.

Considerando também os menores salários e a taxa de câmbio favorável, um Ford Escape produzido no Kentucky pode sair US$ 5 mil mais caro do que um Toyota Rav4 fabricado no Japão.

No caso do Bronco, da Ford, a diferença de preço em relação ao 4Runner, da Toyota, pode chegar a US$ 10 mil.

“É uma diferença realmente significativa”, afirmou Farley à Bloomberg. Ele disse que a Ford está em diálogo com o governo Trump para tentar reduzir o peso tarifário, mas admitiu que a estratégia da empresa é evitar competir em segmentos mais comoditizados.

Além da Ford, outras montadoras também vêm sentindo os efeitos das políticas comerciais dos EUA. A General Motors estima que as tarifas devem reduzir seu lucro anual entre US$ 4 bilhões e US$ 5 bilhões. Já a Stellantis prevê impacto de cerca de US$ 1,7 bilhão neste ano.

Apesar dos custos elevados, a Ford evitou grandes reajustes de preços e projeta estabilidade nos valores de veículos até o fim do ano.

Em maio, diante das incertezas sobre tarifas, a montadora havia suspendido sua projeção de lucro para o ano. A nova estimativa foi retomada agora, com previsão de Ebit ajustado entre US$ 6,5 bilhões e US$ 7,5 bilhões.

Pressão sobre elétricos

O alerta sobre lucros ofuscou o desempenho acima do esperado no segundo trimestre. O lucro ajustado por ação foi de US$ 0,37, acima dos US$ 0,33 esperados pelo mercado, com Ebit ajustado de US$ 2,1 bilhões.

Na divisão Ford Blue, responsável por veículos a combustão e híbridos, o lucro antes de juros e impostos foi de US$ 661 milhões, bem abaixo dos US$ 1,2 bilhão registrados no mesmo período de 2024.

As vendas nos EUA subiram 14,2% no trimestre, impulsionadas por uma campanha que ofereceu preços equivalentes aos pagos por funcionários.

A unidade Ford Pro, voltada ao mercado comercial, também registrou recuo: US$ 2,3 bilhões de lucro operacional, contra US$ 2,6 bilhões um ano antes.

Já a divisão de veículos elétricos, Model-e, teve prejuízo de US$ 1,3 bilhão no trimestre, maior do que os US$ 1,2 bilhão perdidos no ano anterior.

As vendas de elétricos da marca nos EUA caíram 31%, em meio ao envelhecimento da linha e à suspensão temporária do Mustang Mach-e por recall de segurança. A expectativa da companhia é que a divisão encerre o ano com perdas de até US$ 5,5 bilhões.

Farley prometeu apresentar uma nova estratégia para os elétricos em 11 de agosto, durante evento em Kentucky, incluindo um novo modelo que chamou de “veículo elétrico revolucionário”.

Qualidade dos veículos

A Ford também aposta no mercado de robotáxis, com foco na gestão de frotas. “Vemos uma grande oportunidade para a Ford Pro nesse segmento”, afirmou Farley.

Enquanto isso, a montadora corre para melhorar a qualidade dos veículos, após registrar um número recorde de recalls. Só no segundo trimestre, a empresa provisionou US$ 570 milhões para cobrir o custo do chamado de quase 700 mil SUVs por risco de incêndio no motor.

As ações da Ford caíam cerca de 0,5% no pré-mercado em Nova York nesta quinta-feira. No acumulado do ano, os papéis sobem 10%, superando o avanço de cerca de 8% do índice S&P 500.

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