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Ibovespa sobe 31% no ano: o que a economia real ganha com isso?

Analistas dizem que efeitos são indiretos, mas acontecem, como a possibilidade de alta no emprego

Bolsa brasileira opera sob os efeitos do resultado do julgamento no Supremo Tribunal Federal (Germano Lüders/Exame)

Bolsa brasileira opera sob os efeitos do resultado do julgamento no Supremo Tribunal Federal (Germano Lüders/Exame)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 17 de novembro de 2025 às 06h21.

Quinze altas seguidas e 12 recordes de fechamento foi a marca que o Ibovespa alcançou neste mês de novembro. A última vez que o principal índice da B3 registrou essa sequência de máximas de fechamento foi em 1994, quando o Plano Real foi criado e a inflação baixou de 5.000% para dois dígitos.

O rali fez o Ibovespa ultrapassar os 158 mil pontos, uma nova máxima intraday na semana passada. E ainda que o índice tenha passado por algumas correções, acumula valorização de mais de 30% no ano.

Mas, como a alta do índice chega na economia real — e afeta o bolso da população?

Segundo analistas, o efeito existe, mas é indireto.

“O efeito não é imediato no bolso da população, mas cria um ciclo virtuoso: mercado mais confiante, empresas investindo mais e, com o tempo, mais emprego e renda circulando na economia”, afirma Sidney Lima analista da Ouro Preto Investimentos.

Claudia Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV). concorda: o efeito é indireto, mas existe.

Ibovespa: Os 5 motivos para entender por que a bolsa está subindo tanto

Mais empregos?

Empresas lucrando mais podem gerar um efeito em cadeia de mais empregos e melhores salários — mas com ressalvas.

“Quando a gente pensa em empresas lucrativas, elas de fato têm mais condições de investir em novos projetos, crescer a produção, contratar mais funcionários, aumentar salários, especialmente se tiver um momento de mercado muito aquecido e por questões de competitividade”, diz a especialista da FGV.

Entretanto, o efeito não é imediato e depende de cada setor, de juros, confiança, demanda e taxação.

“Quando o índice sobe de forma consistente, ele sinaliza uma redução no custo de capital próprio para as companhias: o maior valor de mercado das empresas implica menor risco percebido e, consequentemente, menores exigências de retorno por parte dos investidores”, pontua Solange Srour, diretora de Macroeconomia para o Brasil do UBS Global Wealth.

Segundo a executiva, isso favorece que empresas aumentem seus investimentos em expansão, inovação ou modernização, estimulando a produtividade e a geração de emprego. “Se o movimento seguir sustentado, temos um ambiente propício para que o crescimento do PIB se acelere e o emprego aumente. No entanto, essa dinâmica exige continuidade”, ressalta.

Ou seja, não basta um pico pontual: é necessário que os fluxos financeiros se mantenham, que haja estabilidade macroeconômica e previsibilidade em políticas fiscais e monetárias.

Real mais valorizado

Bolsa em alta também atrai o capital estrangeiro para o Brasil. “Isso ajuda a reduzir o custo de produtos importados, como combustíveis, eletrônicos e insumos industriais, aliviando parte das pressões inflacionárias. Uma moeda mais forte também dá mais previsibilidade aos empresários e melhora a confiança geral na economia”, diz Lima.

Até outubro, o total de entradas líquidas de capital estrangeiro soma R$ 25 bilhões, atingindo cerca de 58,3% do volume negociado em 2025. “Este fluxo estrangeiro, combinado com a fraqueza externa do dólar, pode ajudar a sustentar o real em patamares atuais — o que, por sua vez, favorece condições de financiamento mais benignas para o país e reduz pressões de inflação”, diz Srour.

Injeção no consumo

Para os investidores o efeito é mais claro: na hora de vender as ações, podem embolsar maiores lucros com a alta dos ativos. Isso pode aquecer a economia, já que a tendência é que eles consumam mais. “Pessoas com maior poder aquisitivo vão consumir mais e isso vai ter reflexo direto em serviços, indústria de bens duráveis, mercado mobiliário’, diz Yoshinaga.

De acordo com Lima, o ganho patrimonial e os dividendos reforçam o poder de compra de investidores e fundos, e parte desse dinheiro volta para o consumo, incluindo turismo. “O efeito é mais visível nas classes de maior renda, mas ainda assim gera impacto positivo sobre a atividade econômica, especialmente em momentos de confiança e estabilidade”, conclui.

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