JP Morgan: empresas de IA tem base financeira mais sólida do que as 'pontocom' (gorodenkoff/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 11 de novembro de 2025 às 16h56.
O JPMorgan alertou que seu “maior temor” em relação ao avanço da inteligência artificial é que o setor repita os erros do boom das telecomunicações nos anos 1990. Na época, empresas do setor investiram pesado em infraestrutura mas não conseguiram recuperar o valor dos aportes.
“Nosso maior temor seria uma repetição da expansão das telecomunicações e da fibra óptica, em que a curva de receita não se materializou em um ritmo que justificasse o investimento contínuo”, diz o relatório do JPMorgan obtido pela Business Insider.
O banco lembra que, na época, algumas companhias do setor se endividaram para construir redes de fibra óptica, acreditando que essas estruturas sustentariam o volume explosivo de tráfego online previsto para os anos seguintes.
No entanto, o resultado ficou muito aquém das expectativas. A adoção foi mais lenta do que o previsto, as empresas demoraram para recuperar seus investimentos e o custo do financiamento aumentou.
“Foram gastas somas relativamente grandes sem uma compreensão clara de como a curva de adoção se desenvolveria. E parece que esse também é o problema com os gastos em IA atualmente”, afirmaram os analistas do banco.
Empresas frágeis que prosperaram durante o boom da internet acabaram falindo, o que levou a uma revisão da demanda por redes de fibra óptica. Com o excesso de infraestrutura instalada, os preços despencaram.
“Embora a necessidade de poder computacional em data centers esteja aumentando exponencialmente, a concorrência e as limitações de eficiência podem impedir que as receitas cresçam no mesmo ritmo”, destacou o JPMorgan.
O banco lembra ainda que, nos anos 1990, empresas de telecomunicações chegaram a trocar rotas de fibra óptica entre si em diferentes regiões, numa espécie de “mapa de negócios circular”. O JPMorgan vê uma dinâmica semelhante no ecossistema de IA atual, marcado por uma teia de acordos entre gigantes como OpenAI e Nvidia.
“O medo dos investidores se instalou quando descobriram que as empresas de redes estavam vendendo a maior parte de seus estoques em transações sem dinheiro em espécie entre si. Essas trocas acabaram atingindo as companhias mais fracas do setor, levando a uma sequência de falências e, por fim, ao colapso da indústria”, lembraram os analistas sobre a crise das telecomunicações.
Apesar das semelhanças, o JPMorgan destaca diferenças relevantes entre o atual ciclo da inteligência artificial e a bolha das pontocom. Atualmente, os grandes provedores de infraestrutura, chamados hiperescaladores, geram um volume expressivo de fluxo de caixa livre, o que garante uma base financeira bem mais sólida do que a das empresas altamente endividadas dos anos 1990.
Mesmo assim, o banco avalia que o setor deve registrar vencedores e perdedores de grande porte, dada a enorme quantidade de capital envolvida e a dinâmica de “o vencedor leva tudo” que domina o ecossistema de IA.
As incertezas sobre o futuro da tecnologia cresceram nas últimas semanas, após uma forte onda de vendas na bolsa que atingiu as ações de empresas do setor. Os valuations elevados e os investimentos bilionários em IA, aliados à falta de clareza sobre a monetização dessas iniciativas, tornaram-se as principais preocupações dos investidores.