Ronald Josey, analista de tecnologia do banco americano Citi
Editor de Invest
Publicado em 12 de setembro de 2025 às 13h35.
Ronald Josey acompanha empresas de internet há quase duas décadas, desde antes da ascensão das redes sociais. No início de 2022, ele se juntou ao time de analistas do banco americano Citi, num momento em que as techs viviam mais um boom. No ano anterior, muitas dessas companhias se juntaram ao clube dos trilhões, como foi o caso da Meta, dona do Facebook.
Amazon, Alphabet (dona do Google), Uber e AirBnB são outros nomes que estão na cobertura de Josey hoje. Segundo ele, o mundo ainda está em processo de migração do offline para o online e isso fica ainda mais evidente em alguns setores.
"A penetração do e-commerce nos Estados Unidos ainda gira em torno de 21%. Isso quer dizer que oito entre dez itens ainda são comprados em lojas físicas", disse Josey, em entrevista à EXAME.
A inteligência artificial, por sua vez, deve mudar completamente a forma como as pessoas interagem com a internet e com aplicativos, acredita o analista.
Josey, que já acompanhou inúmeras transformações nesse setor ao longo de sua carreira, diz que a IA não será apenas um fio condutor, mas o "tecido" inteiro para a próxima fase de crescimento das empresas do setor de tecnologia. E das companhias no geral.
"Olhando para o longo prazo, as oportunidades impulsionadas pela inteligência artificial generativa são substanciais. E já estamos vendo melhorias significativas de produtividade. Se isso continuar, as empresas tendem a se tornar mais lucrativas e elevar o preço de suas ações", afirma o analista.
Confira outros trechos da entrevista de Ron Josey à EXAME em sua última passagem pelo Brasil.
EXAME: Inteligência artificial é o tema que define vencedores e perdedores na indústria de tecnologia?
Ron Josey: Ferramentas como o ChatGPT fizeram um trabalho incrível em mudar a forma como acessamos a informação, tanto que o Google veio com o Gemini. Meta, enquanto isso, investe nessa tecnologia para trazer recomendações que as pessoas querem ver e aumentar engajamento, ao mesmo tempo que busca oferecer novos serviços, como os óculos inteligentes. Os estudos mostram que a transformação provocada pela IA pode ser mais poderosa que a da tecnologia móvel e a internet juntas. Então essa é uma oportunidade gigantesca. E não estamos necessariamente olhando para os próximos um ou dois anos, mas sim para um horizonte de até 10 anos.
EXAME: E qual é o uso da inteligência artificial que tende a gerar mais valor?
Ron Josey: Existem diversas formas a fatores do que Inteligência Artificial pode vir a ser. Mas no final do dia, é sobre ter uma tecnologia mais pessoal, um assistente trabalhando para facilitar a sua vida. E esse é o futuro: os agentes vão fazer as coisas por você. Procurar uma reserva de hotel e, provavelmente, encontrar um desconto, ou encontrar aquele casaco esportivo que você está procurando por um preço mais baixo. E ele vai te perguntar: "posso comprar?".
EXAME: As Sete Magníficas ainda formam um grupo coeso?
Ron Josey: Essas são as empresas que estão mudando a forma como vivemos. E algumas delas sequer existiam 25 anos atrás. São companhias relativamente novas. Não acho que teremos um novo acrônimo tão cedo, ainda que existam diversas outras companhias inovando fora do grupo das Sete Magníficas, e mesmo não fazendo parte do clube das trilionárias em valor de mercado. Mas acho que as empresas que transformam a forma que vivemos serão as mesmas por algum tempo.
EXAME: Acredita que o surgimento de big techs fora dos Estados Unidos é possível?
Ron Josey: Eu acho que sim. Mas as big techs estão construindo infraestruturas de centenas de bilhões de dólares e acho que vai ser difícil para outras competirem. E você também precisa de um ambiente para acessar capital, com investidores dispostos a tomar risco. Isso tem acontecido na Ásia e na China, particularmente, mas e bem difícil competir com os acessos à capital que as companhias americanas possuem.