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Ibovespa: Os 5 motivos para entender por que a bolsa está subindo tanto

Principal índice da bolsa brasileira ultrapassou os 153 mil pontos pela primeira vez na história nesta quarta-feira, 5

Ibovespa: Eleven Financial projeta o Ibovespa em 175 mil pontos em 2026 (Germano Lüders/Exame)

Ibovespa: Eleven Financial projeta o Ibovespa em 175 mil pontos em 2026 (Germano Lüders/Exame)

Publicado em 5 de novembro de 2025 às 13h57.

Última atualização em 5 de novembro de 2025 às 14h39.

O Ibovespa alcançou nesta quarta-feira, 5, uma marca inédita ao ultrapassar os 153 mil pontos. Não é de hoje que o principal índice acionário da B3 alcança as máximas históricas: há cinco sessões consecutivas que ele renova recordes duplos, tanto intradiário como de fechamento. Em 2025, foram 22 fechamentos em recorde. Mas, afinal, por que a bolsa sobe tanto?

As estrategistas Cinthya Mizuguchi e Emy Shayo Cherman, do JPMorgan, citam o início do ciclo de afrouxamento monetário nos Estados Unidos, com expectativa de mais um corte de juros pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano) neste ano, como ponto de suporte para a continuidade da alta do Ibovespa.

A melhora no ambiente comercial entre Estados Unidos, China e Brasil, a desaceleração da inflação e a expectativa de corte de juros no Brasil no próximo ano também são fatores que colaboram para o rali da bolsa neste final de ano.

A XP também vê o que denominam como novo regime macroeconômico, com inflação em desaceleração e fim do ciclo de aperto monetário, como base para um movimento de valorização sustentado. A corretora acrescenta que a proximidade das eleições de 2026 tende a aumentar a volatilidade e o interesse dos investidores.

“A verdade é que, apesar dessa alta, ainda há espaço de valorização, especialmente se alguns gatilhos se confirmarem, como uma queda mais firme dos juros reais no Brasil e avanços na agenda fiscal”, afirma Fábio Murad, economista e CEO da Super-ETF Educação.

Nesta quarta-feira, junto com a bolsa, 14 papéis batem máxima histórica, sendo eles: Cemig, Copel, CPFL Energia, Cury, Cyrela, Direcional, Eletrobras (ações preferenciais e ordinárias), Energisa, Equatorial, Iguatemi, Isa Energia, Sabesp e Taesa, segundo a Elos Ayta Consultoria.

Por que o Ibovespa sobe tanto?

1. Queda de juros nos EUA

O corte de juros nos Estados Unidos é um dos principais motivos que impulsionam a bolsa brasileira. Na reunião do dia 17 de setembro, o Fed cortou as taxas em 0,25 ponto percentual (p.p.), movimento que se repetiu na reunião do dia 29 de outubro, levando os fed funds para a faixa entre 3,75% e 4%.

Apesar de uma postura mais cautelosa de Jerome Powel, presidente do Fed, a maioria das apostas são para uma nova redução no final do ano, com 62,5% esperando um corte de 0,25 p.p., segundo a plataforma FedWatch, do CME Group.

Juros mais baixos fazem o capital migrar dos Estados Unidos para outros países, beneficiando principalmente países emergentes, incluindo o Brasil. O EWZ, ETF que replica o desempenho do Ibovespa, sobe 38% no ano, enquanto o EZA, da Áfria do Sul, sobe 47% e o EWW, do México, sobe 40%.

Até setembro, o total de entradas líquidas de capital estrangeiro soma R$ 27,07 bilhões quando se incluem IPOs e follow-ons, e R$ 26,51 bilhões ao se considerar apenas o mercado secundário, segundo a Elos Ayta Consultoria.

2. Expectativa de corte na Selic

Mesmo com a Selic em 15% e a possível manutenção da taxa nessa quarta-feira, a expectativa de queda de juros no Brasil também favorece a bolsa, já que o mercado tende a precificar antes os movimentos.

As projeções apontam para um primeiro corte no começo de 2026, variando entre janeiro e março.

"Estamos diante das expectativas para o comunicado do Copom que pode trazer uma possível sinalização de corte pela frente, o que pode estar ajudando o bom humor interno", afirma avalia Matheus Amaral, especialista de renda variável do Inter.

3. Desaceleração da inflação no Brasil

Em relatório divulgado no final de outubro, as estrategistas da JP Morgan apontam que a alta da bolsa pode ser sustentada pela desaceleração da inflação.

Por seis semanas consecutivas, as instituições financeiras consultadas pelo Banco Central, no relatório Focus, reduziram a estimativa de inflação de 2025, para 4,55%. A previsão para a Selic é de uma redução do atual patamar, de 15%, para 12,5% até o final do próximo ano.

4. Aproximação entre Brasil e EUA

O alívio nas tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos também favorece a bolsa. No final de outubro, houve uma aproximação entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, em um encontro na Malásia. O movimento impulsiona a expectativa sobre uma possível queda das tarifas sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos.

5. Trégua entre EUA e China

Ainda no contexto geopolítico, a trégua entre Estados Unidos e China colabora para um maior apetite a risco. No dia 30 de outubro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, informou que reduzirá tarifas aplicadas à China após se reunir com o presidente Xi Jinping em Busan, na Coreia do Sul.

Esse foi o primeiro encontro entre os dois líderes desde 2019 e rendeu uma série de entendimentos bilaterais, abrangendo desde o comércio agrícola até o congelamento de ações estratégicas ligadas a minerais raros.

"Tive uma reunião realmente excelente com o presidente Xi da China. Há um enorme respeito entre nossos dois países e isso só será ampliado após o que acaba de acontecer", escreveu Trump na rede social Truth Social.

"O país asiático suspendeu a tarifa adicional de 25%, mantendo uma taxa de 10%. O governo Trump, por sua vez, reduziu de 20% para 10% as tarifas aplicadas a produtos chineses. Internamente, esses têm sido os principais drivers no Ibovespa hoje", diz Amaral.

Até onde o Ibovespa pode chegar?

O desempenho do Ibovespa também vem reacendendo uma velha expectativa entre investidores, a do famoso "rali de fim de ano". Tradicional nos mercados, o movimento de alta, que costuma encerrar o calendário com ganhos, ficou ausente em 2024, mas agora volta ao radar com a nova fase de otimismo na bolsa de valores.

O JP Morgan, em suas últimas projeções, via o índice chegar aos 155 mil pontos até dezembro. Para a Genial Investimentos, a projeção oficial da casa é de que o Ibovespa possa chegar aos 161.200 pontos este ano.

A perspectiva também é de otimismo na XP Investimentos. Em relatório divulgado nesta última segunda-feira, 3, a corretora não fez projeções sobre onde o Ibovespa pode parar até o fim deste ano, mas mirou um avanço para até 170 mil pontos em 2026.

A Eleven Financial projeta o Ibovespa em 175 mil pontos em 2026, podendo atingir 190 mil pontos no cenário mais otimista.

Entre os gestores, há quem veja chance do índice retrair antes de engatar este ano novas altas. Fernando Fontoura, sócio-fundador da Persevera Asset, avalia que boa parte do otimismo com o Brasil já está precificada e que o Ibovespa deve encerrar 2025 entre 135 mil e 140 mil pontos, refletindo uma fase mais conservadora.

Para 2026, porém, a gestora mantém forte viés positivo. Com o avanço do ciclo de corte de juros e a queda do dólar, Fontoura vê espaço para que o índice atinja entre 180 mil e 200 mil pontos, caso as incertezas evoluam de forma favorável.

"Falar de pontuação é sempre muito difícil, sempre muito desafiador, mas eu diria que são esses os patamares e temos um pouco dessa visão mais diferente, um pouco mais conservadora para o prazo mais curto, mas ainda bem otimista para o ano que vem", disse o gestor.

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