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Hapvida: o motivo que fez a ação subir no dia, mas não impediu a queda de 14% no mês

Investidores seguem cautelosos diante da pressão judicial e crescimento fraco no Sudeste

Hapvida: JPMorgan recomenda compra para o papel, com preço-alvo de R$ 60 para o final de 2026 (Hapvida/Divulgação)

Hapvida: JPMorgan recomenda compra para o papel, com preço-alvo de R$ 60 para o final de 2026 (Hapvida/Divulgação)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 30 de junho de 2025 às 20h19.

A Hapvida protagonizou uma forte alta nesta segunda-feira, 30, último pregão do mês. O papel disparou mais de 1,5% nesta sessão. O motivo? Para o JPMorgan, apesar da volatilidade dos resultados nos últimos anos — que afastou muitos investidores — a lucratividade segue em tendência de alta, com a principal alavanca de valor sendo a normalização adicional das margens.

A Hapvida, segundo relatório publicado pelo banco, é a operadora de planos de saúde número 1 do Brasil, com aproximadamente 9 milhões de beneficiários e cerca de 17% de market share na indústria como um todo.

A companhia também tem sido a maior consolidadora do setor, dobrando sua participação de mercado nos últimos cinco anos com uma estratégia combinada de crescimento orgânico e aquisições.

Depois de um período marcado pela depuração do portfólio — com a exclusão de contratos menos rentáveis — e fortes reajustes de preços, a tese de crescimento volta ao radar, agora ancorada no fortalecimento da rede própria e em uma proposta de valor mais clara para os clientes.

Ainda assim, o mercado não ignorou os desafios recentes. As ações acumulam uma queda de 14,1% no mês, reflexo das incertezas sobre judicialização e da competição acirrada em regiões como Sudeste e Sul, onde a empresa enfrenta rivais como Unimed BH, Amil e Porto Saúde. No entanto, o JPMorgan acredita que parte dessas pressões já está no preço.

“[Mesmo] diante do aumento nas provisões relacionadas a processos judiciais, projetamos uma normalização da lucratividade até 2026”, diz o banco no relatório assinado por Joseph Giordano e equipe.

As projeções indicam um crescimento médio anual (CAGR) de 6% para a receita e de 22% para o lucro por ação ajustado entre 2025 e 2029.

O valuation da companhia também chama atenção. O JPMorgan estabeleceu um novo preço-alvo de R$ 60 por ação para dezembro de 2026, o que representa um potencial de valorização de mais de 60% em relação aos níveis atuais.

O cálculo foi feito com base em um modelo de fluxo de caixa descontado (DCF) de 10 anos, com custo de capital próprio de 13,4% e taxa de crescimento perpétuo de 5,5%. A esse valor justo, a ação estaria negociando a 8x EV/Ebitda e 15x P/L ajustado para 2026.

“Negociando a múltiplos não exigentes de 12x/9x P/L para 2025/2026, vemos uma boa assimetria risco-retorno em relação às perspectivas de crescimento do lucro por ação (CAGR de 22% em 5 anos)”, afirma o JPMorgan.

Moderação nos preços deve apoiar expansão da base

A estratégia de preços da Hapvida também passou por ajustes. O banco destaca que a companhia está adotando uma política mais moderada em relação aos anos anteriores. Essa mudança, aliada ao reforço da rede de atendimento, tende a favorecer a retomada do crescimento da base de beneficiários.

A verticalização mais robusta também deve ajudar a conter reajustes excessivos, em um contexto em que a frequência segue comportada e há maior participação dos clientes via coparticipações.

O JPMorgan projeta crescimento do tíquete médio de 7,5% em 2025, considerando um teto de reajuste individual de cerca de 6,1% e aumentos médios de 11,5% para planos PME e 15,2% para a NDI — segmento corporativo da operadora. O crescimento de receita esperado é de 8% ano contra ano em 2025.

Crescimento ainda lento, mas tende a melhorar

O banco observa que as tendências de crescimento permanecem mais fracas do que o esperado. A retomada das adições líquidas — interrompida pela limpeza do portfólio e pelo aumento dos preços — tem demorado a ganhar força, mesmo com o bom momento do setor.

Uma análise regional da Agência Nacional de Saúde (ANS) mostra que o Sudeste continua sendo o principal desafio para a Hapvida, com perdas líquidas de 156 mil vidas nos últimos 12 meses, puxadas por Minas Gerais, onde a concorrência da Unimed BH é intensa.

Em São Paulo, as adições líquidas também seguem tímidas, diante da presença de Amil e Porto Saúde — especialmente nos planos de tíquete mais baixo, concorrentes diretos da Intermédica. O Sul também é uma região difícil, dado o alcance limitado da rede da companhia.

Por outro lado, o Nordeste permanece como o mercado mais resiliente, com pequenos ganhos de market share.

Ainda que o banco espere um segundo trimestre morno, a expectativa é mais construtiva para o segundo semestre, com a rede fortalecida e uma atuação comercial mais agressiva, agora que a integração das operações foi concluída.

Fundamentos atrativos

O relatório pondera, contudo, que os preços atuais já refletem um certo ceticismo do mercado.

“Ao rodarmos uma análise de sensibilidade para as expectativas de longo prazo (LT), ela sugere que os níveis atuais de preço embutem deterioração de margem com uma provável elevação do MLR [sinistralidade] (71%) e/ou crescimento limitado (CAGR de receita de 5% no LT), próximo à inflação médica — projetada entre 1,25x e 1,5x o CPI geral no longo prazo (3,5%)”.

O banco avalia esse como um cenário conservador, e argumenta que os investimentos recentes da empresa em rede própria devem melhorar o controle de custos e a percepção de qualidade do produto.

No curto prazo, o barulho no mercado tende a diminuir, na visão do banco, por dois motivos: melhorias da sinistralidade subjacente, excluindo judicialização — que agora está sendo repassada aos clientes; e a provável estabilização dos depósitos judiciais e consequente redução em novas provisões, já que isso se tornou um foco-chave da gestão após as pressões do ano passado.

Mesmo com a revisão para baixo de 7% nas projeções de lucro por ação (EPS) para 2025 e 2026, o banco segue otimista.

“Ainda assim, seguimos vendo um upside de mais de 10% frente às expectativas de EPS para 2025”.

O JPMorgan recomenda compra para o papel.

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