Ozempic: patente da semaglutida expira em março de 2026, abrindo espaço para versões genéricas e similares da substância (imyskin/Getty Images)
Repórter Exame IN
Publicado em 21 de março de 2025 às 15h42.
Última atualização em 21 de março de 2025 às 18h14.
A Hypera Pharma anunciou nesta sexta-feira, 21, que planeja lançar no Brasil, já em 2026, um medicamento baseado na semaglutida, princípio ativo do Ozempic, da dinamarquesa Novo Nordisk.
“Estamos trabalhando para lançar assim que cair a patente e estamos bastante otimistas com esse produto a partir do ano que vem”, afirmou o CEO da companhia, Breno de Oliveira, durante teleconferência com analistas para comentar os resultados do 4º trimestre de 2024.
A patente da semaglutida expira em março de 2026, abrindo espaço para versões genéricas e similares da substância que ganhou notoriedade mundial como auxiliar no tratamento de diabetes tipo 2 e, mais recentemente, como supressor de apetite em protocolos de emagrecimento.
No Brasil, os preços do Ozempic variam entre R$ 800 e R$ 1.500, tornando-o um dos medicamentos mais caros e cobiçados do mercado de varejo farmacêutico. Além da Hypera, a EMS tem suas versões já em desenvolvimento, como contou a edição de janeiro da EXAME.
A expectativa positiva com a futura entrada nesse mercado impulsionou as ações da Hypera, que lideravam as altas do Ibovespa nesta sexta-feira, e fecharam em valorização de 4% (R$ 20,38).
Além da Hypera, ao menos quatro pedidos de registro de medicamentos com base em semaglutida já tramitam na Anvisa. Ainda assim, a farmacêutica brasileira vê espaço relevante para competir com um produto próprio, apostando na robustez de sua distribuição e no conhecimento do varejo nacional.
Segundo Breno de Oliveira, o mercado da semaglutida não deve enfrentar queda acentuada de preços no curto prazo, como acontece em lançamentos genéricos tradicionais, por conta do alto custo de produção e da menor disponibilidade de canetas aplicadoras.
“Não esperamos degradação tão grande dessa categoria (semaglutida) no curto prazo”, completou o CEO.
O otimismo com a estratégia de médio prazo vem mesmo após a divulgação de um trimestre considerado fraco pelos analistas.
A Hypera reportou uma queda de 18% na receita líquida e de 76% no EBITDA ajustado no quarto trimestre, como parte da execução de sua política de otimização do capital de giro, que inclui ajustes em prazos de recebíveis e estoques.
Segundo o Itaú BBA, o impacto era esperado. “Embora os números divulgados não sejam inspiradores por si só, já se antecipava que a mudança na estratégia de capital de giro teria impacto considerável no curto prazo”, apontou o banco em relatório.
A análise é corroborada pelo Goldman Sachs, que destacou o alívio com o fato de o pior já estar, em boa parte, precificado. “A margem EBITDA caiu 22,4 ponto percentual ano contra ano, com forte desalavancagem operacional e mix desfavorável, mas já estava em linha com nossas estimativas”, escreveram os analistas.
A companhia reportou receita líquida de R$ 1,511 bilhão, enquanto o EBITDA ajustado ficou em R$ 146 milhões, com margem de apenas 9,1% — bem abaixo dos padrões históricos da empresa.
Os relatórios destacam, no entanto, a melhora na dinâmica de caixa, com redução de 19 dias no ciclo de conversão de caixa e prazo de recebíveis ajustado para 70 dias nas vendas recentes, sinalizando que a mudança estrutural começou a gerar frutos operacionais.
“Com vendas feitas no fim do primeiro trimestre acordadas com prazo de 70 dias, a empresa está, de fato, avançando na estratégia de foco em geração de caixa”, avaliou o Goldman.
Com o ajuste de capital de giro ainda em andamento, a Hypera projeta um primeiro semestre pressionado, mas com recuperação gradual nas margens na segunda metade de 2025.